
21/08/2025 - 17h42
O desafio de liderar: Da visão à realidade
Líder empreendedor, CEO do Fretadão fala de sua jornada e dos aprendizados sobre gente e cultura
Por Antonio Carlos Gonçalves*
Empreender é uma jornada de altos e baixos, de noites sem dormir e de vitórias emocionantes. No entanto, em meio a toda essa adrenalina, existe um desafio que me acompanhou desde o início da minha trajetória e que, ainda hoje, considero um dos pilares mais importantes de qualquer negócio: a formação de uma equipe e a estruturação de uma cultura forte.
Muitas vezes, quando se pensa em liderança, a imagem que vem à mente é a do gestor que já tem uma empresa consolidada, com processos definidos e talentos à disposição. Mas a realidade do fundador é bem diferente. No começo, o líder é a pessoa que faz de tudo um pouco, que vende, que atende, que programa, que limpa. E, em meio a essa rotina intensa, a primeira e mais importante decisão é: quem vai me acompanhar nessa loucura?
Em um cenário de recursos limitados, cada contratação é um investimento de tempo, dinheiro e, principalmente, de confiança. Não há espaço para erros. O primeiro desafio é resistir à tentação de contratar por conveniência, ou seja, buscar apenas as pessoas que estão mais próximas, ou as que têm as competências mais óbvias. Sempre acreditei que a contratação deve ser estratégica e alinhada com a cultura que queremos construir.
No início, a busca não era apenas por currículos impressionantes, mas por pessoas que compartilhassem da mesma paixão, da mesma resiliência e do mesmo brilho nos olhos para resolver um problema complexo. Lembro-me de passar horas em entrevistas, não apenas para avaliar as habilidades técnicas, mas para entender a história de vida de cada candidato, suas motivações, seus sonhos.
Afinal, a startup é um organismo vivo, e a energia e o comprometimento dos primeiros colaboradores são o oxigênio que a mantém viva. A minha experiência me ensinou que, no começo, é mais fácil ensinar um profissional a usar uma nova tecnologia do que moldar sua paixão e ética de trabalho. A atitude é a base de tudo.
Depois de encontrar os primeiros talentos, o próximo grande desafio é estruturar o negócio do zero. O líder empreendedor não tem um manual de instruções. É preciso criar os processos, definir as responsabilidades e, acima de tudo, ser o arquiteto da cultura da empresa.
A cultura não é um quadro na parede com valores bonitos. A cultura é a forma como a equipe se comunica, como celebra as vitórias, como lida com os fracassos. A cultura é a forma como um novo membro é acolhido e a forma como a liderança toma decisões.
Decidi, desde o começo, construir uma cultura baseada em transparência e autonomia. Eu sempre busquei ser o exemplo, compartilhando os desafios e os sucessos da empresa, por menores que fossem. E, mais importante, sempre dei autonomia para que cada membro do time pudesse tomar decisões e se sentir dono do seu trabalho.
Isso não significa ausência de liderança, mas sim a construção de uma liderança compartilhada, onde o líder não é o único detentor do conhecimento, mas sim o maestro que orquestra a sinfonia. Eu não tenho todas as respostas, e é por isso que confio em um time que tem a liberdade e o conhecimento para me ajudar a encontrá-las.
A jornada de liderar uma empresa do zero é um constante aprendizado. As lições são muitas, mas a mais valiosa é que a liderança verdadeira não está no comando, mas na capacidade de inspirar e capacitar outras pessoas a serem melhores.
O maior legado de um fundador não são os números impressionantes ou as aquisições, mas sim a equipe que ele formou, a cultura que ele construiu e a visão que ele conseguiu transformar em realidade. E, para mim, a maior recompensa é ver a equipe crescendo, se desenvolvendo e, acima de tudo, compartilhando a mesma paixão por transformar um setor e resolver problemas complexos.
*Antonio Carlos Gonçalves é CEO e cofundador do Fretadão
Foto: Divulgação/Fretadão