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11/05/2020 - 15h30

Qualquer futuro – artigo de Gabriel Pinto, autor do livro Passaporte para o Futuro

Uma análise sobre o futuro do trabalho em um mundo de disrupções

 

 

 

Por Gabriel Pinto*

 

A discussão sobre o futuro do trabalho nunca foi tão pertinente. Por isso, decidi escrever o livro Passaporte para o Futuro. Para contribuir com os profissionais diante da aceleração da revolução digital devido à crise da pandemia e sua profunda mudança no mundo do trabalho. Dois fatores direcionam o futuro do trabalho: o primeiro é que, na medida em que o trabalho da automação aumenta a eficiência da produção, o trabalho humano é valorizado. Isso ocorre porque o aumento da produção global depende do aumento do todos os elos da cadeia produtiva. Se o robô aumenta a produtividade, aumenta a valorização da parte que cabe ao ser humano na produção.

 

O outro motivo é que os seres humanos nunca têm o suficiente. A abundância material nunca eliminou a escassez, como se pode perceber nas palavras do economista Thorstein Veblen: “A invenção é a mãe da necessidade”. Como explicar a utilidade no conceito econômico do Pokemon-Go – game responsável pelo faturamento de U$ 3 bilhões nos seis primeiros meses de lançamento?

 

Assim, a principal mudança vem da substituição das atividades do trabalho por automações, mudando o perfil das profissões – algumas serão quase totalmente extintas da maneira que conhecemos hoje. Vale lembrar o perfil de um caixa de banco antes e depois do caixa automático. Com uma mudança radical na rotina diária, a profissão permaneceu viva.

 

É comum imaginarmos que um robô simplesmente realizará as tarefas de determinadas profissões, mas não é apenas assim que isso ocorre. Você lembra o que aconteceu com os agentes de viagens? Os aplicativos de viagem foram responsáveis por alterar as atividades desses profissionais e nós mesmo passamos a escolher passagens aéreas, apartamentos para alugar ou reservas em hotéis diante da facilidade permitida pelo novo desenho de serviços.

 

Na linha de frente das profissões com maior risco estão aquelas ligadas às atividades de escritório como auxiliar de contabilidade, auxiliar de escritório e assistente administrativo. Com os softwares e aplicativos que organizam contabilidade, agenda e arquivamento, as tarefas ou passam a ser automatizadas ou nós mesmo as assumimos diante da facilidade e da maior velocidade de escolha.

 

Outras profissões bastante representativas no mercado brasileiro e em vias de completa extinção como as conhecemos hoje são operadores de telemarketing e vendedores de varejo.

 

Por outro lado, daqui para a frente o futuro das profissões caminha em duas vertentes: as profissões mais ligadas à tecnologia avançando e as profissões ligadas aos cuidados e ao desenvolvimento humano.

 

No primeiro grupo, perceberemos o crescimento das profissões da computação, analistas de negócios, analistas de tendências, desenvolvedores e programadores. Do outro lado, a especialização no trabalho humanizado impulsionará o crescimento nas áreas da Educação e da Pesquisa, desde professores primários até professores pesquisadores. Enquanto na saúde percebemos o avanço da enfermagem às especialidades mais complexas da Medicina. Somam-se a essas as novas profissões ligadas às energias renováveis.

 

O futuro chegou mais cedo e a Quarta Revolução Industrial foi acelerada. A grande mudança no trabalho fomentado pelas novas tecnologias demandará uma nova procura por habilidades necessárias para lidar nesse novo mundo. Não apenas as hard skills, mas, principalmente, aquelas relacionadas à decisão, inovação e ao aprendizado. Se nessa profusão de mudanças há uma certeza, eu destacaria: daqui para a frente, teremos que aprender a nos reinventarmos, porque disrupções como essas que vivemos hoje ocorrerão algumas vezes ao longo de todas as trajetórias profissionais. E como se preparar? Preparando-se para estar melhor em qualquer futuro.

 

*Gabriel Pinto coordena o Centro de Estudos e Projetos em Futuro do Trabalho, é empresário da área digital, diretor da ABP (Associação Brasileira de Propaganda) e lidera a qualquerfuturo.com, plataforma sobre o mercado de trabalho

 

Foto de abertura: Divulgação