Por Mariana Pimenta
Como executiva responsável pela gestão de pessoas em uma organização global, gostaria de retomar a discussão de um tema fundamental para empresas com esse perfil: o multiculturalismo. Esse conceito, utilizado e desenvolvido por pensadores que se debruçam sobre os temas da globalização e da modernidade, se refere à coexistência de culturas diferentes em um determinado ambiente, seja um país, uma cidade ou em organizações/empresas. Quando incorporado nas práticas internas, pode se tornar um pilar estratégico que impulsiona a inovação, fortalece a colaboração, além de promover o bem-estar e o desenvolvimento dos colaboradores, seja qual for o nível em que atuam.
Isso se deve ao aspecto pluralista abarcado pelo multiculturalismo, que não só aceita como estimula a diversidade de pensamentos e ideias a respeito de um determinado tema. Em organizações que se guiam por esse conceito, o debate é visto como salutar em vez de algo a ser evitado. Não existe pensamento único ou verdades impostas a partir de posições hierárquicas, por exemplo. O diálogo entre culturas e visões de mundo é entendido como uma mola propulsora para a criatividade e a inovação.
Ao alargar as fronteiras geográficas, o multiculturalismo se manifesta na forma pela qual os colaboradores de uma organização aplicam seus conhecimentos e se adaptam a novos contextos. Temos um exemplo bastante representativo, de uma das líderes da SumUp. Ao migrar para a nossa operação nos Estados Unidos, uma executiva brasileira notou um tipo de comunicação interpessoal muito mais direta e objetiva, que não chegou a causar incômodo porque ela já tinha um perfil parecido. Ainda assim, utilizando-se da origem latina, uma cultura que se alimenta da festividade, fez questão de inserir no ambiente de trabalho um grau maior de proximidade entre os integrantes de sua equipe.
Esse caso ilustra as diferenças no trato interpessoal existentes entre as culturas, visíveis tanto nas ações cotidianas e informais quanto dentro de uma dinâmica empresarial. A executiva em questão foi hábil em fazer a leitura do que a nova realidade lhe demandava. Mesclou características que eram apropriadas ao contexto norte-americano com as que carregava consigo por ser brasileira. Essa fusão de costumes no dia a dia é um ganho inestimável, pois humaniza as relações e enriquece o ambiente.
O multiculturalismo exige também atenção redobrada aos processos de comunicação entre os colaboradores. É fundamental desenvolver uma fala clara, inclusiva e sensível às nuances culturais, pois o que é aceitável em um país pode ser mal interpretado em outro. Precisamos criar canais e treinamentos que promovam a escuta ativa e a empatia, garantindo que todos se sintam compreendidos e valorizados. Isso é vital para a saúde mental e o senso de pertencimento.
Outro ponto importante é a adaptação de processos e políticas. Desde a integração até a gestão de desempenho, é necessário que haja políticas flexíveis para acomodar diferentes expectativas e legislações. A experiência de uma de nossas especialistas, que se mudou para a Europa e percebeu um ritmo de trabalho mais lento, mas com maior clareza em relação a processos de trabalho, mostra a necessidade de entender e respeitar essas diferenças. Devemos ser facilitadores dessa transição, oferecendo suporte em realocação, documentação e consultoria cultural, assegurando uma mudança positiva e menos estressante.
Os ganhos de incorporar o multiculturalismo no ambiente organizacional são multifacetados e se refletem na performance e na vida dos colaboradores. A inovação é um dos maiores benefícios: quando pessoas de diferentes origens, com variadas formas de pensar e resolver problemas, se unem, a criatividade explode. Soluções mais robustas e abrangentes surgem, testadas e validadas por uma gama mais ampla de perspectivas. Essa mistura rica de experiências e pontos de vista nos impulsiona a ser mais ágeis e adaptáveis.
Além disso, há um fortalecimento da colaboração e da resiliência. Equipes multiculturais aprendem a navegar pela complexidade e a construir pontes entre diferentes formas de trabalho. Isso se traduz em uma organização mais robusta, capaz de enfrentar desafios globais com maior eficácia, e em colaboradores mais flexíveis e adaptáveis.
Em síntese, entendemos que a diversidade de culturas e nacionalidades não é apenas uma escolha, mas uma necessidade estratégica. É a partir dessa mescla rica de experiências e pontos de vista que as empresas podem ser impulsionadas a se tornarem mais ágeis e adaptáveis às demandas de um mercado global. Essa sinergia permite inovar com mais profundidade, criar conexões autênticas com os colaboradores e, fundamentalmente, impulsionar o crescimento de cada um dos talentos, tornando-os profissionais ainda mais completos e felizes em seu ambiente de trabalho. O multiculturalismo é, sem dúvida, um pilar para o futuro do mundo do trabalho, e especialistas em pessoas têm um papel central em pavimentar esse caminho.

Mariana Pimenta é head de People para o Brasil na SumUp









