11/12/2023 - 10h36
Pensamentos de dezembro
A pausa nos reposiciona em relação à nossa condição humana, diz Marcelo Madarász em sua coluna mensal
Por Marcelo Madarász*
A sabedoria popular diz: nada como uma noite entre dois dias. Por mais que valorizemos imensamente os frutos das obras acadêmicas e de outros estudiosos e façamos bom uso desse rico conjunto que está à nossa disposição, temos que reconhecer, tirar o chapéu e aplaudir estas pérolas da sabedoria popular: “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe”; “O que é malfeito não tem futuro, o que é bem-feito não tem fronteiras”. Esses provérbios, muitas vezes oriundos de textos religiosos, nos ajudam em momentos desafiadores, momentos de travessia, situações nas quais temos que enfrentar a noite escura da alma.
Dezembro é um bom mês para fazermos mergulhos em reflexões, uma vez que marca o término de um ciclo e o início de outro. Se tempo e condições tivéssemos, colocaríamos uma placa “fechado para balanço”, da mesma forma que usaríamos uma eterna legenda em nosso próprio ser: em construção.
O fato é que essa época do ano traz um convite – e muitas vezes uma convocação – para que paremos, ainda que por um rápido período, para analisar o saldo do ano em todos os aspectos: os pessoais, os profissionais e, principalmente, o que fizemos com o pedaço de tempo que nos foi dado de um 1º de janeiro a um 30 de dezembro.
Convenções, rituais, ritos de passagem – nem todos valorizam, mas eles são importantes em alguns aspectos. Valorizar uma noite entre dois dias nos remete a quanto a pausa é, mais do que bem-vinda, extremamente necessária, a ponto até de estar referenciada em nossas leis trabalhistas. A pausa, da mesma maneira que a finitude, nos reposiciona em relação à nossa condição humana, que, muitas vezes, acaba sendo relegada a segundo plano por nós mesmos. Dezembro então nos convida para pensarmos no tempo.
Muitos o enxergam como o senhor da razão, muitos dizem que ele cura tudo, Proust o homenageou em sua obra Em Busca do Tempo Perdido. Alguns de nós lamentamos e chegamos a comentar com uma certa dose de maldade que “o tempo não fez bem” à determinada pessoa, nos referindo às rugas, marcas de expressão, entradas nos cabelos. Embora os artistas cantem sobre a beleza do tempo, e são várias as obras que o enalteçam, quem já perdeu um ser amado sabe do imenso desejo de voltar o tempo e da dor que muitos sentem por essa impossibilidade. Para esses, a consolação é honrar o que foi vivido com aquela pessoa, fazer aquilo que se supõe que a deixaria feliz e, dependendo das crenças religiosas, esperar por um próximo encontro, de uma outra forma, talvez em outra dimensão. Há técnicas como regressão e a própria constelação familiar (que depois foi ampliada) que incluem fazer as pazes com o passado e de alguma forma burlar a impossibilidade de fazer o tempo voltar.
É bonita a transformação que a arte faz com elementos de dor: “Vivia a te buscar porque pensando em ti corria contra o tempo. Eu descartava os dias em que não te vi, como de um filme a ação que não valeu. Rodava as horas para trás, roubava um pouquinho e ajeitava o meu caminho para encostar no teu”. A arte ajuda a nos consolar e trazer alguma beleza mesmo na dor. O fato é que o tempo passa e imersos que estamos em nossas vidas e cotidiano, muito dessa fatia é usada em nosso trabalho. Não temos, ou pelo menos não deveríamos ter, o direito de desperdiçar o que nos é tão sagrado como o tempo. Se é para investi-lo no trabalho, que o façamos com sabedoria e cientes da construção de um legado.
Desejo uma feliz passagem de tempo e que cada um de nós possa reconhecer o tesouro que é a possibilidade de construirmos algo bom a cada dia. Feliz Ano Novo!
*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin
Foto: Marcos Suguio