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16/03/2017 - 10h00

Cinco estratégias para sobreviver mais de cinco anos no mercado

Por João Gabriel Chebante*

 

Falar que empreender no país é um grande desafio já virou clichê. Mas é preciso admitir que completar cinco anos com um negócio é um feito para poucos - 80% das empresas brasileiras não sobrevivem a este período, segundo o SEBRAE. Há uma série de fatores para isso, mas os principais recorrem a falta de planejamento, compreensão do mercado/segmento, recursos ou mesmo organização entre sócios.

 

Trata-se de um funil muito estreito para uma economia de grande porte como a brasileira. Mas como chegar até lá? E o que vem depois? Só para constar, pesquisa da mesma entidade aponta que somente 1% das empresas ultrapassam a barreira dos 15 anos de existência.

 

Após meia década apoiando mais de 20 organizações e desenvolvendo com erros e acertos o meu negócio, dá para inferir alguns pontos que são cruciais para a sobrevivência, não somente para chegar até o sexto ano, mas para constituir um negócio sólido - e aqui nem estou falando de sucesso, liderança de mercado ou top of mind. A questão é estar vivo e gerar receita que garanta sua sobrevivência mesmo. O sucesso aqui seria conseqüência de uma boa organização destas ideias:

 

1) Tenha uma boa gestão de caixa: Ainda que não seja o fator principal de morte de uma empresa, um negócio mal-gerido financeiramente mata todas as perspectivas de planejamento dos seus líderes, além de desmotivá-los, bem como sua equipe. O raro é encontrar, entre empresas de pequeno e até médio porte, uma organização clara das suas finanças. Faça e terá o passo primário para a sobrevivência da sua organização.

 

2) Tenha uma marca bem estruturada: Ao estudar e estruturar negócios ao longo de cinco anos, percebe-se que os projetos que não pensam no desenvolvimento de uma proposta de valor consistente, que se recusam a ter um DNA de marca claro (missão, visão, valores e propósito) estão mais propensos a falhar. Se você não tem uma identidade para defender, você não tem estratégia: está vivendo só de táticas. E alguma hora o teu negócio precisa gerar uma marca ao mercado. Além disso, jamais subestime o valor da comunicação com o público: ser criativo e estar sempre presente é obrigatório em tempos de torrente de informações. Faça publicidade, sempre.

 

3) Procure um sistema de vendas sólido e escalável: Vender é a base de toda empresa. Mas o trunfo que fará a sua empresa escalar e tornar-se sólida é ter um segmento de atuação, ou um nicho, aonde ela possa ser a referência. Seja um restaurante pautado em gastronomia grega, um pet-shop para uma raça específica ou mesmo o posto de conveniência #1 de um bairro tradicional, o grande trunfo é ter um canal de vendas que gere recorrência, que seja a referência para um público cuja receita sustente a operação.

 

4) Transparência e reconhecimento de pessoas: No desenvolvimento de uma organização, há quem prefira contratar pessoas com pouca ou nenhuma experiência, por ser mais barato, e gerar o aprendizado durante a jornada. Além de uma miopia notória na construção da sua marca, este racional invariavelmente trará problemas na sua entrega de produto/serviço ao público, gerando uma impressão negativa e perda de receitas a longo prazo. Neste quesito, percebe-se que as empresas mais sólidas são aquelas que desenvolvem pessoas sim, mas de forma transparente e pagando o que é justo pelo seus talentos.

 

5) Seja enxuto. E esteja pronto para pular de barco: Um erro comum de quem não falhou nos pontos acima é, quando adquire sustentabilidade e começa a crescer rapidamente, tornar a operação maior do que sua demanda - seja investindo em pessoas, estruturas ou mesmo em marketing e comunicação. É o ouro de tolo do mundo corporativo: as maiores empresas de amanhã serão aquelas que aliarão grande entrega de valor com estrutura enxuta, que proporciona uma rápida mudança de modelo de negócio quando fatores do macro/microambiente se apresentam. A Netflix entregava DVDs via correio antes da sua plataforma de streaming de filmes, por exemplo. E hoje, só no Brasil, fatura mais com assinaturas do que o SBT com uma estrutura ínfima.

 

Visto estes pontos, acho que qualquer empresa tem boas chances de, a sua maneira, criar um negócio sólido. Como último ponto, reforço a importância da leitura: se Warren Buffet lê 500 páginas por semana e é um dos homens mais ricos do mundo, o que você espera de quem não gosta de ler? O empreendedor brasileiro, apesar do forte poder de iniciativa, é um dos que menos planeja e se prepara para a difícil tarefa de desenvolver um novo negócio. Seja tão voraz na leitura quanto na vontade de empreender. E divirta-se!

 

*João Gabriel Chebante é fundador da Chebante Brand Strategy. Formado em Administração com Ênfase em Marketing na ESPM, com especialização em Modelagem de Negócios pela mesma faculdade e Gestão de Marcas (branding) pela FGV. Possui onze anos de experiência em marketing, atuando em inteligência de mercado e gestão de marcas como profissional e como consultor de empresas.