01/12/2025 - 10h01
A coragem de ser vulnerável: 5 lições que aprendi como mentora de carreira
A executiva de RH Fernanda Antonelli conta como foi a experiência de praticar mentoria executiva
Por Fernanda Antonelli*
Neste ano, tive o prazer de participar como mentora em um Programa de Mentoria Executiva para Mulheres. Que experiência enriquecedora! O programa foi, para mim, uma oportunidade de organizar e reforçar muitos dos aprendizados que já vivencio no dia a dia corporativo.
Mais do que um processo de desenvolvimento profissional, viver uma mentoria de mulher para mulher trouxe um significado ainda mais profundo. Há uma escuta diferente, uma identificação natural e uma troca genuína sobre os desafios e conquistas que marcam a jornada feminina no mundo corporativo. Essa conexão cria um espaço de confiança, empatia e fortalecimento mútuo, algo que transcende técnicas e metodologias.
Segundo o Global Mentoring Group, mentoria é “o processo de apoiar uma pessoa na identificação e criação de estados desejados, desenvolvendo e acessando seus recursos internos para obter resultados de forma acelerada.” Desde o início dessa jornada com minha mentorada, tenho refletido sobre o que realmente torna esse processo tão transformador para nós duas e como isso influencia positivamente também as trajetórias que temos construído nas organizações das quais fazemos parte.
A seguir, compartilho cinco lições que levo desse ciclo que se encerra neste final de ano e que acredito poder inspirar outras mulheres em suas carreiras.
1. Vulnerabilidade é força
Em processos de mentoria, é comum que as primeiras conversas girem em torno de metas e resultados. Tudo isso é importante, mas, no fundo, a verdadeira conexão acontece quando há espaço para a vulnerabilidade.
Quando mentora e mentorada podem compartilhar dúvidas, inseguranças e aprendizados sem receio de julgamento, a relação se humaniza e a confiança floresce. A partir daí, as conversas se tornam mais autênticas, as perguntas mais profundas e as trocas mais significativas.
Tenho certeza de que este processo é enriquecedor para qualquer profissional e ainda mais no contexto da liderança feminina, em que temos ainda muitos desafios pela frente, apesar da evolução dos últimos anos.
2. Clareza de objetivos evita frustrações
Acredito que um dos pontos mais importantes em qualquer processo de mentoria é definir claramente os objetivos que queremos alcançar. Por isso, é essencial incentivar uma reflexão estruturada desde o início, ajudando cada participante a compreender:
• Qual é o seu plano de vida e carreira?
• Onde deseja chegar profissionalmente?
• Quais competências ou comportamentos precisa desenvolver?
• Como esses objetivos se conectam à estratégia e aos desafios da organização?
Quando existe clareza, a jornada se torna mais consistente, mensurável e alinhada. A mentoria deixa de ser apenas uma troca de experiências e passa a gerar impacto real.
3. Escutar é mais poderoso do que responder
Como mentora, achei natural querer compartilhar minha própria experiência e oferecer caminhos. No entanto, a verdadeira força da mentoria está menos nas respostas prontas e mais na escuta ativa e genuína, algo que aprendi na prática.
Dessa forma, criar um espaço de reflexão, em que a mentorada possa se ouvir, questionar e elaborar suas próprias respostas, é o que realmente estimula o aprendizado e o autoconhecimento.
A mentoria não é sobre apontar soluções, mas sobre construir um ambiente de confiança, onde cada mulher se reconhece como agente de seu próprio destino, ou seja, como protagonista da própria trajetória.
A mentora deixa de ser quem “dá o caminho” e passa a ser quem ajuda a fazer as perguntas certas, permitindo que cada mulher descubra, por si mesma, a direção que faz mais sentido em sua trajetória.
4. Carreira com intencionalidade
Normalmente, as trajetórias profissionais costumam seguir caminhos já estabelecidos, com etapas e expectativas bem definidas. No entanto, cada carreira pode (e deve) ser construída de forma intencional, conectada ao que realmente faz sentido para quem a trilha.
Assim, participar de uma mentoria também é um convite à reflexão sobre perguntas essenciais:
• O que desejo aprimorar em mim ao longo desta jornada?
• Que legado quero deixar na organização e nas pessoas ao meu redor?
• Como minha atuação se conecta aos meus valores e motivações?
Acredito que, quando a carreira é conduzida essa clareza, ela ganha resiliência, autenticidade e significado.
5. Encerrando um ciclo, abrindo caminhos
Concluindo esse ciclo de mentoria, olho para trás e reconheço as conexões criadas, os aprendizados compartilhados e as transformações, muitas vezes silenciosas, que ocorrem ao longo do processo.
Mais do que resultados tangíveis, esta trajetória percorrida em dupla deixa como marcas a importância da confiança, da clareza, da coragem e da coerência com os próprios valores para uma boa gestão da carreira.
Esses elementos fortalecem não apenas o desenvolvimento individual, mas também as próprias empresas e suas culturas, criando ambientes mais empáticos e colaborativos.
Penso que percorrer o caminho dessa maneira, com intenção, abrindo espaço para o novo, é o que faz a carreira evoluir. Como diz Brené Brown, em seu livro A Coragem de Ser Imperfeito (que indico a todos): “coragem não é vencer ou perder, é se mostrar com o coração aberto, mesmo sem garantir o resultado.”
*Fernanda Antonelli é diretora de Pessoas da Horiens, Novonor e Fundação Norberto Odebrecht
Foto: Vivian Koblinsky

