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14/05/2020 - 16h01 Artigos

Nada do que foi será de novo do jeito que já foi um dia...

Como ficam os líderes no novo normal? Esse é o foco do artigo exclusivo de Marcelo Madarász


 

 

 

Nestes dias desafiadores de 2020, temos escutado com certa frequência um termo até então inédito: o novo normal. Há um desejo muito grande de se retornar a um lugar conhecido que dá uma falsa sensação de possibilidade de controle. O fato é que o fenômeno com o qual estamos lidando nos colocou obrigatoriamente numa zona de desconforto imenso, principalmente pelo desconhecido que se apresenta todos os dias. O desconhecido traz outro aspecto bastante interessante: além do inédito da situação, nossas crenças e medos mais ancestrais ganham uma dimensão muito grande e, se não nos colocarmos na direção de nossos pensamentos, ficaremos reféns desses fantasmas e dessa forma os sofrimentos serão muito maiores.

 

Do líder das organizações, muito é esperado, muito é cobrado e, num momento de extrema vulnerabilidade como o atual, com todos os medos ganhando uma dimensão muito maior que na verdade deveriam ter, mais uma vez o líder está sendo colocado em xeque. Deles e de sua postura dependem as organizações.

 

Antes de falarmos especificamente da situação do líder e de como poderíamos contribuir para ajudá-lo na travessia desse momento tão desafiador, vamos nos lembrar que o líder, ao contrário do que alguns acreditam e, mais ainda, do que algumas organizações desejam, também têm suas angústias, seus medos, desconfortos e muito mais perguntas que respostas. Se pudéssemos congelar o tempo e, sendo mais sonhador ainda, voltar no tempo, o ideal seria que o líder pudesse passar por um período de longa preparação que incluiria alguns elementos sobre os quais vamos falar, mas o fato é que isso é impossível. Estamos navegando num mar revolto e não temos ainda clareza de como será quando o barco chegar em terra firme. Essa terra firme não será do jeito que já foi um dia.

 

Como navegar nesse mar revolto e sofrer menos? Em primeiro lugar, e como isto não poderá acontecer num período preparatório visto que estamos em mar aberto, o líder deverá fazer este processo durante a travessia: mergulhar o quanto puder no processo de autoconhecimento. É importante que ele se conheça da forma mais profunda e honesta possível. Qual é a sua história de vida, como ele estruturou seu conjunto de crenças, quais são as crenças que podem fortalecê-lo e, portanto, ajudá-lo na capacitação para a travessia e quais são aquelas que podem limitar sua atuação?  Quais são exatamente os valores que o guiam?

 

O processo de autoconhecimento deve ir além e incluir a clareza de seu propósito de vida. Caso ele nunca tenha refletido sobre esses temas mais existenciais, estará menos capacitado a navegar, mas sem sermos pessimistas ou, pior, derrotistas, nunca é tarde para fazê-lo. 

 

Ao mergulhar nesse processo – e a emergência da travessia pode funcionar como elemento catalisador e acelerador  – será mais fácil para  dar um sentido à viagem, entendendo-se por sentido não apenas a direção, mas significado. Ele precisa saber mais sobre seus valores, pois o conjunto deles pode revelar em que nível de consciência o líder está operando e quais são os determinantes de sua tomada de decisão. Clareza nesses elementos fará a diferença entre ficar à mercê do mar revolto, apenas reagindo, ou planejar e usar a lógica, a racionalidade e até mesmo, em níveis mais altos de consciência, a intuição e a inspiração. 

 

Como estamos falando de um ambiente bastante complexo, a pior estratégia seria o autoengano e a tentativa de enganar os outros, incluindo seus liderados, sobre o domínio e controle da situação. Isso, além de não se sustentar, pode ser fatal. O melhor a fazer, além do autoconhecimento, clareza de propósito e conexão com ele da forma mais sincera possível, é confiar no outro e criar uma rede de cooperação na qual todos se ajudam num lindo processo de interconexão e interdependência. Isso só vai acontecer se esse líder tiver a humildade de reconhecer que não conhece as respostas, mas que, juntos, todos podem se fortalecer, se apoiar mutuamente e assim descobrirem juntos a melhor forma de conduzir o barco.

 

Tudo está sendo posto à prova: por exemplo, os casamentos que já tinham seus problemas terão essas fragilidades desmascaradas e expostas na difícil arte da convivência forçada em regimes de home office; os vínculos psicológicos com as organizações, se já estavam perdendo a boa ligação, terão essa situação intensificada e, portanto, com maiores chances de rompimento.

 

Por outro lado, como tudo tem seu lado sol e seu lado sombra, esse período pode também estreitar os laços, sejam conjugais, familiares, de amizade ou os profissionais. Se há alinhamento de valores individuais e organizacionais, esta crise e a forma como será gerenciada pelo líder e pela organização pode fortalecer vínculos e trazer à tona o verdadeiro engajamento numa relação que verdadeiramente valha a pena ser vivida. Caso contrário, cabe um questionamento adicional: será que estava valendo a pena de fato? Não adianta fugir, nem mentir pra si mesmo agora, mas lembre-se que mar calmo nunca fez bom marinheiro e há tanta vida lá fora e aqui dentro também, sempre, como uma onda no mar!

 

Foto: Rogério Motoda

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