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06/12/2024 - 07h17

Quais narrativas não servem mais para você?

Narrativas limitantes podem impedir o crescimento profissional e da própria empresa, diz Mariana Adensohn

 

Por Mariana Adensohn*

 

 

Sempre me pego pensando no fato de que somos feitos de histórias. Desde a infância, ouvimos e assimilamos narrativas que moldam nossa visão e relação com o mundo, e isso não é diferente na vida corporativa. Quantas histórias incorporamos sobre o funcionamento das empresas, a maneira como o sucesso é alcançado e a forma como alguém precisa ser para se encaixar nesse sistema! Algumas dessas narrativas nos deixam fortes, empoderados, mas, muitas vezes, também nos aprisionam, limitando o nosso potencial e sufocando a nossa autenticidade.

 

Além do que, ouvimos e repetimos para nós mesmos histórias que influenciam profundamente nossas emoções, ações e resultados. Em uma empresa, essas narrativas podem ser a diferença entre atingir nosso potencial máximo ou nos manter presos a limitações autoimpostas.

 

Você já refletiu sobre quais dessas histórias ainda fazem sentido para você? Quais deixaram de servir?

 

Desafiar as narrativas vigentes pode ser desconfortável. Eu ouso dizer que é um ato de autoconhecimento e coragem. Quando você questiona o que não serve mais e constrói histórias que refletem seu verdadeiro eu, abre as portas para um mundo de possibilidades.

 

Empresas são ambientes de constantes transformações e nossas histórias precisam acompanhar esse ritmo. Permita-se questionar o que já não serve mais e construa narrativas que reflitam quem você é, quem deseja se tornar e que inspirem mudanças positivas ao seu redor através da influência. Afinal, você não é apenas um personagem em uma história escrita por outros — você é o autor.

 

Como profissional de RH, tenho constantemente trocado com pares e colegas da área sobre como a mudança de narrativa tem influência positiva para que movimentos aconteçam e impactem diretamente os resultados das organizações.

 

As narrativas têm o poder de moldar percepções, crenças e atitudes. Uma liderança que conscientemente utiliza narrativas positivas e inspiradoras atua como catalisadora para engajamento emocional, o que é essencial para times de alta performance, que frequentemente operam sob pressão e com altos níveis de responsabilidade – isso molda diretamente a cultura, a motivação e os resultados.

 

Então, como identificamos e reescrevemos nossas narrativas?

 

Você já prestou atenção em seus pensamentos automáticos? Muitas narrativas limitantes aparecem em momentos de desafios ou dúvidas, como, por exemplo: “não sou bom o suficiente”, “nunca vou conseguir isso aqui” ou “preciso trabalhar mais para provar meu valor”. Pode ser que não estejam diretamente ligadas a você, mas ao ambiente, que muitas vezes está limitado a algumas crenças: “aqui sempre foi assim” – essa é famosa –, “acho difícil isso mudar” e tantas outras. Um ponto que está completamente conectado a prestar atenção nos pensamentos automáticos é questionar a origem das coisas: de onde veio essa crença? Ela é realmente minha, é algo implícito ao ambiente ou aprendi com alguém? Ainda faz sentido na minha vida?

 

Algo que tenho exercitado, e estimulado as pessoas a fazerem, é encontrar evidências contrárias sobre narrativas limitantes. Por exemplo, se você acredita que precisa fazer algo sozinho para chegar em “tal” resultado, lembre-se (mas pare um tempo para fazer isso, escreva) de projetos bem-sucedidos em equipe.

 

É difícil. Não é simples mudar narrativas, é como criar um hábito. É preciso repetir inúmeras vezes até que a nova vire automática.

 

Durante anos acreditei que eu precisava ser perfeita ou que meus resultados precisariam ser perfeitos para mostrar meu valor (independentemente de onde eu estava, em casa ou no trabalho). Ao quebrar essas crenças, que vieram nas narrativas dos meus pais, amigos e líderes, passei a entender o valor dos meus esforços e os impactos que eu gero quando me proponho a fazer algo, e não mais se vai ser perfeito, até porque existem coisas que eu não controlo.

 

Obviamente, é sempre importante antecipar-se a “crises”, mas pode ser que às vezes não dê e isso também faz parte do processo. Eu já identifiquei momentos em que um erro meu resultou em aprendizado, recalculei a minha rota para aprender a focar no impacto positivo que isso causou, mesmo em situações imperfeitas. Não é fácil, exige um exercício constante, mas tem me ajudado muito. Depois da maternidade, então… acho que recriei todas as minhas narrativas que impactaram profundamente a minha forma de enxergar e conduzir a vida e muito se refletiu na vida executiva.

 

Não mudar narrativas limitantes pode se tornar profecia autorrealizável para você e seu time. Isso o impedirá de se candidatar a oportunidades desafiadoras, o fará não se esforçar o suficiente e a interpretar feedbacks como confirmações da sua inadequação, entre outros impactos. Isso faz as pessoas a se restringirem a tarefas confortáveis, prejudicando seu crescimento e o da empresa, deixando de explorar o seu potencial máximo.

 

Elas, as narrativas, determinam como lidamos com o fracasso, influenciam o nosso estilo de comunicação, afetam as relações com o tempo e o esforço e moldam a autoimagem (a falta de confiança interfere na tomada de decisão e na capacidade de assumir desafios).

 

Quando você transforma suas histórias, a sua performance e a performance do seu time também se transformam. Ao substituir crenças limitantes por narrativas que promovam confiança, resiliência e crescimento, você assume desafios com mais coragem, se adapta melhor a mudanças, contribui de forma mais significativa em seu ambiente de trabalho.

 

Narrativas não são verdades absolutas, são apenas lentes pelas quais enxergamos o mundo. Ao mudar a lente você muda tudo.

 

Os líderes de RH possuem um papel crucial na condução da mudança de narrativa da liderança, são o motor da evolução, porque conectam as práticas de gestão de pessoas com a cultura organizacional e os objetivos estratégicos. É preciso cocriar as narrativas corporativas, diagnosticar o que gera impacto limitador, modelar comportamentos de forma positiva e equipar os líderes com ferramentas para transformar narrativas e promover alta performance. Liderar não é apenas sobre metas e resultados, mas sobre a construção de histórias que inspirem confiança, empatia e ação. Quando a narrativa do líder fortalece o time, o impacto vai além da performance individual – transforma a organização.

 

E, então, quais narrativas não servem mais para você?

 

 

*Mariana Adensohn é CHRO da Loja do Mecânico

 

 

Foto: Arquivo pessoal