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06/05/2024 - 18h20

Antes de entender sobre IA, gestores e lideranças precisam entender de neurociência

Maurício Chiesa Carvalho, executivo de RH da Tamarana, aborda os ganhos para pessoas e negócios

 

Por Maurício Chiesa Carvalho*

 

 

Líderes e gestores precisam entender de neurociência antes de inteligência artificial (IA) para liderar pessoas e gerir processos, pois o conhecimento sobre o funcionamento do cérebro humano é fundamental para compreender e motivar as pessoas que fazem parte de suas equipes. A neurociência oferece insights sobre como o cérebro humano processa informações e toma decisões. Entender esses processos cognitivos pode ajudar na tomada de decisões mais informadas e a promover uma cultura organizacional baseada em evidências.

 

A liderança assertiva envolve lidar com pessoas e equipes, compreendendo suas motivações, emoções e comportamentos. A neurociência fornece insights valiosos sobre como o cérebro humano funciona em situações sociais, ajudando os líderes a construírem relacionamentos interpessoais sólidos e a criarem um ambiente de trabalho positivo. Com conhecimento em neurociência, é possível entender melhor o que motiva suas equipes e como promover o engajamento. Compreender como o cérebro responde a estímulos, como recompensas e reconhecimento, ajuda a liderança a criar estratégias eficazes para motivar seus colaboradores e alcançar melhores resultados.

 

A IA não substitui a capacidade humana de liderar, motivar e inspirar, mas pode ser uma ferramenta poderosa para complementar as habilidades humanas, fornecendo suporte e assistência em áreas onde a automação é mais eficiente, enquanto os líderes se concentram em aspectos mais humanos da gestão, como a construção de relacionamentos, a tomada de decisões éticas e o desenvolvimento pessoal e profissional das equipes.

 

Liderar equipes muitas vezes envolve lidar com situações emocionais e conflitos. O entendimento da neurociência ajuda os líderes a gerenciarem suas próprias emoções e as emoções dos outros de forma mais eficaz, promovendo a inteligência emocional e criando um ambiente de trabalho mais harmonioso.

 

Embora a IA seja uma ferramenta poderosa para a gestão de dados e processos, ela não substitui a compreensão profunda das pessoas e das relações humanas que a neurociência pode oferecer. Portanto, entender de neurociência antes de inteligência artificial é fundamental para liderar equipes de forma eficaz e alcançar resultados sustentáveis a longo prazo.

 

As pesquisas recentes em neurociência têm fornecido insights valiosos sobre como aprimorar a performance da liderança e o resultado das equipes, considerando elementos como prazer, engajamento e propósito. Os líderes eficazes são capazes de inspirar confiança e criar um ambiente seguro e colaborativo para suas equipes.

 

Isso pode ser atribuído à capacidade desses líderes de regular suas próprias emoções e demonstrar empatia. Pesquisas sugerem que a região do cérebro responsável pela empatia, como o córtex pré-frontal medial, está intimamente ligada à capacidade de liderança e à habilidade de compreender as necessidades e motivações dos membros da equipe.

 

Estudos mostram que equipes engajadas tendem a ser mais produtivas e inovadoras e a neurociência aponta que o engajamento está relacionado à liberação de neurotransmissores como dopamina, que estão associados à sensação de recompensa e prazer. Além disso, ter um propósito claro e significativo no trabalho tem sido associado a níveis mais elevados de satisfação e desempenho. As pesquisas sugerem que, quando indivíduos estão alinhados com um propósito maior, áreas do cérebro associadas à motivação e recompensa são ativadas, aumentando a resiliência e a persistência, demonstrando que empresas com líderes que demonstram habilidades emocionais e sociais têm melhor desempenho financeiro.

 

Um estudo conduzido pela Harvard Business Review descobriu que empresas lideradas por CEOs com alta inteligência emocional tiveram um aumento médio de 6% no lucro líquido. Além disso, equipes que se sentem conectadas com um propósito compartilhado têm uma probabilidade maior de superar desafios e alcançar metas ambiciosas. Outra pesquisa, essa do Gallup descobriu que empresas com equipes altamente engajadas têm uma probabilidade 21% maior de serem rentáveis.

 

Hormônios como ocitocina, conhecido como "hormônio do amor" ou "hormônio da ligação", desempenham um papel crucial na construção de relacionamentos de confiança dentro das equipes. A liberação de ocitocina está associada à criação de laços sociais e cooperação. Além disso, o cortisol, o hormônio do estresse, pode ter um impacto negativo na performance das equipes se não for gerenciado adequadamente. Ambientes de trabalho estressantes podem levar a níveis elevados de cortisol, prejudicando a criatividade, o foco e a tomada de decisões.

 

Abaixo, destaco mais dados de pesquisas em relação à importância da Neuroliderança e Neurociência:

 

IMPACTO DA NEUROLIDERANÇA NAS ORGANIZAÇÕES

Segundo um estudo realizado pela NeuroLeadership Institute, empresas que aplicam princípios de neuroliderança têm uma média de 30% a mais de eficácia em suas estratégias de liderança, resultando em melhores resultados financeiros e satisfação dos funcionários.

 

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE E ENGAJAMENTO

Conforme já citei, a pesquisa do Gallup descobriu que líderes que demonstram competências em inteligência emocional têm equipes com 21% a mais de produtividade. Acrescentando: o estudo também identificou 59% a mais de engajamento de suas equipes na comparação com equipes de líderes com baixa inteligência emocional.

