
11/06/2025 - 17h37
O líder como catalisador da transformação com IA
Nestes novos tempos, o papel dos líderes ganha uma nova camada de responsabilidade, diz especialista
Por Valéria Oliveira*
Nos corredores da ATD (Association for Talent Development), uma das maiores e mais influentes organizações do mundo dedicadas ao desenvolvimento de talentos e aprendizagem corporativa, entre conversas sussurradas e keynotes impactantes, uma certeza foi ganhando forma: o futuro do trabalho não será desenhado apenas por algoritmos, mas pela forma como os líderes escolhem integrá-los à cultura, à estratégia e, acima de tudo, à essência humana das organizações e o mercado já sinaliza isso com clareza.
Segundo a pesquisa The AI Equation: 2024 AI Business Impact Research, mais de 70% dos funcionários dos Estados Unidos, do Reino Unido, da Alemanha e Austrália acreditam que a IA impactou positivamente sua satisfação no trabalho. O estudo também mostra que a influência da inteligência artificial se estende além da felicidade sobre o trabalho, com 83% dos entrevistados afirmando que ela aumenta significativamente a produtividade do dia a dia.
Em um mundo que automatiza decisões com velocidade impressionante, o papel do líder ganha uma nova camada de responsabilidade: ser um curador de relevância. Diante da avalanche de dados, ferramentas e possibilidades técnicas que a Inteligência Artificial nos oferece, é o líder quem precisa filtrar o que importa, traduzir o que é útil e alinhar o que é valioso para o presente e o futuro da empresa.
A IA nos dá velocidade, mas cabe ao líder dar direção. A tecnologia entrega volume, mas é o olhar humano que entrega valor. Mais do que aprender a operar novas ferramentas, espera-se que o líder desenvolva a capacidade de discernir entre o que pode ser automatizado e o que precisa, essencialmente, continuar humano.
Não se trata de uma disputa entre homem e máquina, mas de uma nova coreografia entre ambos. A inteligência artificial pode apoiar análises, antecipar cenários e até personalizar trilhas de aprendizagem, mas a sensibilidade para escutar o que não foi dito, perceber o desalinhamento emocional de um colaborador ou interpretar o contexto cultural de uma decisão continuará sendo um território humano.
O líder do presente e do futuro não precisa ser um engenheiro de machine learning, mas precisa dominar a arte de fazer perguntas certas, usar dados com responsabilidade e liderar pessoas com empatia e visão sistêmica. Ser um catalisador da transformação com IA é, antes de tudo, integrar pessoas ao processo, não apenas sistemas. É apoiar sua equipe em um processo de mudança profunda sem abrir mão do desenvolvimento humano e é aqui que reside a diferença entre automatizar por eficiência e transformar com significado.
Liderar com tecnologia, mas não por ela
A liderança com IA exige uma escuta refinada e uma atuação intencional. As decisões continuarão sendo tomadas por pessoas, a diferença é que, agora, elas terão mais subsídios, mais simulações e previsões. Mas isso não reduz a importância da intuição, da ética, da sensibilidade. O que muda é o cenário em que essas competências são colocadas à prova.
O líder curador de relevância é aquele que protege a cultura da organização do excesso de automatização desnecessária. Que sabe dizer "não" ao hype e "sim" ao que, de fato, gera valor. Que entende que a empatia não pode ser delegada a nenhum algoritmo, e que o desenvolvimento de pessoas continua sendo o único caminho para criar ambientes sustentáveis de inovação. Em vez de temer a tecnologia, o líder que compreende seu papel nesse novo contexto assume seu lugar como mediador entre potencial técnico e impacto humano.
A inteligência artificial não substitui a inteligência emocional. E no fim do dia, o que transforma não são os dados, são as decisões e elas continuam sendo humanas. O futuro será, sim, automatizado em muitos aspectos, mas continuará profundamente humano naquilo que importa.
*Valéria Oliveira é especialista em desenvolvimento de líderes e gestão da cultura
Foto: Divulgação