Imagem da matéria Como você têm reagido ao isolamento social?
06/06/2020 - 01h05 Artigos

Como você têm reagido ao isolamento social?

A executiva de Recursos Humanos Gabrielle Botelho avalia as possibilidades


 

 

 

Por Gabrielle Botelho*

 

Para controlar a pandemia gerada pela Covid-19, assim como em muitos outros países do mundo, o isolamento social foi a principal medida adotada no Brasil. Seguimos para o terceiro mês de isolamento, em meio a discussões sobre flexibilização do isolamento e retomada de algumas atividades, enquanto atingimos o ápice da doença no país.

 

O isolamento social tem sido vivido por muitas pessoas como uma oportunidade de reflexão, novos aprendizados e mudança. Contudo, para outras têm sido um momento de muitas perdas e sofrimento emocional. E para você? Como tem sido seus dias de isolamento?

 

Este artigo traz uma reflexão e tenta responder a essa pergunta usando conceitos da:

 

NEUROCIÊNCIA

A neurociência tem avançado muito em suas pesquisas sobre o cérebro humano. E uma das principias descobertas é a de que nosso cérebro é orientado para a sobrevivência e manutenção da espécie. Estamos empenhados em prestar atenção a informações negativas ou estímulos prejudiciais, a fim de evitar situações que possam nos colocar em perigo.

 

Contudo, no hemisfério direito ou cérebro emocional, é onde concentram-se nossas emoções, que também podem facilmente direcionar nossos pensamentos e comportamentos. O sistema límbico, encarregado do processamento emocional, é composto pela amígdala cuja função principal é “mapear” o ambiente em busca de ameaças, enviando o “alarme”, que nos mantém seguros.

 

Em situações críticas, nosso cérebro pode emitir três ordens diferentes: uma ordem de “fuga”, que nos afasta do perigo e nos impele a buscar por um abrigo; outra resposta possível é a de “luta”, na qual o indivíduo, apresentando resistência e força, tenta eliminar o perigo que se apresenta; e, por último a “paralisia”, onde perdemos nossa capacidade de reação.

 

Ainda hoje, muitos estudiosos acreditam que as funções da razão e emoção seriam opostas e dificilmente trabalhariam juntas. Contudo, para António Damásio, autor do livro o Erro de Descartes, que conduziu uma série de estudos que demonstram a ligação entre o sistema límbico (emoções) e o neocórtex (razão), o ser humano está “evoluindo para conciliar a emoção e a razão”.

 

Mas você deve estar se perguntando o que isso tem a ver com o que estamos vivendo hoje?

 

Durante o isolamento, todos estamos sentindo algum nível de incerteza ou estresse. E, nesse contexto, os centros emocionais do nosso cérebro estão sendo constantemente ativados. Pelas notícias, pelo o que ouvimos e pelo o que estamos experimentando diariamente. Como nosso cérebro tem a tendência à negatividade, podemos ficar muito estressados e sobrecarregados com o que estamos enfrentando.

 

A boa notícia é que podemos reduzir esses sinais emocionais. Mas para isso precisamos interromper esse fluxo mental, através de reflexão e perguntas, como: “A reação que estou tendo agora, me ajuda? Ou me angustia ainda mais?” Algumas dicas que podem nos trazer para momento presente:

 

- Respirar é importante para ajudar na autorregulação. Respire profundamente três vezes.

- Ficar em silêncio por alguns minutos.

- Praticar uma atividade que proporcione bem-estar.

 

PSICOLOGIA POSITIVA

A psicologia positiva é o estudo científico das emoções e potencialidades humanas e agrega um caráter preventivo aos cuidados psicológicos. Tem como principal objeto de interesse as chamadas emoções positivas, como a felicidade, alegria, otimismo, esperança, entre outras, invés do foco nas doenças humanas.

 

Barbara Fredrickson, por meio de seus estudos e pesquisa na Universidade de Michigan, descobriu que as emoções positivas possuem uma finalidade maior do que apenas bem-estar. Elas fortalecem nossos recursos intelectuais, físicos e sociais, sendo utilizados quando uma oportunidade ou uma ameaça nos é apresentada.

 

O psicólogo Mihaly Csikszentmihalyi desenvolveu trabalhos sobre criatividade, felicidade e criou o conceito de flow (fluxo), a partir do estudo do processo criativo, onde descreve o fenômeno da motivação intrínseca. O estado de flow faz com que o indivíduo se envolva completamente na atividade que está exercendo, atingindo um estado mental altamente focado.

 

O fortalecimento das emoções positivas, promove uma disposição mental de expansão, tolerância e de criatividade, o que estimula novas ideias e experiências. Para alguns pesquisadores, as emoções positivas têm influência na sobrevivência da espécie humana.

