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Publieditorial

21/08/2023 - 17h34

Os desafios e as oportunidades de mudar

Como enfrentar os dilemas entre o racional e o emocional no processo de mudança é tema de Silvana Mello, da TCS

 

 

 

 

 

Por Silvana Mello*

 

Mudança talvez seja um dos fenômenos mais universais do planeta. Todo ser humano mudou, muda e mudará de alguma forma, seja no aspecto físico representado pela inevitável passagem do tempo, seja pela maturidade emocional adquirida com o passar dos anos ou por algum outro motivo.  O fato é que a mudança é uma realidade constante na vida das pessoas em geral.

 

Pode-se mudar por iniciativa própria, motivada pelos próprios anseios, necessidades, por exigência, necessidade de outras pessoas ou circunstâncias. Neste artigo, exploramos um pouco os desafios e as oportunidades de mudar… afinal, por que é difícil mudar?

 

Jonathan Haidt, da Universidade de Virginia, explica, em seu maravilhoso livro The Happiness Hypothesis, os conflitos e dilemas inerentes a todo ser humano ao tomar decisões. Para isso, traz uma analogia concreta entre nosso lado emocional e racional.

 

O lado emocional é um elefante gigante e o lado racional é um cavaleiro. Em determinados momentos, o cavaleiro tenta segurar as rédeas e parece ser o líder da situação, contudo, sempre que o elefante de seis toneladas e o cavaleiro discordam sobre a direção a seguir, o cavaleiro perde, o elefante é muito maior do que o cavaleiro.

 

A maioria de nós se depara com situações como essa quando o nosso lado emocional, o “elefante”, supera nosso lado racional, o “cavaleiro”.  E isso é fácil de correlacionar com o nosso cotidiano. Quando precisamos perder peso e não resistimos a uma taça imensa de sorvete, quando faltamos na aula de ginástica, quando deixamos de fazer algo racional no trabalho para seguir o lado emocional, etc.

 

Os desafios de mudar passam primeiro pela nossa consciência da necessidade de mudar, sem essa clareza não saímos do lugar, mas os desafios não terminam por aí…

 

A consciência da necessidade da mudança sem a vontade de mudar não mobiliza nenhuma ação.  Então, consciência e vontade são ingredientes mágicos para fazer mudanças na vida ou no trabalho.

 

Mas, tem um outro desafio que é um pouco mais difícil: o não saber se quer mudar e, se mudar, vai mudar para onde ou para fazer o quê.

 

Os desafios emocionais também interferem na clareza da mudança. Por exemplo, você pode ter se acostumado a trabalhar na mesma empresa e na mesma área e mudar significa colocar em risco uma história já construída. Pode ter se acostumado a morar na mesma casa durante anos e ter receio de mudar e perder algo.

 

Em nossa experiência apoiando líderes nas organizações em seus desafios de mudança, reconhecemos pontualmente algumas dificuldades e aproveitamos para explorar algumas dicas:

 

Reconhecer que é necessário mudar

Muitos líderes não conseguem visualizar a necessidade de mudar por alguns motivos: não enxergam exemplos concretos de mudança dentro da empresa ou não conseguem desenvolver uma visão futura do negócio em que estão envolvidos. Me lembro, anos atrás, como executiva de RH, da mudança que as empresas de comunicação gráfica (jornais e listas telefônicas) tiveram que fazer em função da chegada de um mundo digital. Muitos líderes não conseguiam perceber que essa mudança era concreta, real e irreversível. A era digital chegou e muitos líderes dessas empresas tiveram que ser desligados ou aposentados. Reconhecer, de verdade, que é preciso mudar, é um primeiro passo. A dica aqui é conversar com pessoas diferentes, buscar motivos concretos, entender a necessidade, estudar.

 

 Ter vontade de mudar e construir uma visão positiva sobre o futuro

A vontade é como o elefante, muitas vezes ela domina uma situação. O interessante aqui é trabalhar com a imaginação sobre os ganhos que a mudança trará em sua vida ou em seu trabalho. Jeffrey M. Hiatt, criador do Modelo ADKAR (Awareness, Desire, Knowledge, Ability e Reinforcement), fala sobre as dimensões da mudança e a importância de cada uma. Primeiro, precisamos entender a mudança, par depois construir o desejo de mudar. Sem o desejo as coisas não acontecem.

 

Superar os desafios da procrastinação

Procrastinar uma mudança é um desafio de muitos líderes. O fato é que a procrastinação tem um significado. O diálogo interno negativo e automático alimenta a procrastinação. As razões que levam as pessoas a procrastinar geralmente incluem perfeccionismo, preguiça, tédio, diálogos internos negativos, incapacidade de lidar de maneira madura com eventos difíceis, preocupação com fracassos ou sucesso, sobrecarga de trabalho pendente, não saber por onde começar, não saber quais decisões tomar primeiro, preferir fazer outra coisa que ofereça gratificação instantânea e não enfrentar as consequências imediatas da falta de ação. Ainda assim, mesmo os procrastinadores crônicos podem parar de procrastinar seguindo duas dicas: 1) Descasque primeiro o abacaxi, procure realizar as piores tarefas ou “abacaxis” em primeiro lugar. Uma vez livre dos abacaxis, as tarefas restantes se tornam mais fáceis. 2) Concentre-se nos primeiros dez minutos – você pode se sentir intimidado ao pensar em todo o trabalho dado por apenas uma tarefa. Concentre-se nos primeiros dez minutos. Depois de iniciar, a tarefa vai se tornar mais fácil de ser concluiída.

 

Considerar que mudar não envolve necessariamente adquirir novas competências, mas deixar de lado velhos hábitos

No belíssimo livro What got you here won’t get you there, Marshall Goldsmith fala da importância de rever antigos hábitos, construídos e enraizados com a premissa de que os hábitos antigos vão fazer você chegar aonde você quer. Assim,  a frase O que trouxe você até aqui não vai fazer você chegar até lá diz respeito a algo que você precisa esquecer, deixar de fazer, delegar ou fazer de um jeito completamente diferente. Faz sentido? Sim, é uma mudança mais difícil porque envolve desconstruir algo que você levou tempo para construir.

 

E por último… Lidar com as perdas de toda mudança/escolha

 Mudar invariavelmente significa optar por diferentes caminhos, não há como assumir uma mudança e continuar om o pé no passado, afinal, como diria Charles Brown, cada escolha uma renúncia, esta é a vida.  A perda pode significar um risco, um caminho que não deveria ser escolhido, etc A dica aqui é perceber que mudar é uma fonte imbatível de força, quanto mais mudamos mais crescemos e nos fortalecemos. Eu me lembro, até hoje, da difícil mudança que vivi quando deixei de ser executiva para entrar no mundo de consultoria. Eu tinha a clareza e o desejo de mudar, mas foi difícil porque eu mudei “fisicamente”, mas o modelo mental continuava o mesmo, ou seja, eu era uma executiva no “corpo” de uma consultora.

Mudar, mudar mesmo, leva tempo, há um período de transição interna entre o velho e novo, mas lembre-se disto: A essência da felicidade é não ter medo.

 

 

*Silvana Mello é PCC – Professional Certified Coach pelo ICF e sócia-diretora da empresa  TCS – Talent Creative Solutions, consultoria especializada em desenvolvimento de líderes.

 

 

Nós, da TCS, desenvolvemos projetos de mentoria individual e/ou grupal, na forma de voluntariado ou no formato corporativo.

 

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