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17/10/2025 - 11h14

O poder da consistência: cultura não nasce de frases em murais

A disciplina das pequenas entregas é a base da confiança, diz CFO da Hypofarma

 

 

Darcio Zarpellon*

 

 

Em tempos de mudanças rápidas e pressões constantes, muitos líderes acreditam que apenas grandes projetos ou decisões ousadas são capazes de transformar uma organização. No entanto, a realidade mostra que são as pequenas entregas, feitas com disciplina e consistência, que constroem as grandes transformações. Simon Sinek costuma dizer que tudo começa com o "porquê". O "porquê" das pequenas entregas é simples: elas são a base da confiança. Uma empresa não conquista reputação pela promessa do que fará, mas pela disciplina com que cumpre o que já se comprometeu a entregar. Uma ata de conselho bem feita, uma conciliação contábil precisa, um relatório de gestão entregue no prazo ou mesmo um simples "muito obrigado" dito a um cliente são detalhes que, somados no tempo, criam solidez, reputação e credibilidade.

 

O ciclo da disciplina começa no planejamento e na liderança. Não basta traçar objetivos ambiciosos, é preciso desdobrá-los em metas claras, mensuráveis e acompanhadas de perto. Sem disciplina, planejamento é apenas papel bonito; com disciplina, ele se torna estratégia em movimento. Isso se aplica também às operações. Uma linha de produção só ganha escala sustentável se cada etapa for respeitada com rigor, do controle de insumos à inspeção final. No comercial, acontece o mesmo: clientes percebem a diferença quando há consistência nos contatos, clareza nas propostas e agilidade no retorno. Produtos podem ser semelhantes, mas a disciplina no atendimento e no relacionamento é o que constrói a confiança.

 

Na área financeira, a disciplina das pequenas entregas é ainda mais evidente. Conciliações bem-feitas hoje evitam surpresas amanhã. O acompanhamento diário do caixa permite investir com segurança e se preparar para momentos de crise. A publicação tempestiva e transparente do balanço não é apenas uma obrigação legal, mas uma prática que reforça a governança e aumenta a confiança de investidores e parceiros. É na disciplina dos registros e na transparência das informações que se fundamenta a credibilidade de uma organização.

 

Essa disciplina também molda a cultura. Cultura não nasce de frases em murais ou slogans bem desenhados, mas da repetição de práticas simples que ganham consistência com o tempo. Uma reunião bem conduzida, um feedback feito na hora certa, uma escuta atenta e respeitosa ou um compromisso honrado são atitudes que, no dia a dia, mostram à equipe que a transformação é real. Em agendas de mudança, nada é mais poderoso do que a disciplina no detalhe: é ela que prova que o discurso está alinhado à prática.

 

No campo da governança, a disciplina funciona como elo de confiança entre conselho, executivos e operação. Conselheiros que recebem informações claras e tempestivas podem tomar decisões mais assertivas. Executivos que acompanham indicadores de perto corrigem desvios antes que se tornem problemas maiores. Equipes que praticam disciplina em seus controles reduzem riscos e aumentam a previsibilidade. E previsibilidade é um dos ativos mais valiosos em tempos de incerteza.

 

O impacto de tudo isso é direto: produtividade mais alta, desperdícios menores, reputação fortalecida, mais portas abertas para financiamentos e parcerias estratégicas. O segredo é entender que excelência não está em ações grandiosas feitas de vez em quando, mas na escolha de fazer bem o que está ao nosso alcance agora. São os próximos cinco minutos de foco, de escuta, de transparência e de responsabilidade que constroem organizações sólidas e transformações duradouras.

 

*Darcio Zarpellon é CFO da Hypofarma e possui mais de 30 anos de experiência como executivo de gestão e finanças

 

Foto: Divulgação