04/12/2025 - 14h54
De olho em 2026, é possível alinhar pessoas, cultura e IA para sobreviver às mudanças
Para isso, e diante das diferentes vivências e percepções dos colaboradores, é preciso ter um olhar humanizado
A rápida adoção de ferramentas de IA pode criar a ilusão de que o futuro do trabalho será definido exclusivamente por tecnologia. Mas a evidência aponta para outra direção. O que realmente ditará competitividade e resiliência é a capacidade de as empresas construírem culturas claras, lideranças bem preparadas, ambientes psicologicamente seguros, cargas de trabalho sustentáveis, habilidades humanas renovadas e confiança para lidar com mudanças constantes.
O problema é que, hoje, líderes e funcionários enxergam esse cenário de maneiras muito diferentes. Segundo o relatório Workforce Trends Report 2026 , da DHR Global, 93% dos profissionais afirmam que a cultura é "muito" ou "extremamente" importante, mas para apenas 36% a cultura de suas próprias empresas é "bem definida" e "direciona performance".
A discrepância se amplia no recorte hierárquico: 77% dos executivos consideram cultura muito importante, enquanto apenas 37% dos profissionais em início de carreira demonstram a mesma percepção. O relatório mostra ainda que líderes são 2,5 vezes mais propensos a afirmar que a cultura é "clara e consistente", um sinal de que, para quem está na base, a cultura declarada e a cultura vivida não coincidem.
Essa diferença de percepção importa porque cultura não é o que a empresa diz que é; é o que as pessoas experienciam diariamente. E, se o cotidiano de trabalho mudou, a cultura precisa mudar com ele. Com equipes distribuídas e encontros digitais substituindo interações espontâneas, elementos culturais que antes emergiam de forma orgânica agora dependem de intencionalidade. O levantamento da DHR indica que 34% dos profissionais sentem falta de reconhecimento e recompensa alinhados aos valores, 34% desejam mais autonomia e flexibilidade e 29% pedem comunicação mais clara e consistente da liderança.
Esse descompasso leva ao primeiro ponto crítico para 2026: empresas que tentarem "recriar cultura" apenas por imposição, especialmente via políticas rígidas de retorno 100% presencial, tendem a perder engajamento, não a fortalecê-lo. "O futuro do trabalho demanda escuta ativa, adaptação contínua e compromisso real com o bem-estar de quem constrói os resultados das empresas", diz Andre Purri, CEO da Alymente.
Ao deslocar o foco da tecnologia para as pessoas, as tendências mapeadas para 2026 redesenham o mapa de prioridades das organizações:
Cultura deixa de ser intangível e vira ativo estratégico: a cultura passa a ser tratada como risco reputacional e operacional, monitorada e gerenciada com dados.
IA demanda governança, ética e clareza além de treinamento técnico: a falta de alinhamento entre líderes e equipes, apontada pela DHR como uma lacuna crescente, é um risco direto à adoção e ao engajamento.
Segurança psicológica se torna pré-condição de inovação: a estagnação em empatia e respeito, medida por pesquisas de clima e pulse checks, bloqueia ideias e reduz colaboração.
Flexibilidade migra de benefício para infraestrutura de retenção: a autonomia como o fator mais relacionado à permanência, sobretudo entre jovens talentos.
Burnout aparece como principal risco de talento: em índices próximos ou acima de 80%, deixa de ser fenômeno individual e passa a indicar falha sistêmica na organização do trabalho.
Lideranças precisam se requalificar (e rápido): as habilidades humanas que sustentam transformação (comunicação, empatia, tomada de decisão em incerteza) se tornam tão estratégicas quanto qualquer skill técnico.
Os diagnósticos convergem para uma mesma conclusão: atravessar o próximo ciclo tecnológico exige investimento profundo em pessoas, comunicação transparente, segurança psicológica e aprendizagem contínua. Em uma era marcada por volatilidade acelerada, uma certeza permanece: novas mudanças virão e só as empresas que alinharam cultura, liderança e pessoas terão condições reais de acompanhá-las.
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