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Saúde e Bem-Estar

25/11/2025 - 11h21

Insatisfação com o bem-estar aumenta e autocuidado diminui entre profissionais brasileiros

Pesquisa da Vidalink traz atualização do panorama no país e o papel das empresas e gestores

 

A 3ª edição do estudo Check-up de Bem-Estar da Vidalink aponta aumento da insatisfação com o bem-estar entre trabalhadores brasileiros na comparação com o levantamento de 2024. Neste ano, 29% das mulheres declararam estar insatisfeitas – eram 25% no ano passado; entre os homens, o índice chega a 17%, ante 12%. O estudo analisou dados de 11.600 colaboradores de 250 companhias de diversos mercados e indústrias de grande porte, com mais de 300 colaboradores

 

Hábitos em queda e percepção de fadiga mental

A frequência de exercícios físicos caiu de 52% para 41% de profissionais que praticam uma vez ou mais por semana. Quando o assunto é alimentação, 66% reconhecem ser inadequada; em 2024, eram 48%. A satisfação com a alimentação despencou de 34% para 21%.

 

A percepção de fadiga mental se manteve alta, com 63% relatando sentimentos negativos frequentes: 34% estão ansiosos, 19% sentem ansiedade e angústia e 10% sentem vontade de fazer nada.

 

"Os brasileiros estão cada vez mais conscientes sobre o que precisam fazer para cuidar da saúde, mas ainda enfrentam barreiras estruturais, como tempo, recursos e apoio, para colocar essas mudanças em prática", afirma Luis Gonzalez, CEO e cofundador da Vidalink.

 

Para Lina Nakata, professora, pesquisadora, palestrante e consultora em Gestão de pessoas, Carreiras e DE&I, que participou da análise dos dados, muitas pessoas sabem que não estão bem consigo mesmas, percebem ansiedade, perda de desempenho ou sentimentos negativos mais frequentes, mas nem sempre conseguem provocar mudanças na rotina. E as empresas nem sempre reconhecem que sua cultura seja pesada ou tóxica, não estimulando propostas de melhoria da saúde mental. Muito pelo contrário, há aquelas que até estimulam essa cultura das horas extras, metas inatingíveis e zero autocuidado. Esse contexto coletivo ajuda a explicar por que o bem-estar piora mesmo com maior consciência sobre o problema", alerta ela.

 

Autocuidado mental ainda é exceção

Os trabalhadores que não fazem nada para cuidar da saúde mental representam 30% dos pesquisados, dado bem semelhante ao da edição anterior (31%). Os homens (32%) continuam mais propensos à inação do que as mulheres (28%).

 

Exercícios físicos são a prática preventiva mais realizada para cuidar da saúde mental (34%), sendo mais predominante entre os homens (39%). Por outro lado, as mulheres fazem mais terapia (16%) do que os homens (8%). 

 

De modo geral, apenas 12% fazem terapia regularmente e 9% praticam meditação. O uso de medicamentos aumentou em todas as faixas etárias, o que indica um padrão de cuidado reativo, quando o tratamento começa só após o adoecimento.

 

Para Lina, chama a atenção o fato de que praticar exercícios físicos é a principal forma de cuidar da saúde mental, mostrando que “corpo são, mente sã” seja uma verdade.

 

Mulheres continuam mais demandadas

O estudo confirma que o bem-estar feminino segue como um tema em alerta. Sete em cada dez mulheres afirmam sentir ansiedade, desmotivação ou angústia frequente, sendo que, entre os homens, o percentual, embora também expressivo, é inferior: 51%. Elas são as que mais buscam suporte (16% fazem terapia e 18% utilizam medicamentos), mas continuam com os piores índices de satisfação geral com o bem-estar (21%).

 

Além disso, 38% enfrentam dupla jornada, conciliando trabalho e afazeres domésticos, enquanto entre os homens o índice é de 24%. O público masculino permanece com o maior nível de concentração das atividades exclusivamente no trabalho (58%), ante 39% das mulheres.

 

Considerando o conjunto de responsabilidades que envolve cuidado com a casa, a família e estudos, há uma diferença de 14 pontos percentuais entre homens e mulheres, evidenciando que elas acumulam muito mais tarefas fora do ambiente profissional.

