Por que reduzir a jornada de trabalho pode ser o maior investimento em produtividade das empresas
Para o CEO da Embalixo, essa medida não significa abrir mão de metas e sim dar foco ao que realmente importa
Por Rafael Costa*
Durante décadas, a ideia de produtividade esteve associada à quantidade de horas dedicadas ao trabalho. O relógio era o termômetro da eficiência, e não o impacto do que se fazia durante esse tempo. Mas o mundo mudou. O avanço da tecnologia, a ascensão da inteligência artificial e a busca por equilíbrio entre vida pessoal e profissional colocaram em xeque a lógica de que trabalhar mais é sinônimo de produzir melhor.
Hoje, empresas de diferentes setores começam a entender que menos horas podem gerar mais resultado, desde que acompanhadas de uma cultura organizacional baseada em confiança, autonomia e propósito. É uma virada de mentalidade: produtividade e bem-estar deixam de ser conceitos opostos e passam a caminhar lado a lado.
Por muito tempo, acreditou-se que a eficiência estava ligada à presença física e à carga horária. Essa cultura, porém, trouxe consequências silenciosas, como altos índices de estresse, esgotamento e dificuldade de retenção de talentos. O trabalhador contemporâneo busca mais do que estabilidade: ele quer tempo, saúde e significado.
Pesquisas da OIT (Organização Internacional do Trabalho) e da Gallup apontam que ambientes com melhores condições de trabalho e equipes mais engajadas apresentam menores índices de absenteísmo e maior produtividade. A OIT destaca em seus relatórios The effects of working time on productivity and firm performance e Skilled Workers Matter: The business case for addressing absenteeism and turnover, que jornadas equilibradas e boas práticas de gestão têm impacto direto na eficiência e na sustentabilidade das empresas. Já a Gallup reforça que equipes com alto engajamento podem alcançar até 41% menos absenteísmo e aumento significativo no desempenho.
Produtividade com propósito: quando menos é mais
A redução da jornada é, antes de tudo, um reconhecimento de que o tempo é o bem mais valioso das pessoas, e também das empresas. Quando o colaborador tem espaço para descansar, viver e se reconectar com o que o inspira, ele volta mais criativo e comprometido.
Em países como Islândia, Reino Unido e Espanha, testes de semanas de trabalho mais curtas mostraram ganhos expressivos em performance e satisfação. No Brasil, o debate avança lentamente, mas já encontra líderes dispostos a repensar a relação entre tempo e resultado. Afinal, o capital humano é o principal diferencial competitivo, e só floresce em ambientes saudáveis.
Reduzir a jornada não é abrir mão de metas, e sim dar foco ao que realmente importa. É substituir o controle de horas pela clareza de objetivos. É permitir que as pessoas entreguem o melhor de si quando se sentem respeitadas e equilibradas.
O futuro do trabalho não pertence a quem cobra mais tempo, mas a quem inspira mais engajamento. Liderar hoje é compreender que o trabalho precisa caber na vida, e não o contrário. Quando o tempo é devolvido às pessoas, o que se ganha é algo que nenhuma métrica tradicional consegue mensurar: o verdadeiro senso de pertencimento.
*Rafael Costa é CEO da Embalixo e adotou oficialmente a jornada 5x2, reduzindo a carga semanal de 44h para 36h15, beneficiando mais de 300 colaboradores na unidade de Hortolândia (SP)
Foto: Divulgação/Embalixo








