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09/12/2025 - 11h18

O futuro da capacitação será intensamente blended

Levantamento mostra tendências que vão redefinir aprendizagem, desempenho e o futuro do trabalho

 

A Qulture.Rocks, especializada em gestão de desempenho e integrante do ecossistema UOL EdTech, lançou o Report Tendências em Educação, Desenvolvimento e Performance, estudo inédito que analisa, sob a perspectiva brasileira, as forças que estão redesenhando o trabalho, a aprendizagem e a performance nas organizações.

 

O levantamento reuniu 1.160 profissionais de 11 segmentos econômicos, distribuídos por diferentes regiões do país e contempla desde grandes companhias até organizações de médio porte, reunindo diversidade de perfis, formações, tamanhos de empresa e maturidades profissionais. Do total, 57% dos participantes ocupam posições de liderança, da gerência ao C-level, enquanto 43% atuam como contribuidores individuais, o que proporcionou uma leitura mais ampla e equilibrada sobre as percepções relacionadas ao futuro do trabalho no Brasil.

 

O estudo nasceu de duas inquietações centrais: compreender quais tendências devem ganhar ainda mais força a partir de 2026 e identificar como esses movimentos globais assumem nuances próprias dentro do contexto brasileiro. A partir desse processo, foram consolidados sete macro pilares que já moldam a forma como pessoas e empresas aprendem, trabalham e performam no país: Cultura de Aprendizagem, Inteligência Integrada, Liderança Pivotante, Prontidão Proativa, Guildas do Saber, Dados de Aprendizagem e Saúde Sistêmica.

 

No eixo de Cultura de Aprendizagem, o relatório indica que, nas empresas brasileiras, o aprendizado segue fortemente associado à performance imediata, e não à evolução de carreira ou sucessão. O aprimoramento de competências aparece como principal impacto percebido, citado por 20,8% dos respondentes. Em seguida, vêm aumento de produtividade (15,3%), formação de lideranças (14,4%), melhoria da inovação (14%) e engajamento e satisfação das equipes (13,9%). Os percentuais próximos reforçam o caráter tático dado ao tema.

 

O dado mais crítico é a retenção de talentos, que surge com apenas 7,2%, percentual considerado baixo diante da relevância que a aprendizagem costuma ter para o desenvolvimento e permanência dos profissionais.

 

Para Rodrigo de Godoy, consultor em EdTech e Inovação, os resultados revelam uma visão limitada sobre o papel estratégico da aprendizagem: “Parte das organizações continua entendendo cultura de aprendizado como algo que acontece em momentos específicos, como cursos ou jornadas formais. Na prática, a aprendizagem que realmente sustenta performance e evolução acontece no fluxo do trabalho, na experimentação, na colaboração. Criar uma cultura de aprendizagem é transformar o aprender em hábito, e isso depende diretamente da liderança”.

 

O estudo também reforça que a liderança, especialmente a estratégica, ocupa lugar central nesse processo. Entre os entrevistados, 88% dos executivos C-level afirmam que oferecer acesso à aprendizagem e ao desenvolvimento é fundamental para que a estratégia de negócios se concretize.

 

“Se a cultura de aprendizado não for tratada como um pilar da cultura organizacional, com investimento, prioridade e presença na mesa onde as decisões são tomadas, ela não se espalha. Não permeia a empresa. Fica restrita a iniciativas isoladas, sem força para transformar performance e comportamento.” relata Maiti Junqueira, diretora de Solução de Desenvolvimento e Educação da Qulture.Rocks.

 

Outro eixo essencial é a adoção de Inteligência Artificial no ambiente de trabalho. De acordo com o report, 69,3% dos profissionais atuam em empresas que já utilizam IA em alguma frente e 30,7% afirmam que suas organizações ainda não adotam a tecnologia, índice elevado diante da velocidade da transformação digital no país.

 

Entre os profissionais que têm acesso às ferramentas corporativas de IA, 46,2% dizem utilizá-las com frequência, diariamente ou de forma regular, portanto, mais da metade (53,8%) afirmam usar apenas ocasionalmente, raramente ou nunca, indicando desafios concretos de fluência digital nas empresas brasileiras.

 

A percepção positiva sobre impacto e produtividade também aparece com força. Entre as organizações que utilizam agentes de IA, 72% reportam aumento de eficiência, e líderes afirmam economizar mais de uma hora por dia graças à automação de tarefas repetitivas e ao apoio da tecnologia na tomada de decisão. Para ampliar esses resultados, o estudo destaca a necessidade de avançar em três frentes: investir de maneira contínua em letramento digital, revisar processos de trabalho para integrar humanos e tecnologia e fortalecer uma cultura que estimule experimentação, criticidade e colaboração.

 

Rodrigo reforça um alerta importante sobre a adoção acelerada da IA: “O uso acrítico da tecnologia pode reduzir a capacidade analítica e empobrecer o processo de aprendizado. É o que chamamos de ‘sedentarismo cognitivo’. A adoção precisa vir acompanhada de criticidade para que a IA gere valor sem comprometer habilidades humanas essenciais.” .

 

 

Foto: Shutterstock