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15/07/2025 - 18h38

O poder silencioso da confiança

Mariana Costábile, CHRO da Espaçolaser frisa: a cultura começa quando o discurso encontra a prática

 

 

 

Por Mariana Costábile*

 

 

Confiança é uma daquelas palavras que parecem simples, quase batidas. Está em frases de efeito, postagens motivacionais e discursos corporativos. Mas, na prática, ela exige muito mais do que boas intenções. Construir confiança de verdade no cotidiano é um trabalho constante, invisível e profundamente humano. E, na minha experiência, é também a base sobre a qual se constrói uma cultura forte, coerente e duradoura dentro de uma empresa.

 

Ao longo da minha trajetória liderando times e enfrentando os desafios que acompanham o crescimento de uma companhia com mais de 4.500 colaboradores, como é a Espaçolaser, percebi que não existe atalho: confiança se constrói com comportamento, não com discursos. Ou como costumo dizer ao meu time: as pessoas acreditam naquilo que você faz, não apenas no que você diz.

 

Por isso, antes de tudo, é fundamental entendermos que confiança se constrói na prática, e começa por quem lidera. Recentemente, durante uma conversa com colegas, me perguntaram como consegui estabelecer um nível de confiança tão sólido com minha equipe. A resposta pode parecer simples, mas envolve dedicação constante: é a soma de pequenos gestos que confirmam, dia após dia, que aquilo que você promete, você entrega.

 

Isso inclui ser transparente mesmo quando não é possível dizer tudo. Já ouvi muitas vezes dos meus liderados frases como: “Se você não puder me dar todos os detalhes desta decisão agora, tudo bem, eu confio que no momento certo vou entender.” Esse tipo de postura não surge por acaso. Ela nasce da consistência. Quando um líder comunica um direcionamento, ainda que parcial, e assume o compromisso de esclarecer depois, ele precisa cumprir essa promessa. Caso contrário, perde-se não só a credibilidade, mas a segurança do time em se abrir e se engajar.

 

Outro pilar dessa construção é o não julgamento. Já vivi situações delicadas em que membros do meu time erraram e me procuraram com angústia e culpa. Em uma dessas vezes, uma colaboradora me ligou tarde da noite, aflita com um problema sério que havia ocorrido. Ela estava se culpando profundamente. Minha reação foi: “se você já está se crucificando, tudo o que eu não preciso fazer é te crucificar novamente”. E seguimos focadas na solução. Outro episódio envolveu um e-mail com informações sigilosas enviado à pessoa errada. A colaboradora me mandou um áudio desesperada. Em vez de reforçar a gravidade do erro, orientei o que ela precisava fazer para resolver, e confiei nela. Ao final, ela tomou atitudes até mais rigorosas do que eu teria exigido. Porque quando há confiança, as pessoas respondem com responsabilidade.

 

É por isso que sempre digo que a cultura se molda a partir do exemplo. Confiança não nasce de organogramas ou manuais de conduta. Ela nasce de comportamentos diários: acatar contribuições mesmo que não sejam exatamente o que faríamos, dar abertura a feedbacks, mostrar coerência entre intenção e ação.

 

Uma vez, falando com o time sobre a necessidade de reestruturar a atuação do RH, fui honesta: ainda não tenho todas as respostas, mas precisamos pensar diferente. E comecei a envolvê-los nesse movimento. Compartilhar as incertezas, quando feito com responsabilidade, é mais um sinal de que se confia no outro e espera dele mais do que execução: espera contribuição genuína. E, quando essa contribuição chega, precisamos estar prontos para absorver e acolher essas ideias.

 

Por fim, reforço que a confiança não deve ser usada como tática. Ela é uma escolha de cultura. E cultura, como sabemos, é aquilo que acontece quando ninguém está olhando. Se os líderes praticam o walk the talk, ou seja, fazem o que dizem, a confiança se espalha como algo orgânico. Caso contrário, ela se torna um conceito bonito, mas vazio.

 

Finalizo com um texto que compartilho frequentemente com o meu time e que, para mim, resume muito do que acredito: as Três Peneiras, de Sócrates. Antes de falar qualquer coisa, pergunte-se: é verdade? É bom? É útil? Essa reflexão simples, mas profunda, nos ajuda a cultivar relações mais conscientes na vida pessoal e no trabalho. Confiança é isso: uma construção paciente, baseada em verdade, coerência e humanidade. E ela começa por quem lidera.

 

*Mariana Costábile é CHRO da Espaçolaser

 

 

Foto: Divulgação