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10/10/2025 - 15h21

O que é workslop e como está relacionado à falta de humanização no uso da IA nos negócios

Conteúdos rasos com fachada de sofisticados geram desconfiança profissional, afirma especialista

 

Por Fernando Baldin*

 

 

Nos últimos anos, a inteligência artificial (IA) deixou de ser uma promessa distante para se tornar realidade cotidiana em praticamente todos os setores da economia. Relatórios, e-mails, apresentações, códigos de software, tudo pode ser gerado com alguns cliques. Mas será que esse avanço está realmente nos tornando mais produtivos, mais criativos e mais conectados?

 

Um estudo recente publicado pela Harvard Business Review, uma revista de negócios e gestão, traz uma reflexão incômoda: a ascensão do chamado workslop. O termo descreve trabalhos superficiais, gerados por IA, que aparentam ser sofisticados, mas carecem de substância. Eles chegam polidos, com aparência profissional, mas transferem a responsabilidade do esforço cognitivo para quem recebe. Em vez de acelerar processos, acabam por atrasá-los.

 

Os dados são preocupantes. Embora o uso de IA tenha dobrado desde 2023, 95% das empresas não percebem retorno mensurável de seus investimentos. Isso porque, na prática, parte considerável do que é produzido com IA se converte em sobrecarga. O tempo economizado pelo criador se transforma em horas de revisão, reescrita e frustração para o colega que recebe o material.

 

Mais grave ainda é o impacto humano. A pesquisa revela que o workslop corrói a confiança entre equipes. Colaboradores que recebem esse tipo de trabalho percebem seus colegas como menos criativos, menos competentes e até menos confiáveis. O efeito, portanto, não é apenas de produtividade, mas de clima organizacional.

 

Reflexão sobre a humanização em tempos de IA

O problema não é a tecnologia em si, mas como a utilizamos. Reduzir a inteligência artificial a uma “tela de chat” que responde comandos é perder de vista o verdadeiro potencial de transformação. O valor da IA não está em substituir o pensamento humano, mas em cocriar novas formas de trabalhar.

 

Humanizar a IA significa integrá-la de forma crítica, consciente e colaborativa. Significa adotar uma postura de piloto e não de passageiro. O piloto, como mostra o estudo, é aquele que usa a inteligência artificial para expandir sua criatividade, explorar alternativas, testar hipóteses e acelerar resultados com propósito. Já o passageiro, ao contrário, usa a IA para evitar o trabalho, delegando responsabilidade ao algoritmo e entregando um produto raso, que gera mais problemas do que soluções.

 

Estamos diante de uma encruzilhada. A tecnologia avança em ritmo acelerado, mas cabe a nós decidir se ela será combustível para inovação ou para alienação. Precisamos resgatar a dimensão humana no uso da IA, a empatia com o colega que receberá o material, a responsabilidade de entregar valor real, e a consciência de que colaboração não se faz com atalhos.

 

Em última instância, a IA deve ser nossa parceira de pensamento, não uma muleta. Quando usada com discernimento, ela tem o poder de libertar tempo para o que realmente importa, que é criar, inovar, se relacionar e liderar. Mas quando usada de forma indiscriminada, se transforma em ruído digital que mina produtividade e confiança.

 

Humanizar a IA é um convite à liderança consciente. É assumir que em tempos de algoritmos, o diferencial competitivo continua sendo genuinamente humano, com a capacidade de pensar criticamente, colaborar com empatia e transformar informação em impacto real.

 

*Fernando Baldin é country manager Latam da AutomationEdge

 

 

Foto: Divulgação