18/02/2021 - 11h07
Mundo BANI: como pensar em meio ao caos
A evolução do mundo VUCA é tema do artigo de Séfora Gabriel, diretora de Customer Experience da Neo
Por Séfora Gabriel*
Mais de três décadas após o surgimento do conceito de mundo VUCA, as incertezas da pandemia nos trouxeram a necessidade de mudar os hábitos, as abordagens de gestão de negócios e, principalmente, a comunicação com os clientes. Se antes o acrônimo VUCA, introduzido ao mundo pelo Exército dos Estados Unidos durante a Guerra Fria, nos ajudava a entender as mudanças que a sociedade enfrentava e quais as ações militares que deveriam ser adotadas para moldar estratégias disruptivas, agora precisamos nos antecipar a mudanças cada vez mais rápidas e a tendências que se sobrepõem com velocidade. Com a pandemia, passamos a viver o mundo BANI, uma espécie de “mundo VUCA 2.0”, justamente por conta das mudanças que acabaram acontecendo de forma breve, fazendo com que o futuro se tornasse cada vez mais incerto e que tendências previstas para os próximos cinco anos rapidamente se tornassem realidade.
O mundo BANI (acrônimo para frágil, ansioso, não linear e incompreensível, ou brittle, anxious, nonlinear e incomprehensible, em inglês) foi criado pelo autor, antropólogo e futurista Jamais Cascio, do Institute for the Future, e se firma como a evolução do Mundo VUCA [que descreve a volatilidade (volatility), a incerteza (uncertainty), a complexidade (complexity) e a ambiguidade (ambiguity) das condições e situações gerais]. Falar em mundo BANI não é exatamente novo - eu mesma comecei a ouvir sobre essa ideia ainda em 2018 -, mas, da mesma forma que a pandemia acelerou a transformação digital para muita gente, também acabou por popularizar esse conceito. Tudo ficou ainda mais intenso na Era Digital e eu falo por experiência própria, pois esta é uma preocupação recorrente na Neo, que está inserida ativamente nesta realidade.
O mais interessante do mundo BANI é que ele funciona como uma lente, permitindo ver e estruturar o que está acontecendo ao nosso redor, nos sugerindo oportunidades de resposta úteis. A fragilidade, de acordo com Jamais Cascio, pode ser encarada com resiliência e liberdade. A ansiedade, por sua vez, pode ser aliviada mediante empatia e atenção plena. A não linearidade requer flexibilidade. E a incompreensibilidade pede transparência e intuição.
Traçando um paralelo com o mundo VUCA, podemos dizer que o mundo BANI vai além, pois sua estrutura nos permite articular situações cada vez mais comuns (mas que de tão incompreensíveis apresentam condições caóticas), nas quais os resultados são completamente imprevisíveis. Em outras palavras, o acrônimo B-A-N-I cada vez mais se mostra como resposta para as organizações que buscam prosperar e trazer disrupções sob a nova ótica que surgiu em 2020. Isso porque a pandemia mostrou que a estratégia VUCA foi insuficiente perante as contingências que se apresentaram, pois poucas empresas estavam verdadeiramente prontas para o que aconteceu, e estar pronto para as adversidades é primordial no universo VUCA – lembre-se: militares sempre estão prontos.
Para Jamais Cascio, estamos na Era do Caos, vivendo em uma sociedade que rejeita as estruturas preestabelecidas de forma intensa, quase violenta. No mundo BANI, no qual a nossa sociedade e as nossas tecnologias deixam de ser familiares em questão de horas, no qual as mudanças em curso não são familiares, mas disruptivas e desorientadoras, precisamos estar preparados para as situações incompreensíveis e caóticas. Eu acredito que o mundo BANI reflete muito mais o ser humano e a forma como ele se sente diante desses cenários, como uma tradução do que muitos de nós estamos sentindo.
É verdade que somos moldados para pensar de forma cartesiana, mas, agora, o mundo é dos que abrem um milhão de janelas ao mesmo tempo. Embora não seja possível atuar de maneira estruturada em um mundo desestruturado, a mágica corporativa é errar de maneira rápida, corrigir rapidamente e repetir a operação. E a resposta que você procura pode estar, tenho certeza, no mundo BANI.
*Séfora Gabriel é diretora de Customer Experience da Neo
Foto de abertura: Divulgação