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19/11/2021 - 12h01

Racista, eu?

O racismo está nas grandes e pequenas coisas, afirma Maristella Iannuzzi neste artigo

 

 

 

Por Maristella Iannuzzi*

 

 

Você pode responder com toda sua sinceridade que não é uma pessoa racista? O questionamento é um soco no estômago, incomoda muito, mas precisa ser feito com frequência, para que possamos internalizar a questão do racismo e caminhar em direção de uma sociedade mais igualitária e justa. Precisamos ter consciência racial sempre!

 

E em novembro temos o Dia da Consciência Negra (20), data que marca a luta dos movimentos sociais contra o racismo, além da busca por respeito e igualdade à população negra brasileira, considerada a maior fora da África (segundo o IBGE, 56,10% da população brasileira se declara negra).

 

Mas o combate ao racismo deve ir além do dia 20 de novembro ou de um mês inteiro de ações que muitas vezes têm discursos bonitos, mas são vazias e não são colocadas em prática no dia a dia.

 

O racismo está nas grandes e pequenas coisas, em nosso cotidiano, em atitudes e falas que não devem ser consideradas como irrelevantes ou como uma brincadeira inofensiva. O racismo vem de séculos, sendo imprescindível conhecer os fatos de um lamentável capítulo da nossa história e que faz com que o Brasil seja ainda um dos países mais racistas do mundo.

 

NEGLIGÊNCIA HISTÓRIA

Mais de 15 milhões africanos foram forçados a deixar seus países para tornarem-se escravos – e destes 10,7 milhões sobreviveram às viagens para chegar aos seus novos destinos. No Brasil, foram mais de 300 anos de escravidão e o País foi o último da América Latina a acabar com o regime escravocrata, quando contava com quatro vezes o número de escravos dos Estados Unidos.

 

Na época em que a abolição da escravatura aconteceu, as pessoas negras não foram acolhidas adequadamente – os conhecidos “senhores de escravos” consideravam que não tinham nenhuma responsabilidade com as pessoas libertas e lavaram suas mãos). Também não puderam contar com políticas públicas de inclusão social, diante de uma nova realidade bem diferente daquela que conheciam até então, de servidão forçada e com muita violência. Pensamentos de que negros eram inferiores, menos inteligentes, violentos, agravavam ainda mais a integração deles.

 

A neutralidade da legislação em relação à população negra após a abolição também contribuiu de forma significativa para a criação do abismo racial que temos até hoje.

 

Naquela época, pessoas negras eram alvos preferenciais das forças policiais, seguindo leis que puniam brutalmente os negros que se tornaram pobres por acusações como vadiagem ou embriaguez. É estranho escrever “naquela época”, porque isso ainda é uma triste realidade, já que 78% das pessoas mortas pela polícia no Brasil em 2020 eram negras, segundo dados do Fórum Brasileiro da Segurança Pública.

 

O total despreparo e nenhuma força de vontade para incluir as pessoas negras à sociedade pós-abolição, com trabalho justo, educação, saúde e legislação que assegurassem seus direitos de cidadãos, carimbaram a desigualdade racial no Brasil, fazendo com que o racismo passasse a integrar nossas estruturas e fosse considerado, ao longo dos anos, como algo natural e aceitável.

 

REPRESENTATIVIDADE É A CHAVE

Mesmo sendo uma herança histórica do período da escravidão que, infelizmente, ainda está enraizada em nossa sociedade, precisamos lutar fortemente contra o racismo e dar cada vez mais voz e espaço às pessoas negras. E uma das formas para combater o racismo é trabalhar para aumentar a representatividade da população negra em diversas esferas da sociedade, como na política, nas universidades, em cargos de lideranças nas empresas, entre outros.

 

Vale lembrar que mesmo sendo mais da metade da população brasileira, as pessoas negras recebem menos do que as brancas em seus trabalhos; apenas 34% dos funcionários das maiores empresas brasileiras são negros e, o mais revoltante, somente 0,4% das mulheres negras ocupam cargos executivos nessas companhias. Vamos abolir o argumento da meritocracia, pois estamos falando de “oportunidades” iguais e sabemos que ainda são bem diferentes quando comparamos essas oportunidades reais para brancos e negros.

 

E PODEMOS SER ANTIRRACISTAS?

Podemos não, devemos! O racismo não deve ser encarado como algo natural e o silêncio não é aceitável! Você já se perguntou quantos negros fazem parte das suas relações pessoais e profissionais, por exemplo? Quantos deles são referências para sua vida e inspiram você? 

 

Precisamos colocar a mão na massa e ter atitudes cotidianas, grandes e pequenas, que possam transformar o que foi estabelecido ao longo de séculos. Podemos contribuir com a causa negra, por exemplo, participando de grupos que trabalham por uma sociedade mais igualitária e com mais equidade.

 

Além disso, questione o porquê de sua empresa não ter pessoas negras como líderes e com poder de decisão; não aceite falas pejorativas ou piadas racistas (aponte o erro, mostre a expressão correta e conscientize); posicione-se contra o racismo, não somente nas redes sociais para fazer bonito… tenha atitudes que façam a diferença e contribuam para o combate do crime de racismo. Sim, racismo é crime e deve ser combatido!

 

Há muito para fazer, temos a obrigação e podemos sim fazer muito mais, 365 dias do ano. Vamos conversar sobre como fazer mais. E conte comigo nesta importante jornada! #ChangeyourMindset

 

*Maristella Iannuzzi é fundadora da CMI Business Transformation

 

 

Foto de abertura: Angra Coimbra