 

Nesse contexto de isolamento, medo e insegurança, manter pensamentos e atitudes positivas é fundamental, pois impacta diretamente nas chamadas emoções positivas, gerando bem-estar e diminuindo a ansiedade. Para alguns, manter uma atitude positiva frente a situações adversas é difícill. Uma dica é seguir aquela conhecida expressão Mens sana in corpore sano, ou seja, para conseguir uma mente sã, cuide do seu corpo: coma bem, faça exercícios e durma bem!

 

INTELIGÊNCIA POSITIVA (PQ)

A inteligência positiva (PQ) foi criada Shirzad Chamine tendo por base ideias e descobertas recentes da neurociência, psicologia positiva, psicologia comportamental cognitiva e da área de estudo de desempenho e alta performance. A PQ indica a capacidade de controlar nossa própria mente e quão bem ela age em nosso interesse. Nessa linha de estudo, o autor defende que a positividade é uma habilidade que pode ser desenvolvida. 

 

Segundo Shirzad, a mente opera de duas formas, uma positiva (sábio) e outra negativa (sabotadores). O "sábio" entende os desafios como oportunidades, produzindo curiosidade, empatia, calma e ação focada. Os “sabotadores” causam estresse, ansiedade, insegurança e infelicidade.

 

A região do cérebro, onde encontramos a PQ é a sede do “sábio”. Ao ativar essa região, você desperta as emoções positivas. Há a liberação de endorfinas, que promovem bem-estar, e essa é também a região responsável pelo desempenho máximo e pela sensação de flow, descrita anteriormente.

 

OS SABOTADORES

De acordo com a inteligência positiva, a região do cérebro responsável pela sobrevivência ativa os “sabotadores” para responder a uma situação desafiadora. Isso resulta em ansiedade e estresse, devido à liberação do hormônio cortisol e emoções negativas. Existem dez tipos diferentes de “sabotadores”, que são apresentados a seguir.

 

  1. Crítico

Concentra-se no que há de errado com os outros, em vez de apreciar e celebrar vitórias. É crítico consigo mesmo e com os outros.

 

Esse viés de perceber, exagerar e reagir ao negativo é uma estratégia central de sobrevivência. Por causa dessa função fundamental, o crítico é o sabotador universal compartilhado por todos.

 

  1. Insistente

Pontual, metódico, perfeccionista. Pode ser irritável, tenso, opinativo, sarcástico. Apresenta forte necessidade de autocontrole e de controle. É altamente sensível a críticas.

 

O insistente consegue acalmar a necessidade de controle e seu medo de ser julgado pelos outros tentando alcançar a perfeição. Há a crença de que se fizer o que é certo, estará além da interferência e reprovação das outras pessoas.

 

  1. Prestativo

Tem uma forte necessidade de ser apreciado pelas pessoas e tenta conquistá-las ajudando, agradando ou lisonjeando. Precisa de garantias frequentes de outras pessoas sobre sua aceitação e afeto.

 

O prestativo tenta ganhar atenção e aceitação ajudando os outros. Há a crença de que é preciso conquistar o amor e afeto das pessoas, como se a pessoa não fosse digna de recebê-los incondicionalmente.

 

  1. Hiper-realizador

Competitivo. Bom para encobrir inseguranças e mostrar uma imagem positiva. Adapta a personalidade ao que traz mais status e impressiona o outro. Mantém as pessoas a uma distância segura.

 

Para o hiper-realizador, a autovalidação, a autoaceitação e o amor próprio são todos condicionais - condicionados ao desempenho contínuo. Há a crença de que serão amados se realizarem tarefas, obedecerem às regras, tiverem boas maneiras, etc., em vez de incondicionalmente.

 

  1. Hiper-racional

Mente intensa e ativa, às vezes parecendo intelectualmente arrogante. Discreto, não permite que as pessoas percebam seus sentimentos mais profundos. Alta propensão ao ceticismo e ao debate.

 

O hiper-racional é uma boa estratégia de sobrevivência. A fuga para a mente racional e organizada gera uma sensação de segurança ou uma superioridade intelectual.

 

  1. Hipervigilante

Sempre ansioso, com dúvidas crônicas sobre si e os outros. Sensibilidade extraordinária a sinais de perigo. Pode buscar segurança em procedimentos, regras e instituições.

 

A hipervigilância geralmente vem de experiências anteriores. Há a crença de que a vida é ameaçadora ou não confiável, devido a eventos inesperados e doloroso do passado.

 

  1. Vítima

Quando criticado ou incompreendido, tende a se retirar e ficar de mau humor. Bastante dramático e temperamental. A raiva reprimida resulta em depressão, apatia e fadiga constante.

 

Às vezes, a vítima é associada a uma experiência de não se sentir visto e aceito, passando a acreditar que algo está especialmente errado consigo mesmo. A vítima é uma estratégia para extrair um pouco de afeto daqueles que não estariam prestando atenção.

 

  1. Controlador

Energia forte e necessidade de controlar. Conecta-se com outras pessoas por meio de competição, desafio, ou conflito, em vez de emoções mais suaves. Falador voluntarioso, confrontador e direto.