 

REDUÇÃO DO TURNOVER E ABSENTEÍSMO

Também complementado o que destaquei sobre o levantamento da Harvard Business Review, empresas cujos líderes são treinados em conceitos de neuroliderança experimentam uma redução média de 14% no turnover de funcionários e 12% no absenteísmo, indicando uma maior retenção de talentos e presença no trabalho.

 

MELHORIA NA TOMADA DE DECISÕES

Uma pesquisa da Universidade da Califórnia em Los Angeles (UCLA) mostrou que líderes que possuem conhecimento em neurociência são mais capazes de tomar decisões estratégicas e eficazes, resultando em um aumento de até 25% na precisão das decisões tomadas em ambientes complexos e dinâmicos.

 

CRESCIMENTO DA INOVAÇÃO E CRIATIVIDADE

Segundo um relatório da Deloitte, empresas que incentivam uma cultura baseada em princípios de neuroliderança têm uma taxa de crescimento da inovação até três vezes maior do que aquelas que não o fazem. Isso é atribuído à capacidade dos líderes de promover um ambiente psicologicamente seguro, que estimula a criatividade e o pensamento inovador.

 

Ou seja, as pesquisas destacam a importância de líderes que compreendem o funcionamento do cérebro humano e aplicam esse conhecimento para promover um ambiente de trabalho positivo, engajador e significativo, o que, por sua vez, impulsiona a performance e os resultados das equipes.

 

A IA pode ajudar (não substituir) a ampliar as capacidades humanas, permitindo que as pessoas se concentrem em atividades mais criativas e estratégicas. Ao automatizar tarefas rotineiras e repetitivas, as pessoas têm mais tempo e energia para se envolverem em atividades que exigem habilidades cognitivas mais avançadas, como a resolução de problemas complexos e a inovação. Conseguimos extrair o máximo das pessoas, quando as conhecemos, seu funcionamento e gatilhos, emoções e recompensas.

 

Abaixo, indico algumas maneiras básicas e simples que um líder pode usar conceitos de neurociência para uma liderança assertiva:

 

1- Comunicação Empática: Pratique a escuta ativa, demonstrando interesse genuíno nas preocupações e ideias dos membros da equipe. Isso ajuda a criar um ambiente de confiança e segurança, estimulando a liberação de neurotransmissores ligados ao bem-estar, como a ocitocina.

 

2- Reconhecimento e Recompensa: Reconheça publicamente o bom trabalho dos membros da equipe. Isso ativa áreas do cérebro associadas ao prazer e à motivação, incentivando comportamentos positivos e aumentando o engajamento.

 

3- Feedback Construtivo: Forneça feedback de forma construtiva e orientada para o desenvolvimento. A neurociência mostra que o cérebro responde melhor ao feedback que é específico, relevante e entregue de maneira respeitosa, ajudando os membros da equipe a aprenderem e crescer.

 

4- Ambiente de Trabalho Positivo: Crie um ambiente de trabalho positivo e inclusivo. Isso promove o bem-estar mental dos colaboradores, reduzindo os níveis de estresse e aumentando a produtividade. A neurociência demonstra que um ambiente positivo estimula a liberação de neurotransmissores associados ao prazer e à motivação.

 

 5- Definição de Metas Alcançáveis: Estabeleça metas claras e alcançáveis para a equipe. Isso ajuda a reduzir a ansiedade e o medo de falhar, permitindo que os membros da equipe se concentrem no progresso e na realização, o que é gratificante para o cérebro.

 

6-  Promoção do Bem-Estar: Incentive práticas que promovam o bem-estar mental e físico, como pausas regulares, exercícios e atividades de relaxamento. A neurociência mostra que o cérebro funciona melhor quando está em um estado de equilíbrio e saúde.

 

Essas são apenas algumas maneiras simples pelas quais um líder pode aplicar conceitos de neurociência para promover uma liderança assertiva e eficaz.

 

A Inteligência artificial jamais teria capacidade de gerar a arte, literatura, filosofia e ciência. Essa “conexão e apreciação dos diferentes saberes” permite navegar na evolução da humanidade e, muitas vezes, destaca histórias de sacrifício e dedicação ao bem maior, e tudo isto é natural apenas do ser humano. A habilidade de contar histórias é crucial para inspirar e envolver equipes. A literatura ensina como construir narrativas envolventes e emocionantes, que podem ser usadas para transmitir visões, metas e valores aos membros da equipe. Isso pode lembrar os líderes da importância da liderança servidora, na qual eles estão focados em apoiar e capacitar suas equipes em vez de buscar apenas o poder ou o sucesso pessoal. O que a IA pode é organizar tudo isso, mas, sem contexto, também se perderá.

 

Antes de confiar, se apropriar, entender e usar a inteligência artificial, busquemos a sabedoria natural: sermos líderes que compreendem os mistérios do cérebro humano através da neurociência, pois é nessa compreensão que encontramos o verdadeiro potencial para inspirar, motivar e liderar com empatia e autenticidade.

 

 

*Maurício Chiesa Carvalho é head de RH, Relações Jurídicas e Responsabilidade Social da Tamarana Tecnologia e Soluções Ambientais

 

 

Foto: Divulgação/Tamarana