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Práticas Empresariais

19/05/2025 - 12h36

Empresas enfrentam gargalos para adaptação às atualizações da NR-1

Adoção de medidas para a proteção da saúde mental do trabalhador esbarra na cultura organizacional

 

 

A NR-1 (Norma Regulamentadora nº 1) passou a incluir, de forma obrigatória, riscos psicossociais no Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) em empresas com mais de 100 funcionários. E, embora o prazo para a adaptação às exigências da NR-1 tenha sido estendido até 26 de maio de 2026, o MTE (Ministério do Trabalho e Emprego) vai iniciar fiscalizações, sem multas ou penalidades, com a proposta educativa de orientar os empregadores. Mesmo ganhando mais tempo para os ajustes, grande parte das empresas vem enfrentando gargalos na adoção de medidas preventivas que visam à proteção da saúde mental dos trabalhadores. Atualizada no ano passado, por meio da Portaria MTE nº 1.419/2024, a nova regra inclui uma abordagem a gestão de riscos psicossociais, como estresse, assédio e sobrecarga de trabalho.

 

Na avaliação de Aline Oliveira, diretora da IntelliGente Consult, empresa de consultoria e mentoria organizacional, o principal gargalo na adaptação das organizações às exigências da NR-1 é cultural. “O que hoje é avaliado como risco psicossocial, tanto em benefício do trabalhador quanto do empregador, se separa por uma linha tênue do modo de operação esperado e valorizado nas empresas”, observa. Como “modo de operação”, a executiva elenca metas agressivas, jornadas exaustivas e cobranças excessivas, “que sempre foram o modus operandi de organizações com maior intenção de crescimento e lucratividade”.

 

A implementação das normativas de atenção e cuidado aos riscos psicossociais vem como resposta a uma crise de saúde mental e social. De acordo com levantamento da empresa de pesquisas Ipsos, feita que em 31 países, incluindo o Brasil, e que resultou no Relatório do Dia Mundial da Saúde Mental, 62% dos entrevistados afirmam ter se sentido estressados a ponto de identificar reflexos na vida diária. Para a maioria (41%), a saúde física nos países é tratada com maior relevância pelos sistemas de saúde do que a saúde mental (13%).

 

De acordo com o Ministério da Previdência Social, no Brasil, o número de afastamentos por ansiedade e depressão em dez anos é recorde: em 2024, foram mais de 470 mil por conta de transtornos mentais. No perfil dos profissionais afastados, a maioria é formada por mulheres, impactadas por sobrecarga de trabalho, menor remuneração, responsabilidade com o cuidado familiar e violência.

 

Embora a nova regra demarque um novo paradigma na forma como as organizações lidam com os riscos ocupacionais, incluindo agora a saúde mental como uma prioridade na gestão de segurança no trabalho, Aline destaca a demora do Brasil, mesmo diante do alto índice de afastamentos do trabalho por transtornos mentais, para se alinhar à tendência global de bem-estar e saúde mental, algo que já é praticado há pelo menos 25 anos na Europa, por exemplo.

 

“A visão sobre saúde mental no Brasil, motivo de preconceito, faz com que o trabalhador adoecido evite falar ou tratar do assunto, especialmente nos ambientes de trabalho. Quando identificados, os problemas já estão em fase crítica e avançada”, afirma Aline. Mas, prossegue as novas gerações, especialmente de classes sociais mais privilegiadas, que podem optar por deixar ambientes adoecedores, têm se posicionado sobre isso de modo diferente, com maior preocupação ao seu bem-estar e saúde, o que também tem colaborado para um olhar mais atento das empresas na forma de fazer negócios.

 

Nesse sentido, o “prazo estendido” para adaptações à NR-1 é um momento para que as organizações invistam em iniciativas adequadas às suas realidades. “O primeiro ponto nesse processo é a análise dos passivos trabalhistas para entender a correlação com os riscos psicossociais”, diz a executiva.

 

Ela recomenda adotar como estratégia realizar um diagnóstico da operação e da liderança para saber onde estão os principais riscos, adequar políticas, desenvolver uma estratégia de confiança com os colaboradores para tratar as questões psicossociais ainda em etapa inicial, implementar ações e monitorar resultados avaliando efeitos e corrigindo rotas, tudo isso acompanhado de indicadores financeiros.

 

Em síntese, a adaptação à NR-1 vai impor a identificação, gestão e mitigação dos riscos psicossociais no ambiente de trabalho, o que requer apoio de uma empresa especializada, envolvendo também treinamento e a capacitação de lideranças e equipes, além da análise jurídica de casos já ocorridos nas empresas.

 

 

Foto: Shutterstock