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22/11/2022 - 18h31

“A dor da gente não sai no jornal”

Um recado do nosso colunista Marcelo Madarász aos que hoje são líderes

 

 

 

Por Marcelo Madarász*

 

 

Trecho de música que fez sucesso há décadas, na voz de Chico Buarque e Maria Bethânia, nos chama atenção para uma das competências mais valiosas para qualquer pessoa que deseje ser um bom líder: a empatia. Poderíamos investir um bom tempo destrinchando o que significa exatamente, mas não é nosso objetivo. Empatia envolve três componentes: afetivo, cognitivo e reguladores de emoções. Compartilhar, compreender estados emocionais de outras pessoas, capacidade de se sentir o que outra pessoa sente, caso estivesse na mesma situação. O fato é que há a possibilidade de aprofundamento tanto no significado quanto em seus desdobramentos no ambiente organizacional e na dinâmica entre pessoas, em especial líder e liderado, ou até entrevistador e entrevistado.

 

Antes mesmo de falarmos de uma etapa importante no mundo do trabalho, que é a entrevista, pensemos nas dezenas ou centenas de mensagens que recebemos principalmente via LinkedIn com pedidos de oportunidades de entrevista, de emprego, de envio de currículos. Como é bastante difícil responder a todos, na maior parte das vezes, as mensagens ficarão sem respostas. A exceção será a resposta e até eventualmente possibilidades bem-sucedidas.

 

Muitas vezes julgamos o quanto essas mensagens podem ser inadequadas (e chegam a ser), mas não temos a menor ideia do que aquela pessoa está passando até chegar ao ponto de pedir, suplicar ou implorar uma oportunidade.  De vez em quando alguém se sensibiliza e patrocina ou divulga aquele profissional. Numa etapa posterior, o profissional consegue vencer todos os obstáculos até chegar à fase da entrevista. Nem sempre elas são bem-sucedidas, como já abordamos aqui em artigos anteriores, mas novamente estamos diante de uma situação na qual o outro é quase que um completo estranho. Não temos ideia de quais problemas ou desafios essa pessoa enfrenta e só por isso, já deveríamos ter um olhar mais cuidadoso e atento. Novamente a empatia é o que vai determinar a qualidade do vínculo que ali pode se estabelecer. Colocar-se no lugar do outro, vai nos obrigar no mínimo a um tratamento mais digno e respeitoso.

 

Vencidas essas etapas, falemos agora de algo muito mais constante e que está presente em nosso dia a dia. Em nossos ambientes de trabalho, nos relacionamos com pessoas e algumas delas respondem diretamente a nós. É impressionante o quanto líderes podem desconhecer seus liderados e, apesar disso, exigir deles, como exigimos performance de nossos computadores, celulares, impressoras, veículos ou outras máquinas.

 

Sem fazermos dramas, muito menos nos colocarmos na posição de vítimas, percebemos que muitas vezes a pessoa chegou à posição de liderança, mas é quase um troglodita emocional e desconsidera seu liderado, suas eventuais dificuldades, momentos de vida, obstáculos a serem vencidos.

 

A pandemia exigiu de muitos líderes que minimamente conhecessem um pouco mais sobre seus colaboradores. Não podemos perder nunca esse ingrediente básico para um bom relacionamento.

 

Há muitas pessoas com problemas emocionais e o estresse e burnout estão comprometendo sobremaneira o mundo do trabalho. Com o objetivo de criar o melhor ambiente possível, começando por boas relações, que tal começarmos com o exercício mais básico que é de forma genuína, sincera e autêntica, perguntar como está o seu liderado e ouvi-lo com a atenção que ele merece?

 

Tão importante quanto o autoconhecimento é o interesse verdadeiro por aqueles que trabalham com você! Vamos nos empenhar na construção de melhores, mais saudáveis e mais humanas relações? Você vai perceber que esse caminho pode definitivamente levá-lo a um outro patamar como ser humano e como um líder também mais humano e valioso!

 

*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin

 

Foto: Marcus Suguio