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23/09/2022 - 10h10

Renovar a educação para benefício do futuro da sociedade

Novas necessidades requerem mais envolvimento das empresas, diz reitora da Hamburger University Latam

 

 

 

Por Josane Julião*

 

 

Em meio a uma crise sanitária que se prolonga desdobrando-se em doenças diferentes (covid-19 e varíola dos macacos sendo os dois casos mais recentes), a riscos econômicos globais e mesmo a uma guerra ainda em curso, na Ucrânia, a noção de normalidade sofreu um abalo. As certezas que tínhamos, que vinham mudando desde que o mundo se tornou mais digital, ganharam força e velocidade nos últimos dois anos. Precisaremos aprender muita coisa de novo, desde as bases. Sobre algumas outras áreas, teremos mesmo que criar, porque simplesmente não conhecíamos nada parecido.

 

Um aspecto estratégico – se não o mais importante, certamente um dos mais – em que teremos de voltar aos fundamentos (ainda que não necessariamente à estaca zero) é a educação. Aluno e professor ainda mantêm suas diferenças, mas elas já não são mais tão profundas assim – porque ambos estarão em processo contínuo de aprendizado, um com o outro. Aprender passará a ser algo que faremos o tempo todo – não só porque seremos cada vez mais levados a isso pelas exigências de diversas naturezas (profissional, pessoal etc.), mas também porque os meios para isso estarão cada vez mais à mão. Já carregamos conosco o smartphone, uma espécie de oráculo que consultamos todo o tempo.

 

Ir a uma sala de aula para adquirir conteúdo, antes a forma por excelência de transmitir conhecimento, passará a ser algo a ser feito em caráter excepcional, apenas quando as limitações tecnológicas não permitirem o contato remoto (e a tendência é que isso seja cada vez mais raro). E, se estaremos "em horário de aula" cada vez mais, aprender será algo que invadirá espaços e momentos de nossos dias – isso incluirá inevitavelmente o trabalho de cada um de nós. O trabalho será, inclusive, um dos motores que nos fará estudar e aprender constantemente, porque as exigências e necessidades profissionais também serão por inovação.

 

Avanços como a velocidade 5G, smartphones mais potentes, criptomoedas, NFTs, além dos volumes astronômicos de dados que tudo isso gera, farão as empresas buscarem quadros cada vez mais antenados com a nova realidade. Mas elas não são um elemento passivo nesse cenário – pelo contrário: cada vez mais, elas compreendem seu papel como fundamental para capacitar pessoas e até promover ações educativas nas comunidades que impactam. As empresas já entenderam que, uma vez que a expectativa de uma economia mais dinâmica e digital será por constantes transformações, elas terão de ser tornar também espaços de aprendizagem e formação continuada.

 

A Arcos Dorados opera a marca McDonald's em 20 países da América Latina e do Caribe, cada um com um cenário de complexas questões sociais. Entre elas, se destacam as defasagens do sistema público de ensino. A agenda ESG – sigla em inglês para os compromissos ambientais, sociais e de governança corporativa com que as empresas têm cada vez mais que se envolver – precisa ser assumida de forma ativa e efetiva diante dos problemas das comunidades em que estão presentes.

 

Lidar com o aprendizado das chamadas Power Skills – um conjunto composto tanto por habilidades técnicas específicas para as mais diversas tarefas quanto por tópicos como inteligência emocional, trabalho em equipe e liderança – também deverá ser algo a que as companhias terão que se dedicar. Em nome da própria capacitação de seus quadros – ainda que dispor de profissionais mais bem treinados resulte em um ganho para a economia e para a sociedade como um todo.

 

Questões sociais não admitem respostas simples. Envolvem uma miríade de participantes – os chamados stakeholders – e as empresas têm um papel relevante demais para não se envolverem. Não substituirão, claro, políticas públicas e ações oficiais. Mas há muito com que podem contribuir, e o treinamento e a preparação de pessoal – incluindo mesmo instrução escolar em diversos níveis – é uma das contribuições mais valiosas que podem dar.

 

 

*Josane Julião é reitora da Hamburger University na América Latina, braço de educação corporativa da Arcos Dorados

 

 

Foto: Fernando Souza