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14/02/2023 - 17h58

Mulheres na tecnologia: igualdade de gênero é fator-chave para a inovação

O Wi-Fi e o Bluetooth tiveram origem na invenção da atriz Hedy Lamarr, lembra Lanna Reis, da Creative Pack

 

 

É indiscutível que a presença das mulheres no mundo corporativo enfrenta barreiras há séculos – literalmente. Embora a sociedade tenha evoluído em comparação com anos atrás, ainda há muito o que fazer para aceitar o potencial e a participação feminina no mundo dos negócios. Nos dias de hoje, esse cenário ainda se depara com muitas discrepâncias e falta de inclusão, principalmente quando se volta às mulheres negras no mercado de trabalho, à atuação em áreas predominantemente "masculinas", como é o caso do setor de tecnologia, e à ocupação de cargos de alto escalão.

 

Por mais avanço que o mulherio tenha conquistado com o passar do tempo, a temática em cena ainda caminha a passos lentos. Para se ter uma ideia, lá em 2017, a PretaLab realizou um levantamento que ofereceu subsídios para refletir sobre a importância dos estímulos para que as mulheres negras e indígenas ocupem cada vez mais espaços nas áreas de tecnologia e inovação.

 

O estudo identificou que, por um lado, as mulheres negras ocupam as posições mais precárias do mercado de trabalho no país e lutam por oportunidades em que possam contribuir para seu desenvolvimento e para a evolução da sociedade. Por outro lado, os profissionais do ramo de tecnologia – majoritariamente homens, brancos e jovens – não conseguem preencher todas as vagas de um setor que promete revolucionar a forma de trabalho do país nos próximos anos (esse futuro evidenciado no levantamento já pode ser o nosso agora, no caso).

 

Já entre os meses de novembro de 2018 e março de 2019, outra pesquisa promovida pela PretaLab, em parceria com a Thoughtworks, levantou dados sobre o perfil dos profissionais de tecnologia no Brasil. Segundo o levantamento, as pessoas que trabalhavam na área eram principalmente: homens, brancos, jovens de classe socioeconômica média e alta que começaram a sua trajetória nos centros formais de ensino.

 

Passando para 2021, na América Latina, menos de 30% dos cargos de liderança são ocupados por mulheres, segundo a pesquisa Women in Technology – O que as empresas estão fazendo para quebrar as barreiras?, do PaceGroup e Hub Leaders. Ainda de acordo com a pesquisa, o número de mulheres na força de trabalho, especificamente nas áreas de tecnologia, continua em níveis baixos, atingindo apenas entre 21% e 40% do total de cargos na região. Argentina (37%), Chile (35%) e Brasil (25%) são os países com os menores percentuais de mulheres em sua composição laboral.

 

Para além das fronteiras, segundo a Unesco, apenas 30% das mulheres fazem parte da indústria ou área de tecnologia na atualidade. Portanto, a equidade de gênero no trabalho é um aspecto fundamental não só em matéria econômica, mas também para o desenvolvimento de processos de inovação nas empresas.

 

Toda essa escassez certamente segue atrelada aos principais desafios que resistem ao tempo: machismo, preconceito, desigualdade salarial e, consequentemente, pouca formação de mulheres na área.

 

Frente à aceleração da transformação digital que vivemos nos últimos anos, necessário se faz trabalhar urgentemente a mudança de mentalidade. Nesse sentido, as organizações precisam colocar cada vez mais em prática uma série de estratégias de incentivo à contratação de mulheres no setor de tecnologia, seja por meio da educação com formações exclusivas para mulheres; abrindo vagas exclusivas para o público feminino (sim, as empresas precisam ser intencionais); criando comunidades e espaços de acolhimento; e/ou implementando programas de diversidade.

 

Inclusive, algumas instituições já reconhecidas trabalham esse empoderamento tão necessário no setor, como: Programaria, a já citada PretaLab e Mais Mulheres em Tech.

 

Ainda, vale lembrar que o primeiro algoritmo processado por uma máquina foi criado por uma mulher: Ada Lovelace, no século 19. A internet wi-fi e a conexão bluetooth, duas das tecnologias mais importantes nos dias de hoje, também surgiram graças a uma mulher: Hedy Lamarr.

 

Já na era da sociedade 5.0, nomes femininos continuam a representar grandes feitos na área, como o de Nina Silva, reconhecida pela ONU e pela instituição internacional MIPAD (Most Influential People of African Descent) entre os cem afrodescendentes mais influentes do mundo abaixo de 40 anos. Foi indicada pela Forbes como uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil em 2019. Pode ainda ser mencionada como uma das fundadoras do Movimento Black Money, escritora, mentora e gestora com carreira internacional consolidada e mais de 17 anos de experiência com tecnologia da informação (TI).

 

Diante disso tudo, conclui-se que: frente a um mundo contraditório e ainda desequilibrado, não podemos (nem devemos mais) perder a nossa voz e a nossa vez. A hora de transformar e evidenciar o potencial feminino é agora. Um portfólio forte de mulheres na tecnologia nos espera logo ali!

 

*Lanna Reis, é diretora de Cultura da consultoria de Inovação Creative Pack

 

 

Foto: Divulgação/Creative Pack