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21/03/2023 - 14h26

Eu não sei…

Ser humano é não saber tudo. Confira na coluna de Marcelo Madarász, executivo da Parker Hannifin

 

 

 

 

*Por Marcelo Madarász

 

 

Há poucos dias recebi um pedido para dar uma entrevista para um veículo de comunicação voltado ao público executivo, organizacional e em especial de Recursos Humanos. Durante a entrevista, que fluía muito bem, recebi a seguinte pergunta: por que você acha que os problemas de saúde mental se agravaram tanto nas organizações e o que pode ser feito para evitar que se agravem ainda mais? Por alguns segundos, que me pareceram uma eternidade, um filme de horror passou pela minha cabeça. Aquele carrasco interno que muitos de nós conhece intimamente, se levantou e, junto com a torcida do Corinthians, começou a gritar que eu era uma fraude e agora todos descobririam a verdade.

 

A manchete que eu via era: Síndrome do Impostor. Não se trata de uma síndrome, mas da descoberta de minha ignorância. Como é que eu, um gestor de RH, poderia não saber o motivo da saúde mental estar correndo risco nas empresas e, pior, o que fazer para impedir?

 

Lembrei-me de todas as conversas que tive com pessoas do meu time ou até mesmo de outras áreas, quando me procuravam sentindo-se impostoras e de como eu tentei ajudá-las nessas ocasiões. Pensei em pessoas que conheço que estão perdendo o sono, que têm tido casos de bruxismo agravados pelo excesso de cobrança que impõem a si próprias, das mulheres que voltam de suas licenças-maternidade e carregam toneladas de culpas por se sentirem péssimas mães e péssimas profissionais.

 

Também me lembrei de expressões como chat GPT, renderforest, copy.ai, beatoven.ai, anthiago, Dall-e e das vezes que estive num país estrangeiro cujo idioma desconheço e do quanto, por mais que eu me esforce, não poderei compreender aquele idioma absolutamente indecifrável. Pensei no desespero de querer pedir algo em um restaurante de Budapest e simplesmente não poder fazê-lo e da impotência que senti por alguns minutos, até que conseguisse pensar em algo para contornar a situação. Pensei na minha primeira palestra dada nos Estados Unidos há muitos anos e do meu medo de cometer erros no idioma e do que fiz para resolver isso: ao me apresentar, disse que eu era brasileiro, tive que aprender o idioma inglês e que gostaria de iniciar pedido desculpas pelos erros que cometeria ao longo da apresentação. Dito isso, algumas toneladas saíram de minhas costas e a plateia parecia deliciosamente compreensiva e cúmplice de uma tentativa de falar bem em seu idioma.

 

Voltando à minha entrevistadora, que por segundos me pareceu fazer parte da inquisição que me condenaria (coitada, ela nem sabe disso), voltei para o momento da pergunta e iniciei minha resposta dizendo: eu não sei. Não sei exatamente os motivos, menos ainda o que fazer para evitar, mas o máximo que eu posso fazer é compartilhar com você algumas reflexões que tenho feito ao longo dos últimos anos e o que, na minha experiência, tem dado certo para melhorar ou minimizar este risco de adoecimento. UAU!  Quanto alívio promovido pela simples junção de três palavras: eu não sei.

 

Por que motivo nos cobramos tanto e simplesmente não admitimos com toda humildade possível que não sabemos algo, que somos humanos, que somos falhos e que na pior hipótese, iremos nos empenhar para encontrarmos respostas, soluções, caminhos?

 

Vivemos hoje num mundo de redes sociais, no qual todos sabem de tudo, são referências, têm opiniões e palpites a respeito de tudo e, caso não acompanhe essa velocidade vertiginosa, você está out, será banido, será cancelado.

 

Se você já tiver mais de 40 anos, então, a exemplo da moça que passou na faculdade com essa idade e foi ridicularizada por três criaturas bem mais jovens, como elas disseram, você deveria estar se aposentando…

 

Talvez, parte da resposta para a minha entrevistadora seja justamente a necessidade de muito autoconhecimento, de clareza do seu propósito, conexão com ele, manter-se fiel a seus valores, sua essência e simplesmente lembrar-se da sua condição de ser humano. Como diziam na Roma antiga: lembra-te que és mortal! Que a humildade, a resiliência, a flexibilidade, o equilíbrio, a serenidade, o quociente emocional, o aprender a aprender façam parte desse conjunto inseparável de competências que continuarão nos diferenciando como humanos que somos!

 

 

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

 

Foto: Marcos Suguio