13/04/2023 - 17h54
Presença da mulher enriquece ambiente corporativo
Mas preconceito, viés de gênero e vida pessoal x vida profissional ainda são desafios, diz Mirella Marchi, da Nissin
Por Mirella Marchi*
Com temas como diversidade e inclusão cada vez mais em evidência no mundo corporativo, as mulheres vêm ampliando seu espaço e protagonismo dentro das empresas, especialmente quando o assunto são cargos de direção. Ainda que longe do equilíbrio ideal, quando olhamos o mercado como um todo, são inegáveis os avanços obtidos ao longo dos últimos anos.
De acordo com o estudo Women in the boardroom, por meio do qual a Deloitte ouviu 10.493 empresas de 51 países, incluindo o Brasil, em 2022, 19,7% dos assentos em conselhos eram ocupados por elas, uma alta de 2,8 pontos percentuais em relação ao levantamento anterior, realizado em 2018. Para a consultoria, caso esse ritmo seja mantido, chegaremos a um cenário próximo à paridade de gêneros por volta de 2045.
No entanto, a situação no Brasil ainda está aquém da média global. Por aqui, a presença feminina em posições de liderança é de apenas 10,4%. Apesar disso, o país manteve um percentual de crescimento semelhante aos demais, já que na pesquisa de quatro anos antes o percentual era de apenas 8,6%.
Mais do que simplesmente responder a uma tendência social em direção à equidade, as companhias, aos poucos, vêm entendendo que a presença da mulher estimula a pluralidade de ideias e enriquece o ambiente corporativo, o que se reflete também em diferenciais de competitividade.
Mas, antes de detalhar os impactos positivos da crescente presença das mulheres no mundo empresarial, é importante recorrer à História para lembrar como se deu a divisão do trabalho na sociedade industrial, que delegou à mulher um papel ao qual ela se viu presa até as últimas décadas.
Antes da Revolução Industrial, o ser humano viveu, por milênios, em uma sociedade rural, na qual não havia separação clara entre trabalho e vida pessoal. Camponeses e artesãos viviam, normalmente, no mesmo espaço em que ganhavam vida, e as tarefas domésticas se confundiam com o trabalho e mesmo com o lazer.
Com isso, era comum, tanto para o homem quanto para a mulher, intercalar o trabalho com a enxada no cultivo da terra, com o fogão, para o preparo do alimento para os filhos e a família. Na prática, nenhuma dessas obrigações era específica de um gênero.
Tudo mudou com a industrialização. Por meio dela, o trabalho deixou o ambiente doméstico para se desenvolver em um espaço diferente. Além da necessidade de deslocamento, o que implicava deixar para trás a casa durante parte do dia, as tarefas na fábrica envolviam grandes esforços físicos e jornadas exaustivas, razão pela qual foram ocupadas principalmente pelo homem. Já à mulher coube o papel de cuidar do lar e dos filhos durante a ausência do pai, em atividades não remuneradas, muitas vezes desvalorizadas e vistas como secundárias por toda a sociedade.
No entanto, conforme as tecnologias avançaram, boa parte das tarefas “pesadas” e repetitivas passou a ser executada por máquinas, restando ao ser humano principalmente atividades de cunho flexível, intuitivo, emocional ou estético. Ou seja, justamente as habilidades que a máquina não possui e que a mulher desenvolveu ao longo das décadas em que desempenhou o papel social que lhe foi atribuído.
Graças a isso, a mulher encontrou as condições ideais para levar ao ambiente corporativo uma série de características essenciais para que as empresas conseguissem encarar essa nova realidade do trabalho, levando consigo perspectivas únicas que auxiliam no desenvolvimento de uma cultura mais rica e equilibrada.
Mas, mesmo com todos esses avanços, desafios como o preconceito, o viés de gênero e a falta de equilíbrio entre vida pessoal e profissional impedem, muitas vezes, seu crescimento no mundo dos negócios. Nesse sentido, é essencial que as empresas estabeleçam políticas voltadas para a inclusão dentro de sua estratégia, como programas de mentoria para formar lideranças femininas e a criação de metas de diversidade.
Com as condições ideais, as mulheres podem levar um sem-número de benefícios para dentro das companhias, permitindo que as empresas encarem os problemas de forma mais abrangente, cheguem a soluções criativas e inovadoras, tomem decisões mais justas e equilibradas, e ainda incrementem sua produtividade, atraiam novos talentos e melhorem a imagem no mercado graças à criação de um ambiente mais justo e igualitário.
*Mirella Marchi é gerente de Comunicação e Relacionamento da Nissin Foods do Brasil
Foto: Divulgação/Nissin