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29/08/2022 - 15h05

Carreiras não lineares e perfis multidisciplinares

Será cada vez mais raro vermos papéis fixos nas empresas como antes, diz a executiva de RH Mariana Adensohn

 

 

Por Mariana Adensohn*

 

 

Não é novidade que todos nós estamos passando por grandes transformações econômicas, corporativas e de modelos culturais de negócios. Mudanças essas que impactam pessoas e trazem novas necessidades, impulsionando ainda mais a tendência do desenvolvimento de carreiras não lineares em todos os níveis e áreas das organizações.

 

Durante muitos anos, cargos e carreira dentro de empresas eram usados como estratégia para retenção de talentos, criando assim uma espiral linear de ascensões. Quantas histórias já não ouvimos sobre o office boy que virou Diretor? O modelo linear que permeou a cultura corporativa durante muito tempo está deixando de ter força e isso deu-se a partir da transformação digital. Pessoas começaram a procurar ocupações/atividades diferentes daquelas pré-determinadas (do estagiário ao executivo) e isso desenvolveu modelos inovadores de trabalho, onde a criatividade se destaca muito. No início, esse movimento ainda era marcado pela separação dos profissionais com perfis “técnicos e não técnicos”, nichando-os ao seu universo de especialização.

 

Hoje, quando me perguntam qual é a principal característica do profissional do futuro, eu reafirmo que é a sagacidade, que vem atrelada à habilidade de saber o que faz, se comunicar de forma eficiente, falar a coisa certa na hora certa e usar o silêncio com a mesma sabedoria, além de realizar ferramentas inusitadas e estar disposto a se doar e enxergar o outro. Esse é o sagaz.

 

Do ponto de vista corporativo, o profissional sagaz não precisa dominar totalmente uma competência técnica, porque, mesmo não sabendo, vai procurar quem sabe, vai aprender, vai persuadir e vai entregar. É disso que as empresas precisam: profissionais sagazes. Ele vai lidar com o inesperado de forma leve e criativa. Vai conduzir mudanças difíceis unindo times e deixando todos confiantes. E por que profissionais sagazes serão valorizados cada vez mais? Porque nossas carreiras a partir de agora serão multidisciplinares.

 

Com o passar do tempo, será raro ver papéis tão fixos como antes. Participaremos de diferentes projetos, adquirindo experiências diversas e esse será um forte direcionador de desenvolvimento e crescimento nas empresas, independentemente de onde está posicionado no desenho “hierárquico”.

 

Da mesma forma que os mercados mudam rapidamente, os profissionais precisam acompanhar essa velocidade. Vamos ser cobrados de conhecer com profundidade o negócio e como influenciamos para que as interdependências das áreas funcionem e isso comece a impactar o negócio de forma grandiosa, alcançando assim os resultados planejados nas empresas.

 

As lideranças nas organizações já estão sendo cobradas, cada vez mais, sobre a cadência. Por isso o perfil multidisciplinar de profissionais, que não apenas possuem conhecimento no segmento em que atuam, mas que também acompanham tendências, concorrentes, mercados, passam a oferecer soluções mais interessantes e a complementar seus times em toda a organização.

 

É exatamente o que o mercado atual está demandando: alguém que entenda de tudo um pouco e que traga soluções ágeis, inovadoras e criativas. Ou seja, o profissional, por mais qualificado, não pode se acomodar. Ele precisa buscar experiências atuando em diferentes áreas de uma empresa, realizando cursos em outras áreas do conhecimento para que, assim que houver oportunidade, coloque a mão na massa.

 

Não existe fórmula mágica para ser um profissional multidisciplinar. É preciso aprender a ver o todo. Busque graduações e especializações, mas nunca perca de vista o que você aprende em todos os contextos de sua vida, com os livros, documentários e, principalmente, na relação humana – com a experiência do outro – e todos os conhecimentos e vivências do seu dia a dia. Toda vivência é uma oportunidade de aprendizado e vira, de certa forma, experiência.

 

Procure habilidades que ultrapassem o contexto tradicional da sua área, não se acomode, pois, caso contrário, você perderá espaço. Desenvolva habilidades e as relacione ao conhecimento e traga para a prática. Troque ideias com seus pares e colegas, porque é desses momentos que surgem grandes soluções (mesmo que sejam simples, a partir de diferentes pontos de vista).

 

A era de aprender uma profissão e exercê-la como especialista em algo muito específico está ficando para trás.

 

 

 

*Mariana Adensohn é CHRO da Facily

 

Foto: Divulgação