
19/08/2025 - 12h38
Os erros mais comuns ao dar feedback para funcionários remotos
Especialista dá dicas de como evitar desmotivação e improdutividade, comuns na falta de conversas
Com 83% dos empregadores relatando que a adoção do trabalho remoto foi bem-sucedida e 90% dos colaboradores a distância afirmando ser tão ou mais produtivos do que no escritório (dados da HR Stacks), a gestão de profissionais que estão trabalhando remotamente se consolidou como um importante ponto de atenção no mundo corporativo. Entre esses desafios, um dos mais críticos é a forma como os líderes dão feedbacks. Quando esse retorno não acontece ou é mal conduzido, o impacto é direto: desmotivação, queda na satisfação, perda de produtividade, aumento de mal-entendidos e erros operacionais.
Para Sylvestre Mergulhão, CEO da people tech Impulso, manter um ciclo consistente de feedbacks é essencial nesse formato. "No trabalho remoto, não tem aquele cafezinho ou corredor para corrigir a rota sem marcar reunião. Se o líder não cria um fluxo constante de feedback, o que vemos são pessoas entregando no escuro. Isso vira um desânimo silencioso. O colaborador precisa saber o que o trabalho dele muda na empresa, e sentir que alguém se importa de verdade com o crescimento dele. Isso não é discurso de engajamento, é sobrevivência para manter a performance."
Uma pesquisa da McKinsey detectou que empresas que adotam práticas eficazes de feedback remoto alcançam 25% mais engajamento da equipe, registram 30% menos turnover e ainda experimentam um aumento de 20% na produtividade individual. Esses indicadores reforçam que o feedback não deve ser tratado como um momento isolado, mas como parte de uma estratégia contínua de gestão e desenvolvimento.
No contexto do trabalho remoto, ele se torna ainda mais relevante, pois ajuda a manter os colaboradores alinhados aos objetivos, engajados e conectados à cultura organizacional — mesmo a quilômetros de distância.
"Quando o feedback é direto, respeita o contexto e aponta caminhos, deixa de ser só avaliação. Vira conversa que constrói confiança. É ali que líder e colaborador acertam expectativas, ajustam a rota e mantêm o vínculo vivo, o que no trabalho remoto é questão de sobrevivência", afirma Sylvestre.
ERROS MAIS CRÍTICOS
O especialista identificou sete erros recorrentes que podem comprometer a eficácia da comunicação e o desenvolvimento profissional das equipes a distância:
1. Esperar tempo demais para dar o feedback
No ambiente remoto, a falta de contato visual diário faz com que gestores adiem conversas importantes. O erro está em acumular várias questões para uma única conversa trimestral ou semestral.
Como evitar: Implemente feedback contínuo por meio de check-ins semanais ou mensais de 15-20 minutos. Use ferramentas de gestão que permitam anotações em tempo real sobre o desempenho da equipe.
2. Usar apenas mensagens de texto
E-mails ou mensagens instantâneas não transmitem nuances emocionais, podendo gerar mal-entendidos e ansiedade desnecessária.
Como evitar: Priorize videochamadas ou conversas ao vivo para momentos importantes de feedback, já que a comunicação não verbal, como expressões faciais e tom de voz, é essencial para garantir que a mensagem seja compreendida de forma clara e empática.
3. Não contextualizar o ambiente remoto
Aplicar os mesmos critérios de avaliação do escritório físico ignora as particularidades do trabalho à distância, como interrupções domésticas ou limitações tecnológicas.
Como evitar: Desenvolva métricas específicas para o trabalho remoto, focando em resultados e entregas ao invés de horários rígidos de presença online, por exemplo.
4. Ignorar as diferenças de fuso horário e rotina
Agendar feedback em horários inadequados ou não considerar a flexibilidade horária pode prejudicar a recepção da mensagem.
Como evitar: Mapeie os horários ideais de cada colaborador e respeite os limites entre vida pessoal e profissional, especialmente em equipes globais.
5. Focar apenas nos pontos negativos
A ausência de interações casuais do escritório faz com que o feedback negativo tenha impacto amplificado no moral da equipe remota.
Como evitar: Aplique a regra "2:1" — para cada ponto de melhoria, destaque duas conquistas ou pontos fortes. Inicie sempre com reconhecimento.
6. Não criar um ambiente psicologicamente seguro
Colaboradores remotos podem se sentir mais isolados e vulneráveis, tornando crucial estabelecer confiança antes de críticas construtivas.
Como evitar: Invista tempo em relacionamento pessoal. Dedique os primeiros minutos de cada reunião para conversa informal e demonstre interesse genuíno pelo bem-estar da pessoa.
7. Esquecer do acompanhamento pós-feedback
No trabalho remoto, a falta de supervisão natural do escritório torna essencial o follow-up estruturado das ações acordadas.
Como evitar: Estabeleça cronogramas claros com marcos de acompanhamento. Use ferramentas colaborativas para monitorar progresso e oferecer suporte contínuo.
"Feedback não é reunião de calendário. Funciona quando faz parte de um acompanhamento constante. No remoto, o que separa times que entregam de forma consistente é ter um líder que conversa de verdade e com frequência. Que deixa claro onde quer chegar e percebe quando o time muda de humor, perde gás ou começa a cair de desempenho", afirma Sylvestre.
Como implementar feedbacks na prática
Para organizações que desejam aprimorar suas práticas de feedback remoto, o caminho começa com o treinamento específico de líderes em comunicação virtual, seguido da implementação de ferramentas de feedback 360 graus adaptadas para equipes remotas. A criação de protocolos claros para diferentes tipos de feedback e o estabelecimento de métricas de acompanhamento da satisfação da equipe completam o processo de transformação.
Mais do que uma prática de gestão, o feedback no trabalho remoto é estratégico para a saúde organizacional e a retenção de talentos. Em um cenário em que a distância física pode rapidamente se transformar em distância emocional, empresas que compreendem essa dinâmica e investem em processos estruturados, líderes preparados e tecnologias adequadas constroem times mais engajados, leais e preparados para inovar. No futuro do trabalho, diz Sylvestre, não sobreviverão as organizações que apenas "acompanham resultados", mas sim aquelas que conseguem nutrir relações humanas fortes, mesmo que mediadas por telas.
Foto: Shutterstock