 

"As mulheres se cobram mais, são mais exigentes com elas mesmas, então há também maior insatisfação com saúde física, atividades físicas, alimentação, sono e vida financeira. Mas também possuem jornadas de trabalho mais intensas, ao considerar trabalho remunerado e não-remunerado", diz Lina.

 

Para ela, as empresas precisam reconhecer essa diferença e adotar práticas específicas para apoiar o bem-estar feminino, com políticas de flexibilidade, apoio psicológico individualizado e gestores preparados para esse olhar.

 

As vulnerabilidades da geração Z

Entre as gerações, a Z é a mais insatisfeita com o próprio bem-estar (30%). E, de acordo com o estudo, há um aumento progressivo de sentimentos negativos conforme a geração se torna mais jovem. O maior salto está na geração Z, com 72% das mulheres e 51% dos homens relatando sentimentos negativos na maior parte do dia. Essa também é a geração que mais declara não fazer nada para cuidar da saúde mental: 35% mulheres e 39% homens.

 

"Os jovens estão mais conscientes sobre saúde mental, mas também mais adoecidos. É uma geração que vive sob o paradoxo da autonomia e da exaustão: quer liberdade, mas enfrenta instabilidade e pressão constante por performance. Reconhecem a importância do autocuidado, porém ainda não conseguiram as condições necessárias para chegar a esse patamar", afirma o CEO da Vidalink.

 

Lina reforça que as lideranças, hoje formadas majoritariamente por profissionais da geração X e millennials, precisam ouvir mais e absorver as preocupações dos jovens. "Esses profissionais falam mais abertamente sobre as questões que os deixam ansiosos e desconfortáveis. As lideranças que mostrarem maior abertura para dialogar sobre as necessidades desse público conseguirão atrair os melhores jovens e aumentar a competitividade da empresa", completa a professora.

 

Bem-estar também é uma pauta de DE&I

Pessoas pretas e pardas enfrentam mais barreiras para cuidar da saúde e do bem-estar: 36% não fazem nada pela saúde mental, contra 24% dos brancos, e apenas 27% estão satisfeitas com a saúde física, frente a 35% dos brancos. Em relação à qualidade do sono, pessoas pretas e pardas insatisfeitas somam 30%, enquanto brancos somam 25%. 

 

Essas diferenças, diz Luis, evidenciam que o bem-estar também é uma questão de equidade e acesso. Lina acrescenta que as estratégias de DE&I devem considerar que não há apenas a necessidade de inclusão, mas de dar maior suporte e atenção nas discrepâncias dos indicadores de bem-estar entre os grupos.

 

Bem-estar e futuro do trabalho

O próximo desafio das empresas será transformar o discurso em prática. Para os especialistas, o futuro do bem-estar corporativo passa por três grandes frentes: diagnosticar com precisão os grupos mais vulneráveis física e mentalmente, implementar políticas e benefícios que abordem de forma efetiva os cinco pilares do estudo – saúde física, saúde mental, sono, alimentação e finanças pessoais – e formar líderes preparados para sustentar uma cultura de cuidado real.

 

Lina ressalta que o papel dos gestores é essencial para transformar o discurso de cuidado em ações reais. "Os líderes precisam praticar a empatia no dia a dia, ouvindo suas equipes sobre o que sentem e identificando as causas de queda de desempenho, seja por falta de sono, alimentação inadequada, metas excessivas ou excesso de horas extras", afirma.

 

Ela destaca que a parceria entre RH e liderança é decisiva para reconhecer sinais precoces de sofrimento e agir com rapidez, seja oferecendo descanso, reorganizando tarefas ou direcionando o colaborador para programas de apoio.

 

Luis complementa: "O futuro do bem-estar nas organizações depende da maturidade das lideranças, de maneira a complementar os programas de benefícios corporativos com uma liderança que promove espaços de diálogo e segurança psicológica, além de reavaliar práticas de sobrecarga no ambiente de trabalho. Empresas que integram dados, empatia e estratégia serão as mais preparadas para promover ambientes saudáveis e sustentáveis".

 

 

Foto: Shutterstock