Por Nathalia Bassi*

 

A grande quantidade de famílias empresárias no Brasil, perfil que abrange 90% dos negócios no país, segundo o IBGE, traz uma questão transversal: a sustentabilidade e perenidade do modelo construído frente a desafios como a troca de gestão. Na grande maioria das vezes, as marcas conseguem realizar seus processos de sucessão, mas acabam não sobrevivendo. Tanto que um estudo da PWC aponta que 75% encerram as atividades após o movimento. Neste cenário, o Conselho de Família tem um papel importante, mas quais as suas verdadeiras atribuições?

 

Não é raro que o Conselho de Família seja confundido com o Conselho Consultivo, que, por sua vez, também é confundido com o Conselho de Administração. Para deixar bem claro: o consultivo é para uma Ltda, o de administração é para uma S/A, só que sem o poder de decisão e responsabilidades legais. Por isso, a alusão à consulta. Já o de família, como o próprio nome diz, é o elo da família empresária com os negócios. É nessa ponte que acontecem as trocas geracionais e onde todos os integrantes são atualizados sobre o andamento das operações, dos números e, mais do que isso, onde acontece o fomento do olhar cuidadoso para a perenidade dos negócios.

 

No caso do Grupo Açotubo, o Conselho de Família é uma divisão da Governança Familiar, área que é responsável por políticas e ações internas com objetivo de manutenção do legado. Um dos papéis cruciais desse Conselho, que se reúne a cada fechamento de trimestre, é o elenco de temas para desenvolvimento das questões particulares a esse modelo de gestão. Atualmente, são três blocos: educação, experiências e cultura da família empresária; neste último, o foco é a tríade "missão, visão e valores" da organização.

 

Esses temas rendem desdobramentos interessantes e enriquecedores. Quando tratamos de experiências, por exemplo, realizamos um encontro no fim de 2022 para trocar informações sobre sucessão familiar. Na ocasião, conseguimos reunir mais de 40 empresas de estados como Amazonas, Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina, Paraíba, Rio Grande do Sul e Mato Grosso, representando os setores de mineração, agronegócio, varejo, indústrias, alimentos, educação, têxtil e de gestão de patrimônio.

 

O movimento foi, também, um olhar para dentro. Se o foco da Governança Familiar e do Conselho de Família é a sustentabilidade e perenidade em negócios, é preciso estender preocupações com os stakeholders. Afinal, o tempo também passa para clientes, fornecedores e parceiros e em algum momento a sucessão pode acontecer. Colaborar de alguma forma com esse processo, já que o Grupo Açotubo realizou com sucesso a troca de gestão após mais de quatro décadas dos fundadores à frente dos negócios, é de nosso total interesse para que essas empresas continuem no mercado, evoluindo, oferecendo soluções para necessidades cada vez mais específicas de outras empresas, formando um grande círculo virtuoso.

 

Ficou claro ali, entretanto, que cada família empresária tem uma estrutura, uma história, objetivos e particularidades. Não existe uma receita e isso demonstra com ainda mais força a importância do Conselho de Família como agente integrador. O contato entre as organizações também trouxe exemplos positivos em relação a como tratar essas questões empresariais estratégicas de modo com que sejam absorvidas de forma natural e tranquila pelos colaboradores. A transparência nos processos e a comunicação efetiva fazem total diferença para evitar rumores, preocupações e a circulação de informações que não correspondem ao plano.

 

É sobre pensar em tudo o que envolve a jornada e desenhar mudanças com apoio de outras famílias empresárias. Com isso, ganha a empresa, ganha a rede de relacionamento, ganha o mercado e, consequentemente, ganham as pessoas.

 

 

*Nathalia Bassi é coordenadora de Governança Familiar do Grupo Açotubo

 

 

Foto: Divulgação/Açotubo