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06/10/2022 - 12h13

Mais da metade de líderes e liderados diz trabalhar com alguém emocionalmente desafiador

De acordo com estudo, apenas 6% dos gestores acham que precisam desenvolver sua habilidade de apoio

 

 

Em agosto, a escola de inteligência emocional The School of Life e a consultoria de recrutamento especializado Robert Half realizaram um estudo com 620 líderes e 180 profissionais que não exercem cargo de liderança para mapear questões relacionadas à inteligência emocional e saúde mental no ambiente de trabalho. Os resultados trouxeram números importantes tanto para a formação de líderes quanto para a gestão de equipes.

 

 

Profissionais pedem demissão de pessoas

O estudo registrou parcelas expressivas de líderes (67%) e liderados (57%) que afirmaram trabalhar com uma pessoa emocionalmente desafiadora, seja com perfil manipulador, humor instável ou algum nível de agressividade. Nesse cenário, 45% dos líderes e 44% dos liderados já pediram demissão devido ao mau relacionamento com um líder direto ou pares de trabalho.

 

"É muito claro nas minhas conversas com os RHs das empresas o quanto os profissionais desaprenderam a conviver uns com os outros, a lidar com problemas e com pessoas difíceis ou apenas com opiniões e visões diferentes. Uma grande parte está trabalhando sem paciência e sem as habilidades de inteligência emocional. Em alguns casos, tem sido preciso uma boa dose de ressocialização", conta Diana Gabanyi, CEO da The School of Life Brasil e head da área de Experiências Corporativas.

 

"Não há dúvidas de que presenciaremos profissionais cada vez mais protagonistas de suas próprias carreiras, especialmente aqueles qualificados que entendem a sua posição de destaque no mercado. Na esteira da pandemia, convicções mudaram e as pessoas se enxergaram em processos de ressignificação de prioridades, de vida e de carreira", reflete Maria Sartori, diretora associada da Robert Half. "Hoje, elas buscam por um trabalho que esteja alinhado aos valores, que garanta bem-estar e proporcione uma experiência saudável. Promover um ambiente confortável, onde o profissional sinta que a sua saúde mental é respeitada pode ser o fator que permitirá a retenção de talentos-chave", completa a profissional.

 

 

Burnout

Também de acordo com o levantamento, 6% dos líderes e 3% dos liderados foram diagnosticados com burnout entre janeiro de 2020 e julho de 2022, número aparentemente baixo, mas que pode ser reflexo de medo ou desconhecimento de quem é acometido por algum sintoma. Entre os que não foram diagnosticados, 19% dos liderados e 18% dos gestores souberam de algum colega de trabalho que tiveram burnout.

 

O estudo ainda mostra que as principais iniciativas adotadas pelas empresas para prevenir ou tratar a síndrome são: estímulo ao cumprimento do expediente com respeito à pausa para almoço e desconexão (férias, finais de semana e término da jornada diária); oferta da possibilidade de consulta com um profissional da saúde mental quando necessário; e promoção de ações de conscientização sobre as causas, o diagnóstico, a prevenção e o tratamento da síndrome.

 

Mas 34% dos liderados e 36% dos líderes afirmaram que nas companhias em que atuam não há iniciativas relacionadas ao burnout. Vale destacar que, entre julho de 2021 e julho de 2022, 19% dos liderados mudaram de emprego ou simplesmente pediram demissão buscando uma melhora da qualidade de vida ou do bem-estar mental e emocional.

 

"Burnout não é uma questão do indivíduo. É uma doença institucional. O tratamento envolve um esforço contínuo de melhorar o ambiente de trabalho, ter atenção com a saúde mental, alinhar valores, oferecer suporte, trabalhar as relações dentro da empresa e fazer um esforço para que os líderes não sejam apenas tecnicamente bons em suas áreas, mas tenham habilidades humanas para gerir um time com saúde. Não basta medicar a pessoa doente", ressalta Guilherme Spadini, psiquiatra e head de Terapias na The School of Life Brasil.

 

 

Acolhimento necessário

Embora 76% dos liderados tenham citado o salário como primeiro dos três fatores que consideram mais importante no trabalho, o ambiente corporativo que apoia e acolhe aparece com bastante destaque, sendo citado como o principal para 70% dos líderes e o segundo colocado para 66% dos liderados. "Muitas organizações estão passando por verdadeiras transformações internas, com troca de equipes, ajustes de cultura e identificação de gaps na integração de times. Tudo enquanto decidem qual é o modelo de trabalho mais viável para o negócio e as pessoas que dele fazem parte. Esse cenário tende a gerar uma série de sentimentos e inseguranças na equipe, o que justifica o investimento não apenas em benefícios, mas em ações que contribuam para a melhora do clima organizacional, com boas conversas, vulnerabilidade e um acolhimento real", considera Diana.

 

 

Desafios da equipe no dia a dia

Quando questionados sobre quais têm sido as maiores dificuldades das próprias equipes no dia a dia do trabalho, os líderes destacaram a comunicação, seguida do autogerenciamento. Porém, quando os liderados foram questionados sobre as próprias dificuldades no período de expediente, o mapeamento mostra que eles estão carecendo prioritariamente de motivação, que psicologicamente tem muita relação com o propósito, com a pessoa entender e se conectar com a razão de fazer o que faz, de deixar algo ou alguém melhor do que quando encontrou. Na sequência, aparece a conexão com os colegas ou com a empresa.

 

"Com a consolidação dos diferentes modelos de trabalho, muitos gestores sentiram o desafio permanente de gerir equipes de forma remota ou híbrida, conciliando o fato de nem sempre poder contar com todos os membros do time juntos no mesmo local. Evidentemente, liderar e motivar uma equipe que não tem tanto contato pessoal é uma tarefa complexa", comenta Maria, da Robert Half. Investir em uma comunicação assertiva e na experiência do colaborador são dois pontos fundamentais, afirma ela. Para exemplificar, se integrantes da equipe têm horários diferentes e trabalham em lugares distintos, é preciso garantir que a informação chegue de maneira simples e frequente. Caso contrário, corre-se o risco de contar com uma equipe desalinhada e improdutiva. Além disso, trabalhar a experiência do colaborador tem impacto direto na produtividade e no nível de engajamento das equipes", complementa.

 

 

As empresas estão preocupadas

Na percepção de 34% dos liderados e 41% dos líderes, as empresas em que atuam estão mais preocupadas com o bem-estar emocional e a saúde mental do colaborador. Para 16% dos liderados e 12% dos líderes, porém, a sensação é de que a empresa simplesmente não se preocupa com o tema. Há, ainda, uma parcela – 7% dos liderados e 6% dos líderes – que acredita que a preocupação diminuiu. Vale destacar que 8% dos líderes e 12% dos liderados sentem que não têm liberdade para expor seus sentimentos e suas emoções no ambiente corporativo.

 

"Após períodos adversos, as pessoas tendem a redefinir o que de fato é importante em suas vidas. Quando olhamos para o mercado de trabalho, um dos principais exemplos é a valorização dos programas de bem-estar emocional. Hoje, os profissionais buscam empresas conscientes, responsáveis e que efetivamente valorizem sua força de trabalho. Garantir esse apoio em um contexto de disputa por talentos resulta em uma importante ferramenta de atração e retenção de profissionais", explica a executiva da Robert Half.

 

 

Foto: Freepik/Mega-studio