29/10/2025 - 15h11
O novo ciclo da liderança
Guilherme Busch, da Paschoalotto: a estratégia empresarial agora depende tanto de pessoas quanto de planos
Por Guilherme Busch*
Durante muito tempo, as empresas acreditaram que planejar bem era o mesmo que garantir o futuro. O poder estava nos cronogramas, nas metas e nas previsões. Quanto mais detalhado o plano, maior era a sensação de controle. Mas os últimos anos mostraram o contrário: o imprevisível se tornou a regra. Planos desmoronaram em questão de dias, enquanto equipes preparadas emocionalmente, conectadas por propósito e guiadas por líderes adaptáveis, conseguiram seguir em frente mesmo sem um roteiro definido.
Esse é o novo ciclo da liderança. Um tempo em que o planejamento cede espaço à presença e o controle dá lugar à confiança. As organizações mais fortes não são as que têm as melhores estratégias escritas, mas as que têm as pessoas certas para reescrevê-las sempre que o mundo muda.
Segundo a Gallup, equipes altamente engajadas são 21% mais lucrativas e 17% mais produtivas do que aquelas com baixo engajamento. É um dado que deveria estar em todo plano estratégico, porque revela uma verdade simples e profunda, resultados são consequência de relações, não de planilhas.
Os líderes do novo ciclo sabem disso. Eles perceberam que, em um cenário de automação, inteligência artificial e transformações rápidas, o diferencial está em cultivar cultura, senso de pertencimento e propósito. Entendem que não é mais possível motivar apenas com metas e recompensas, é preciso inspirar com sentido.
O líder que compreende o poder da segurança psicológica cria times que aprendem rápido, se comunicam com transparência e se adaptam em grupo. Ele entende que a previsibilidade acabou, mas a confiança pode ser construída todos os dias.
Essa é a nova competência estratégica: transformar incerteza em aprendizado e turbulência em engajamento. Não há plano que se sustente sem esse tipo de inteligência humana.
O PODER DAS PESSOAS COMO ESTRATÉGIA
Estamos, portanto, diante de uma mudança estrutural no papel da liderança. O que antes era sobre "prever e controlar" agora é sobre "preparar e inspirar". O líder do novo ciclo não é o que domina o planejamento, mas o que domina a leitura do contexto humano. Ele entende que os desafios são dinâmicos, mas que as pessoas, quando bem orientadas e valorizadas, podem transformar qualquer adversidade em vantagem competitiva.
A estratégia deixou de ser algo que nasce na sala de conselho e desce em cascata. Hoje, ela é construída no cotidiano das relações, nas conversas, nas decisões rápidas, na forma como o líder reage ao erro e celebra o acerto. Cada gesto de confiança se traduz em velocidade organizacional; cada ato de escuta genuína se transforma em inovação silenciosa. O novo ciclo da liderança exige, portanto, uma tríade que redefine o que é ser líder: autenticidade, adaptabilidade e empatia.
E há uma consequência direta dessa mudança: empresas que apostam em líderes humanos estão mais preparadas para o futuro. São mais ágeis, mais criativas e mais capazes de equilibrar tecnologia e sensibilidade, dados e intuição, processo e propósito.
O novo ciclo não pede líderes perfeitos, mas líderes presentes. Não pede controle total, mas coerência emocional e, acima de tudo, pede coragem de colocar as pessoas no centro das decisões, mesmo quando o caminho é incerto.
A verdade é que o mundo corporativo não precisa de mais planos, e mais líderes capazes de fazer planos ganharem vida. Estratégia, afinal, é o que as pessoas decidem fazer com o que não estava previsto.
E é aí, entre o que se planeja e o que se vive, que a liderança mostra sua verdadeira força.
*Guilherme Busch é vice-presidente da Paschoalotto
Foto: Divulgação/Pachoalotto

