
12/06/2025 - 10h51
Mercado em silêncio: o que o quiet hiring revela sobre a resposta das empresas ao quiet quitting
Sem diálogo, cenário pode se tornar uma bomba-relógio nas organizações
Se, em 2022, o mundo corporativo se viu de frente para um fenômeno de quiet quitting, no qual seus colaboradores simplesmente paravam de ir além do mínimo no trabalho, agora, as empresas agem de maneira igualmente discreta com o quiet hiring.
“O que vemos é um duelo silencioso dentro das empresas. De um lado, os profissionais dizem 'não vou mais trabalhar em excesso pelo mesmo reconhecimento'; do outro, as empresas dizem 'então vamos redistribuir as funções sem contratar mais pessoas", analisa Thomas Costa, Chief of Growth do Infojobs e porta-voz da plataforma Pandapé.
Um estudo da Gallup mostra que, em 2023, mais da metade dos trabalhadores norte-americanos assumiram o comportamento de cumprir o estritamente necessário em sua função e não se comprometer com mais do que isso. Na prática, o profissional não se demite, mas se desengaja emocionalmente. Ele cumpre horários, faz o que é pedido, mas sem vontade.
"No Brasil, esse comportamento tem sido mais frequente entre gerações como os millennials e a geração Z, que passaram a priorizar qualidade de vida e equilíbrio entre vida pessoal e profissional. Eles buscam ambientes mais saudáveis e não querem mais se sacrificar por promessas vagas de crescimento", explica Thomas.
Em resposta, as empresas com orçamento apertado e dificuldades para atrair talentos têm adotado a prática do quiet hiring, ou "contratação silenciosa". A estratégia consiste em promover colaboradores para novas funções, terceirizar atividades ou, temporariamente, direcionar a equipe atual para absorver novas demandas sem a abertura de novas vagas.
Segundo relatório da Gartner, um em cada cinco líderes de RH afirmou que o quiet hiring já é uma estratégia utilizada para contornar gaps de habilidades. "Em vez de contratar, muitas empresas preferem utilizar o que já têm: promovem internamente, sobrecarregam alguns times, terceirizam funções. Às vezes, é uma oportunidade; outras, acaba se tornando uma sobrecarga velada", avalia Thomas.
Conflito silencioso ou oportunidade de reconexão?
Quando o colaborador está em quiet quitting e a empresa, em quiet hiring, o cenário é de uma bomba-relógio feita de frustração, performance abaixo do esperado e aumento de turnover. Para evitar esse choque, a chave está na transparência e na escuta organizacional ativa. Thomas diz que as empresas que comunicam claramente seus desafios e envolvem os colaboradores nas decisões transformam o quiet hiring em uma valorização interna, e não em uma imposição.
De acordo com ele, para lidar com essas tendências de maneira estratégica as orientações são:
- Rever constantemente os escopos de trabalho: ninguém pode acumular funções sem trazer resultados claros em contrapartida.
- Criar planos de carreira e de desenvolvimento efetivos: "o colaborador precisa compreender o que ganha ao se engajar no presente e nas futuras movimentações."
O futuro do trabalho clama por mais diálogo e muito menos improviso. “O ponto de equilíbrio é dar propósito para os dois lados – e isso só se constrói com cultura, comunicação e liderança", finaliza o executivo.
Foto: Shutterstock