 

Muitas vezes há um medo oculto de ser controlado por outras pessoas ou pela vida. Às vezes, o controlador é associado a experiências na primeira fase de vida, em que houve a necessidade de crescer rapidamente, num ambiente caótico ou perigoso, a fim de sobreviver.

 

  1. Inquieto

Permanece ocupado, fazendo malabarismos com muitas tarefas e planos diferentes. Procura emoção e variedade, não conforto ou segurança. Evita sentimentos desagradáveis ​​e procura constante estímulo.

 

O Inquieto é uma estratégia para encontrar constantes novas fontes de excitação, prazer e autonutrição. Há a crença de que permanecer ocupado, “adormece” as emoções, não tendo que lidar com a ansiedade e a dor, por exemplo.

 

  1. Esquivo

Evita conflitos e diz sim às coisas que não querem. Tem dificuldade em dizer não. Perde-se em rotinas e hábitos reconfortantes; procrastina em tarefas desagradáveis.

 

O esquivo pode não ter aprendido a resiliência de lidar com emoções difíceis e, por isso, pode entrar para fazer o papel de pacificador. Há a crença de que é necessário não adicionar nenhuma negatividade ou tensão própria sobre as tensões familiares existentes.

 

Como descrito anteriormente, os “sabotadores” são mecanismos para nos ajudar a sobreviver às ameaças reais e imaginárias durante a primeira fase da nossa vida. Quando adultos, não precisamos mais deles, mas os padrões de pensamento, sentimento e reação de nossos “sabotadores” tornam-se codificados em nosso cérebro.

 

O primeiro passo para encerrar esse ciclo de “dependência” é identificando qual “sabotador”, tem se manifestado com maior frequência em sua vida, principalmente agora nesse período de isolamento, em que estamos mais vulneráveis.

 

E você? Já parou para refletir como tem sido seus dias durante o isolamento?

 

Você tem sido a “vítima”, que se paralisa diante da situação adversa? Ou tem sido o “inquieto” ou “hiper-realizador” que não se permite descansar, pois tem medo de encarar a realidade?

 

 

*Gabrielle Botelho é diretora de RH para América do Sul da CGG

As opiniões expressas neste artigo não representam necessariamente as opiniões do empregador da autora

 

Foto de abertura: Divulgação

Últimas notícias

Imagem da matéria Deel apresenta as nove tendências de trabalho para 2026
Deel apresenta as nove tendências de trabalho para 2026
Radar - 12/12/2025 - 15h50
A volta da busca por estabilidade no emprego é uma delas, de acordo com dados da companhia
Ver MAIS
Imagem da matéria Por que reduzir a jornada de trabalho pode ser o maior investimento em produtividade das empresas
Por que reduzir a jornada de trabalho pode ser o maior investimento em produtividade das empresas
Artigos - 12/12/2025 - 14h38
Para o CEO da Embalixo, essa medida não significa abrir mão de metas e sim dar foco ao que realmente importa
Ver MAIS
Imagem da matéria Três atitudes para as empresas evitarem a espiral do desespero do final do ano
Três atitudes para as empresas evitarem a espiral do desespero do final do ano
Saúde e Bem-Estar - 12/12/2025 - 10h21
Saiba como é possível cumprir as metas estabelecidas, evitar a sobrecarga e manter a produtividade das equipes
Ver MAIS
Imagem da matéria Com governança, IA vai além do operacional e transforma o RH com vantagem estratégica
Com governança, IA vai além do operacional e transforma o RH com vantagem estratégica
Práticas Empresariais - 12/12/2025 - 09h50
Diretora de Recursos Humanos da SantoDigital conta como está otimizando processos e evitando os riscos da Shadow AI
Ver MAIS

Notícias mais lidas

Imagem da matéria Magalu lança primeiro programa de trainee em IA do Brasil
Magalu lança primeiro programa de trainee em IA do Brasil
Tendências - 28/08/2025 - 17h46
Iniciativa está relacionada ao novo ciclo da companhia, focado na consolidação do IA Commerce
Ver MAIS
Imagem da matéria O papel estratégico do RH na retenção de talentos em tempos digitais
O papel estratégico do RH na retenção de talentos em tempos digitais
Artigos - 07/08/2025 - 17h10
Com intencionalidade e consistência, o básico bem feito tem gerado os melhores resultados, diz especialista
Ver MAIS
Imagem da matéria Saúde física dos colaboradores: por que investir na TotalPass?
Saúde física dos colaboradores: por que investir na TotalPass?
Publieditorial - 17/03/2025 - 13h10
São mais de 23 mil academias e estúdios parceiros, como Smart Fit e Bio Ritmo
Ver MAIS
Imagem da matéria Deel apresenta as nove tendências de trabalho para 2026
Deel apresenta as nove tendências de trabalho para 2026
Radar - 12/12/2025 - 15h50
A volta da busca por estabilidade no emprego é uma delas, de acordo com dados da companhia
Ver MAIS
 Teste GRÁTIS por 7 dias