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Liderança

27/11/2025 - 11h44

Sobrecarga de comando gera chefes ausentes e desafia cultura organizacional

O acúmulo de responsabilidades tem afastado os líderes de sua função essencial, alerta especialista

 

 

A sobrecarga de comando tem levado líderes a um estado de ausência, gerando indisponibilidade e pouca conexão com suas equipes, aponta um diagnóstico recente no ambiente corporativo. Esse fenômeno, que se manifesta na principal queixa dos colaboradores, "meu chefe sumiu, não consigo agenda com ele", compromete a cultura organizacional e a eficiência operacional das empresas. O alerta vem do especialista em cultura organizacional e CEO da DHEO Consultoria, Adeildo Nascimento.

 

O artigo How Many Direct Reports?, de Gary L. Neilson e Julie Wulf e publicado em 2012 na Harvard Business Review, já apontava o aumento das demandas sobre a liderança. De acordo com os autores, a média de reports direto para um CEO havia passado de cerca de cinco nos anos 1980, para quase dez nos anos 2000, reflexo da estratégia de horizontalização e redução de camadas gerenciais (flat management structure) adotada por grandes corporações globais, incluindo empresas do Vale do Silício.

 

Adeildo contextualiza o risco citando um fato histórico. No período dos Três Reinos da China, o estrategista Zugliang, ao acumular funções como general e diplomata, perdeu linhas de comando, sendo a exaustão e a falta de agenda com seus subordinados apontadas por historiadores como fatores em sua derrota.

 

Autonomia e insegurança

A ausência do líder gera um estado de insegurança no time, muitas vezes disfarçado de autonomia. Segundo dados de pesquisas recentes, mais da metade dos colaboradores não sabe exatamente o que seu superior espera deles, causando ansiedade e fricção organizacional.

 

"Autonomia, desprovida de definição clara de objetivo e propósito, gera insegurança", afirma Adeildo. Ele explica que a indisponibilidade do líder em atividades de qualidade com o time faz com que o trabalho se encolha, conceito que encontra paralelo na Lei de Parkinson.

 

Governança leve

Para reverter o quadro, o caminho reside na cultura e na redefinição do papel da liderança, que deve migrar da centralização para a facilitação, pois a centralização da liderança compromete a cultura organizacional. O consultor ressalta a necessidade de promover a distribuição de liderança na estrutura da empresa, ou seja, as empresas devem ter a compreensão de que apenas quem detém um cargo é líder não é mais compatível com o cenário atual.

 

A recomendação final envolve a criação de uma governança leve, baseada em autonomia com responsabilidade e accountability, e o cuidado com a saúde dos líderes, visto que a sobrecarga tem gerado quadros de burnout e crises de ansiedade na faixa dos 40 a 50 anos.

 

 

Foto: Shutterstock