24/11/2025 - 16h04
Criatividade impulsiona o futuro do trabalho e redefine o papel humano nas empresas
Estimular a criação exige a coragem de desafiar hierarquias, diz CEO da Vinho Tinta neste artigo
Marcos dos Santos*
A capacidade de imaginar novas soluções e transformar ideias em ação não é um luxo reservado às mentes artísticas, mas a linha que separa profissionais e empresas que criam o futuro daquelas que apenas reagem a ele. O discurso sobre inovação se tornou onipresente, embora raramente venha acompanhado de uma cultura que estimule a experimentação e o pensamento original. Esse é o grande paradoxo do mercado de trabalho contemporâneo: fala-se muito em inovar, mas ainda são poucos os espaços realmente abertos à criação autêntica e estruturada.
De acordo com o Relatório sobre o Futuro dos Empregos 2025, do Fórum Econômico Mundial, a capacidade criativa está entre as três principais competências exigidas para os próximos anos, ao lado do pensamento analítico e da resolução de problemas complexos. No Brasil, uma pesquisa da FIESC publicada em janeiro de 2025 revelou que 90% das empresas afirmam investir na capacitação de seus times para a transformação digital, mas menos de 30% mantêm programas formais de estímulo à inovação. Essa contradição evidencia o desafio de tentar avançar sem permitir que as pessoas questionem o óbvio, o que limita a adaptabilidade das organizações em um cenário cada vez mais competitivo e automatizado.
A lógica produtivista ainda dita o ritmo dentro das corporações, levando muitos líderes a confundirem eficiência com inventividade e, assim, sufocarem o que mais necessitam para se manter relevantes em um mundo em que a inteligência artificial executa de forma precisa as tarefas repetitivas. O verdadeiro diferencial humano não está na velocidade, mas na imaginação, na capacidade de enxergar novas possibilidades e conectar ideias aparentemente desconexas. Estimular a criação exige coragem para desafiar hierarquias, questionar hábitos e rever métricas de sucesso. Ambientes que aceitam o erro como parte do processo são os que mais evoluem, enquanto culturas que punem qualquer desvio se tornam engessadas e previsíveis.
O sistema educacional brasileiro, por sua vez, ainda reforça esse modelo limitado. Segundo o Relatório PISA 2022, analisado pelo Instituto Ayrton Senna, o Brasil ficou abaixo da média da OCDE em pensamento criativo, o que demonstra que seguimos formando gerações de jovens capazes de repetir fórmulas, mas com pouca desenvoltura para propor novas soluções. Quando escolas e universidades continuam a premiar quem acerta o gabarito e não quem formula boas perguntas, o resultado são profissionais excelentes na execução, mas frágeis na inovação.
Transformar o discurso em prática requer uma mudança profunda naquilo que valorizamos nas pessoas e nas empresas. Reconhecer o valor da criação humana significa entender que, sem ela, o futuro do trabalho será apenas uma extensão automatizada do passado. Organizações que cultivam a imaginação e o pensamento divergente não apenas inovam mais, mas também retêm talentos, fortalecem vínculos emocionais e constroem ambientes em que o trabalho volta a ter propósito, algo cada vez mais raro em tempos de aceleração digital.
A inventividade, compreendida como uma força estratégica e humana, é talvez a resposta mais poderosa ao desafio de viver e prosperar em um mundo em constante transformação. Mais do que pensar fora da caixa, é preciso ter coragem de reconstruí-la com novas formas, significados e propósitos, porque o verdadeiro ato de criação nasce quando deixamos de temer o novo e passamos a moldá-lo.
*Marcos dos Santos é fundador e CEO da Vinho Tinta, criada em 2019. Antes disso, atuou como pesquisador de Teoria dos Jogos, na Universidade Estadual do Arizona, e foi Consultor de Educação Corporativa na Volvo
Foto: Anderson Loyola

