
05/05/2025 - 11h02
Construir o futuro do trabalho requer mais escuta e consciência
Nossa colunista Clarissa Medeiros joga luzes sobre a sustentabilidade empresarial nos dias atuais
Por Clarissa Medeiros*
Vivemos uma transição global com uma complexidade sem precedentes. A crise climática se intensifica, os desafios sociais e geopolíticos se aprofundam e a economia global exige muita resiliência aliada à inovação. A esses fatores, somam-se novos imperativos: o cuidado com a saúde mental nas organizações e a transição geracional em curso, que traz novas expectativas sobre trabalho, liderança e propósito.
No centro dessa transformação emerge uma certeza: não há futuro do trabalho sustentável nas empresas sem responsabilidade, sem propósito e sem consciência. Nesse contexto, a Humanizadas, startup especializada em inteligência de dados, realizou um estudo, por meio de um método de escuta integrada e multistakeholders, para mapear as Melhores Empresas para o Brasil, ou seja, as organizações que detém um elevado nível de responsabilidade e maturidade no relacionamento com o público interno e externo, segundo a opinião dos próprios stakeholders e da acordo com uma auditoria de dados públicos.
A pesquisa, da qual a minha empresa, a Clarity, participa há três anos, avaliou mais de 2.500 organizações e escutou mais de 300 mil stakeholders ao longo dos últimos cinco anos. Os números impressionam: as empresas reconhecidas apresentam 567% mais capacidade de inovação, 408% mais bem-estar interno e 167% mais compromisso socioambiental em comparação à média das empresas brasileiras. Além disso, há uma correlação direta entre esses resultados e fatores como presença de mulheres na liderança, retorno sobre investimento (ROI) e valorização de mercado.
É possível unir lucro com ética, e performance com bem-estar adotando iniciativas como: Criação de comitês intergeracionais de liderança, para ouvir diferentes vozes e tomar decisões mais integradas; Programas de escuta ativa que alimentam decisões estratégicas baseadas em dados reais de experiência dos colaboradores; Indicadores de performance que incluem saúde emocional e diversidade como fatores críticos; Ambientes de trabalho com alto índice de pertencimento, autonomia e práticas regenerativas; e Relacionamento ampliado com stakeholders, com foco em inclusão, respeito e legado coletivo.
Empresas com práticas regenerativas e cultura colaborativa apresentam não apenas maior retorno financeiro no longo prazo, mas também níveis mais altos de engajamento, retenção e reputação institucional.
A sustentabilidade empresarial, como se sabe, vai muito além da agenda ambiental e envolve um modo de operar — transversal, sistêmico, regenerativo. Conseguiremos avançar nesta direção no tempo certo?
Uma coisa é certa: a transformação viável do modelo de negócios vem pela escuta. Há empresas com medo de ouvir e outras que querem ouvir para evoluir. Quero acreditar que a escuta profunda seja uma tendência que irá se acelerar a partir de agora.
No entanto, essa transformação só se torna possível com o protagonismo de áreas que tradicionalmente eram vistas como suporte e hoje são alavancas centrais da mudança — como o Recursos Humanos.
O RH é, cada vez mais, guia da cultura, curador da escuta e guardião da coerência entre discurso e prática. É o RH que sustenta a evolução das lideranças, fomenta ambientes psicologicamente seguros e conecta o propósito institucional à experiência cotidiana das pessoas.
Aos líderes e profissionais de RH, deixo uma provocação : que possamos sustentar o impacto positivo não como exceção, mas como padrão, e que a consciência seja, cada vez mais, o verdadeiro diferencial estratégico das organizações que querem permanecer relevantes e humanas.
*Clarissa Medeiros é mentora de lideranças, palestrante, sócia-fundadora da Clarity Global e colunista do portal Gestão RH
Foto: Daniela Toviansky