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22/05/2023 - 10h48

Do líder muito é esperado

Diante do atual cenário de complexidade, podemos contribuir sendo mais objetivos, diz Marcelo Madarász

 

 

 

 

O cenário atual traz um nível de complexidade inimaginável há algum tempo, seja ao ampliarmos o olhar e incluirmos o macro, ou seja, o que está acontecendo em nosso planeta, seja ao darmos um zoom em nossa empresa, na área que atuamos ou mesmo em nossas equipes. Há um universo a ser explorado na sua maior dimensão e há até mesmo nos relacionamentos humanos, níveis crescentes de variáveis que causam sobressaltos e constantes tensões. O líder é diariamente exposto a uma avalanche de informações, novos componentes, elementos, ampliação de escopo e, ao tentar receber algum tipo de orientação, ajuda, suporte, vai entrando em labirintos de alternativas, opções, possibilidades, que, ao invés de ajudá-lo naquela que deveria ser uma simples ação de pedido de ajuda e sequente recebimento dela, só faz aumentar o já enorme poço de dúvidas.

 

Isso me faz lembrar uma cena que presenciei em recente evento de RH. Um moço se aproximou do balcão e informou à gentil senhorita que estava servindo, que queria um café. Ela questionou qual café gostaria e recebeu de volta a pergunta quais eram as opções. Com um pouco de falta de paciência, a moça respondeu que há mais de 124 espécies de café no mundo e resumiu numa explicação pouco paciente as opções que ela dispunha naquele momento. Por alguns infinitos segundos criou-se um silêncio devastador e o moço respondeu, quase envergonhado por sua ignorância, “eu só quero um café”. E repetiu: “eu só quero um café”.

 

Ela certamente não estava na mesma página que ele. Com ar de poucos amigos escolheu um café e perguntou: puro, com leite, açúcar, adoçante? Parecia uma pegadinha. Ao responder “adoçante”, ouviu nova pergunta: “que tipo de adoçante?” Veio na minha cabeça uma cena do filme Um dia de fúria, justamente quando o personagem faz um pedido numa cadeia de lanchonetes nos Estados Unidos. Felizmente a cena não se repetiu na realidade e o moço aceitou o adoçante do saquinho azul. Talvez ele nem saiba o que é aquele adoçante e só quisesse mesmo um café.

 

Essa situação está se repetindo para quase tudo. Um gestor precisa abrir uma vaga e procura Recursos Humanos para receber o apoio nessa outrora simples ação. Por novas medidas, o RH explica a estratégia abraçada pela empresa, a tentativa de trabalhar o tema Diversidade, Equidade e Inclusão. Sem perder o foco do nosso tema aqui, que é a crescente complexidade para todo e qualquer assunto, percebemos que as discussões podem se tornar infinitas e muitas vezes, há uma total e infeliz substituição do tema central, importante, essencial, por aquele que é a periferia da periferia (sem nenhum preconceito à periferia, mas querendo dizer algo que não é central).

 

Exemplo: em vez de verdadeiramente mergulhar na construção de um mundo permeado por justiça, igualdade de oportunidades, estratégias que promovam a diversidade e a verdadeira inclusão, acolhimento, tratamento igual e respeitoso a todos, há quem prefira discutir horas, semanas, meses o uso dos pronomes e as invenções linguísticas.

 

Antes de qualquer linchamento, só estou refletindo sobre o fato de que, no escuro e sem ter clareza do que de fato mais importa, as pessoas estão optando por atalhos e estradas que só estão as desviando da estrada principal.

 

Isso tem sido uma constante em muitas discussões importantes do dia a dia e, ao invés de promover um mundo no qual prevaleça a elevação do nível de consciência e da condição humana para todos, só aumentamos a separação, a diferenciação, o fosso entre nós e eles, como se essa divisão fosse a saída. Aumentam-se os muros, que, de tão altos, tornam-se cada vez mais intransponíveis, em vez de fortalecer as pontes.

 

Qual é a saída? Certamente nenhuma que separe ainda mais o que em essência não é separável…

 

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

 

Foto: Marcos Suguio