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02/08/2023 - 11h00

As mulheres e a carreira: a mentoria como caminho

Glaucimar Peticov, do Bradesco, vê na ferramenta uma fonte potente de equidade corporativa

 

 

 

Por Glaucimar Peticov*

 

 

Com o fortalecimento e visibilidade da pauta ESG no universo corporativo, clientes, parceiros, investidores e funcionários têm esperado das empresas maior engajamento em projetos relacionados a questões sociais, de governança e meio ambiente. Mais que justo, é algo urgente, conectado às demandas de um tempo novo, dinâmico e competitivo.

 

Por isso, gostaria de propor uma reflexão a partir da perspectiva do “S” que, não por acaso, é o elemento central da sigla ESG. E começo com uma pergunta com certo viés de provocação: apesar de todo o debate em torno das questões vinculadas à inclusão e à diversidade, como, de fato, estamos nos posicionando em relação a este tema?

 

Sei que a resposta pode ser bastante abrangente, repleta de nuances, mas dessa vez focarei em nós, mulheres, que buscamos multiplicar espaços e oportunidades a partir de cada desafio superado.

 

Nos últimos anos, temos colecionado avanços relevantes e seguidos nessa temática, uma conclusão que não se baseia em impressões, mas em fatos e pesquisas reconhecidas, como um estudo realizado em 2022 pela Grant Thornton, empresa global especializada em auditoria, consultoria e tributos. Esse levantamento revela a presença de mulheres em 38% dos cargos de liderança no Brasil, um salto de 13% quando comparado ao cenário que tínhamos em 2019.

 

Apesar de reconhecer muita evolução nesses números, base de um futuro que se desenha mais plural e equilibrado, a prática mostra que temos ainda um longo caminho a percorrer. Portanto, diante do genuíno compromisso de ampliar a representatividade das mulheres no mercado de trabalho, faz todo sentido manter o tema em pauta.

 

Sempre que posso – ou sempre que necessário – gosto de incluir a mentoria como parte dessas discussões. Afinal, essa é uma ferramenta importante na composição de um cenário no qual as mulheres assumem papel protagonista, conquistando posições estratégicas. É um movimento significativo tanto para as profissionais como para as empresas, na medida em que começam a entender de maneira mais clara a dimensão do impacto de seus resultados para todos os envolvidos.

 

Sob diversos pontos de vista, a mentoria é sim uma estratégia fundamental ao desenvolvimento da carreira de mulheres, especialmente em ambientes profissionais nos quais elas são minoria ou, por vezes, enfrentam obstáculos específicos, alguns de ordem cultural. Assim, torna-se um meio eficaz para assegurar um olhar mais cuidadoso em relação às qualidades e inseguranças das mentoradas, de uma maneira assertiva, sem pré-julgamentos ou preconceitos. Mas não é só! Em uma visão mais ampla, a mentoria pode ser também um elemento de representatividade, onde as profissionais – sobretudo aquelas em início da carreira – podem conviver mais de perto com as lideranças e entender todo o potencial no sentido de ampliar horizontes e possibilidades, um contato valioso que favorece o compartilhamento de conhecimentos, experiências e insights de carreira. Em resumo, feita de forma próxima e consistente, a mentoria oferece um espaço seguro para que as mulheres possam discutir suas dúvidas, enfrentar medos e desafios.

 

Do ponto de vista das empresas, a mentoria, na medida em que contribui para o fortalecimento do papel das mulheres e desenvolvimento na carreira, inaugura uma infinidade de possibilidades que se misturam a questões como engajamento, sucessão, e, principalmente, inspiração e autonomia.

 

Certamente poderíamos passar horas – ou páginas – discutindo esse tema, seus benefícios e implicações, mas acredito que o fundamental seja isso: a mentoria nos aproxima da equidade corporativa, oferecendo a todos ferramentas e oportunidades para que possamos nos desenvolver de forma integral e plena. Dessa forma – e com a devida relevância à diversidade, equidade e inclusão –, teremos ambientes corporativos mais saudáveis, conferindo assim todo o protagonismo àquele “S” que comentei no início da nossa conversa.

 

Esse é um compromisso de todos, com todos e para todos, um movimento estratégico no qual nada pode ficar de lado, nem para depois. Como diz uma frase do escritor português José Saramago, prêmio Nobel de Literatura, um ensinamento que procuro incorporar em muitas frentes e circunstâncias do meu dia a dia: “Não tenhamos pressa, mas não percamos tempo”.

 

*Glaucimar Peticov é diretora executiva e CCO do Banco Bradesco

 

Foto: Maurino Borges