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24/10/2025 - 16h58

Desengajamento custa R$ 77 bilhões por ano e atinge o maior nível em três anos

No Engaja S/A, estudo da Flash e da FGV, liderança apresenta queda recorde de engajamento

 

 

O engajamento dos trabalhadores brasileiros atingiu o menor patamar desde o início da série histórica do Engaja S/A, índice nacional de engajamento realizado pela Flash, em parceria com a FGV Eaesp. Apenas 39% dos profissionais afirmam estar engajados com as empresas em que atuam, uma redução de cinco pontos percentuais em relação a 2024, ou seja, 61% se consideraram desmotivados com o trabalho.

 

A terceira edição do estudo, que contou com o apoio da TotalPass, Maturi, Cia de Talentos e Talenses Group, ouviu 5.397 pessoas em todas as regiões do país, entre junho e agosto de 2025, com perfil alinhado à Rais 2023 (Relação Anual de Informações Sociais). A maioria dos respondentes não possui ensino superior (61%), ganha entre 1 e 3 salários mínimos (54%) e atua em micro, pequenas e médias empresas (42%).

 

Um dos dados inéditos do estudo é que o desengajamento generalizado tem reflexo direto na economia: a falta de envolvimento dos colaboradores pode custar R$ 77 bilhões por ano ao país — o equivalente a 0,66% do PIB, considerando perdas com turnover e presenteísmo.

 

“Embora a remuneração seja um fator relevante, os resultados do estudo indicam que ela não compensa deficiências no clima organizacional nem na qualidade da gestão. Fatores como relações de confiança, oportunidades de desenvolvimento e ambiente saudável continuam sendo os principais determinantes do engajamento”, afirma Renato Souza, professor de Recursos Humanos da FGV Eaesp e coautor do estudo.

 

TURNOVER BILIONÁRIO E CUSTO DO ENGAJAMENTO

Pela primeira vez, o estudo calculou o custo do engajamento. Em 2025, 60% dos trabalhadores brasileiros afirmaram ter pensado em pedir demissão com alguma frequência, ou seja, seis pontos abaixo do índice registrado em 2024 (66%). O desejo de mudança também se traduziu em ação: 64% dos profissionais se candidataram a novas vagas e 42% participaram de entrevistas ao longo do ano.

 

Entre os engajados, apenas 8% pensam frequentemente ou muito frequentemente em sair do emprego, contra 60% entre os ativamente desengajados, diferença que explica parte do impacto financeiro do turnover. Segundo o levantamento, a rotatividade de profissionais pode custar cerca de R$ 71 bilhões anuais às empresas brasileiras, respondendo pela maior parcela do custo total do desengajamento.

 

O presenteísmo – quando o trabalhador está presente, mas improdutivo – também tem impacto financeiro: são R$ 6,3 bilhões em perdas anuais. Metade dos profissionais desengajados afirma perder até duas horas de trabalho por dia por falta de motivação.

 

CRISE NAS LIDERANÇAS

Em 2025, o índice revela uma queda expressiva no engajamento das lideranças, fenômeno descrito como uma “crise silenciosa de engajamento”. Entre executivos, o engajamento recuou de 72% para 65% em um ano, a maior retração entre todos os grupos hierárquicos. Na média gerência, caiu de 54% para 49%.

 

A pesquisa também evidencia sinais de esgotamento: 25% dos executivos relatam sentir ansiedade diariamente e 21% sofrem com insônia, patamares superiores aos registrados entre os demais colaboradores. “Aqueles que são considerados os principais responsáveis por engajar suas equipes apresentam sinais de exaustão. A pirâmide do engajamento pode estar sendo construída sobre uma base frágil”, alerta Souza.

 

O estudo ainda mostra que o desengajamento da alta liderança é o mais oneroso para as companhias, devido aos altos salários e custos de reposição. O custo médio individual por ano do desengajamento por hierarquia é de R$ 72,4 mil por executivo, R$ 8,9 mil por gerente e R$ 561 por colaborador.

 

A combinação entre perdas com presenteísmo (R$ 6,2 bilhões) e turnover (R$ 70,7 bilhões) compõem o total de R$ 77,0 bilhões estimado no cenário realista do Engaja S/A, que considera custos de reposição por colaborador na média do mercado.

 

SAÚDE MENTAL E ENGAJAMENTO CAMINHAM JUNTOS

A terceira edição do estudo também mapeou a relação entre saúde emocional e motivação no trabalho. Cerca de um em cada cinco trabalhadores convive diariamente com sintomas de ansiedade, insônia ou fadiga, e a incidência dessas condições é três vezes maior entre os ativamente desengajados (o nível de desmotivação mais difícil de ser revertido pelas empresas).

 

O recorte geracional reforça o alerta: 25% dos jovens da geração Z dizem sentir ansiedade todos os dias, ante 7% dos baby boomers, grupo que apresenta os maiores níveis de engajamento (45%) entre as gerações.

 

DESCANSO COMO COMBUSTÍVEL

O estudo também identificou que descanso e equilíbrio são motores importantes do engajamento. Trabalhadores que adotam a semana de quatro dias registram 53% de engajamento, 14 pontos acima da média nacional.

 

Por outro lado, quem atua nas escalas 6x1 e 12x36 apresenta índices mais baixos (40% e 36%, respectivamente) e maiores taxas de fadiga, insônia e depressão. Nas jornadas mais longas, 23% dos profissionais da escala 12x36 relatam ansiedade diária, 22% sofrem com fadiga, 23% com insônia e 14% com sintomas de depressão. Mesmo na 6x1 os índices são altos de sentimentos diários: ansiedade: 22%; insônia 21% e tensão 23%.

 

“Esse quadro lança um alerta para empresas e para o debate público sobre a redução de jornada no Brasil. Mesmo quando há engajamento, ele vem acompanhado de sofrimento e desgaste”, afirma Renato Souza, professor da FGV-Eaesp.

 

FAMÍLIA E PROPÓSITO, VÍNCULOS QUE SUSTENTAM O ENGAJAMENTO

O contexto familiar e o senso de propósito seguem exercendo forte influência sobre o envolvimento profissional. Entre os casados, o engajamento chega a 44%, acima dos solteiros (33%) e dos separados (34%). Entre pais e mães, o índice é ainda maior: 45%, contra 30% entre quem não tem filhos.

 

“Profissionais que são pais e mães tendem a buscar estabilidade e apoio organizacional, o que reforça o vínculo maior. De forma semelhante, os casados podem se mostrar mais comprometidos, justamente pelo desejo de garantir maior estabilidade para si e para seus dependentes”, comenta Isadora Gabriel, CHRO da Flash.

 

O QUE TRAZ FELICIDADE

Em 2025, a dimensão Boas Práticas de Gestão superou a Confiança na Liderança como principal fator de engajamento. A valorização de processos claros e previsíveis se destaca em um contexto corporativo mais volátil e pressionado por resultados.

 

Além disso, assim como no ano passado, os trabalhadores continuam priorizando o bem-estar. As três práticas que mais engajam os brasileiros, segundo o Engaja S/A, são:

►Modelo remoto ou híbrido de trabalho

►Day off de aniversário

►Benefícios flexíveis

 

Paradoxalmente, nenhuma delas está entre as ações mais comuns nas empresas, que ainda investem prioritariamente em treinamentos, reuniões de resultado e avaliações de desempenho — práticas de baixo impacto sobre a motivação.

 

 

Foto gerada por IA