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19/01/2024 - 11h35

Muitos líderes não estão preparados para acolher colaboradores com questões de saúde mental

Gestores podem estar demitindo por baixa performance pessoas que, na verdade, estão emocionalmente abaladas

 

 

 

No mês que marca a campanha global de conscientização sobre a importância da saúde mental, vale ressaltar dados que apontam as lacunas ainda existentes sobre o tema no mundo corporativo. Um deles foi trazido recentemente pela terceira edição do estudo Inteligência Emocional e Saúde Mental no Ambiente de Trabalho, realizado pela The School of Life, escola focada em inteligência emocional, em parceria com a empresa de recrutamento Robert Half. O estudo foi criado para mapear a influência da mente, das emoções, dos pensamentos e das atitudes das pessoas na rotina das organizações e dos negócios.

 

Com 774 profissionais entrevistados – metade composta de gestores e metade, de liderados –, o levantamento apontou que, para 61% dos 387 liderados entrevistados, os líderes das empresas em que trabalham não estão capacitados para acolher colaboradores que apresentam questões de saúde mental. O curioso é que 65% dos 387 gestores ouvidos têm a mesma percepção. Isso mostra a dimensão do espaço ainda existente para evoluir.

 

"Para acolher os colaboradores, os líderes não precisam ser psicólogos. Eles precisam estar capacitados para oferecer apoio psicológico, ou seja, escutar, fazer boas perguntas, dar feedbacks, valorizar o outro e estar disponível e presente, se dispondo a entender como as pessoas estão se sentindo. Isso, não apenas em momentos pontuais, como o Janeiro Branco ou o Setembro Amarelo, mas durante todo o ano", ressalta Diana Gabanyi, CEO da The School of Life Brasil.

 

Em outra pergunta da pesquisa, 37,19% dos líderes revelaram que a baixa performance do colaborador foi o principal motivo das últimas demissões nas empresas em que atuam. O ponto de atenção nesse cenário, porém, está no fato que 45% dos liderados admitiram que já deixaram de produzir ou se manter engajados no trabalho por estarem emocionalmente abalados.

 

"O filósofo Friedrich Nietzsche costumava dizer que 'quando estamos cansados, somos atacados por ideias que já havíamos vencido há muito tempo'. É uma frase que ilustra muito bem uma realidade: nem sempre a falta de engajamento ou de produtividade tem relação direta com a competência do colaborador. Às vezes, ele está apenas com alguma questão mental ou emocional momentânea que não está permitindo que ele desempenhe suas funções no melhor nível", completa Diana.

 

Segundo Maria Sartori, diretora associada da Robert Half, a gestão da força de trabalho precisa ser encarada de forma estratégica. "É necessário entender as razões que levam à baixa produtividade, pois as empresas correm o risco de perder talentos por falta de apoio e cuidado. Além da possibilidade de minar futuros sucessos, demissões precipitadas podem ser especialmente desafiadoras em um cenário no qual a taxa de desemprego entre os profissionais qualificados gira em torno de 3,5%. Isto é, os grandes talentos do mercado não estão tão disponíveis", alerta.

 

A CEO da The School of Life faz outro alerta: "Para cuidar adequadamente da equipe, é fundamental que o gestor seja adepto do autocuidado, dentro daquele conceito de colocar a máscara de oxigênio primeiro em si mesmo antes de colocá-la no outro. Mas a pesquisa mostra que 37,38% dos líderes estão sem tempo para cuidar da própria saúde e do próprio bem-estar e as empresas acabam nos procurando quando já estão com muitos casos de burnout".

 

 

Foto: Freepik/Drazen Zigic