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28/03/2022 - 15h19

A grande resignação e seu impacto na estratégia de pessoas

Esse tema mexe com tudo o que entendemos até agora sobre trabalho, diz especialista em employer branding

 

 

*Suzie Clavery

 

 

O termo “great resignation”, ou se traduzirmos para português, “a grande renúncia”, tem ganhado muita visibilidade nos últimos tempos nos ambientes de trabalho. Esse termo se refere ao fenômeno que vem ocorrendo nos Estados Unidos desde o início da pandemia que consiste em uma onda de demissões voluntárias por pessoas que buscam melhores condições de trabalho, qualidade de vida e uma nova carreira. Em agosto de 2021, por exemplo, cerca de 4,3 milhões de americanos decidiram largar seus empregos. Será que aqui no Brasil esse fenômeno também vai acontecer?

 

Na verdade, já está acontecendo. A pandemia da covid-19 fez, inevitavelmente, as pessoas repensarem sua relação com o trabalho. Uma pesquisa realizada pela Robert Half em novembro de 2021 aponta que 49% dos 1.161 profissionais que participaram do estudo pretende buscar novas oportunidades em 2022. Os principais motivos apontados no estudo para a busca de uma nova carreira são: desejo de inovar ou aprender algo novo (19%); busca de realização pessoal (17%) e expectativa de melhor qualidade de vida (12%). Segundo um estudo encomendado pela Você S/A ao estúdio de inteligência de dados Lagom Data, o Brasil já vive sua grande resignação já que todos os meses quase 500 mil trabalhadores pedem demissão voluntariamente. A Você S/A ouviu especialistas e colaboradores e em resumo os principais motivos que levam a pessoa a pedir demissão são: ganhar um salário melhor; trabalhar em um ambiente de trabalho mais saudável; ter uma melhor qualidade de vida.

 

Claro que o pedido de demissão não é para todas as pessoas. Talvez seja (ainda) para uma minoria da população, pois há quem dependa de maneira substancial de seus empregos para sobrevivência econômica, inviabilizando qualquer paralização financeira, mesmo que temporária. Mas, mesmo assim, não podemos tirar os holofotes desse tema, pois ele mexe com tudo o que entendemos até agora sobre “trabalho”. Muitas das pessoas que não podem deixar seu trabalho, passam então a fazê-lo por obrigação e sem paixão, resultando mais tarde em problemas como afastamentos, absenteísmo, depressão, burnout, queda de produtividade e de engajamento, só para citar o óbvio. Por outro lado, as empresas tendem a dar mais valor a temas que antes eram vistos em segundo plano, com superficialidade, muitas vezes sem o valor e sem a devida atenção estratégica que mereciam.

 

Nesse contexto, podemos destacar: 1) Felicidade Organizacional - conceito e estratégia de pessoas que ultrapassa o cenário de experiência de trabalho e se conecta com propósito, autonomia, reconhecimento e relações positivas; 2) Experiência da pessoa colaboradora (employee experience) - engloba os aspectos de cultura organizacional, ambiente e tecnologia, equilibrando as expectativas e necessidade das pessoas colaboradoras com as possibilidades reais de execução e estratégia da empresa, tornando positiva a relação com o trabalho; 3) Saúde mental - tema que já não pode mais ser desassociado do trabalho, uma vez que não é mais aceitável um ambiente que nos adoeça. Prevenir os problemas de saúde mental relacionados ao trabalho vai além dos negócios e passa a ser um fator humanitário; 4) employer branding - a estratégia de gestão de marca empregadora que contribui na atração e retenção de talentos, gerencia a reputação de uma empresa como empregadora, mostra seu valor. Cada vez mais os talentos se importam com empresas reais e com boas reputações.

 

Não trabalhar bem os três pilares acima pode ocasionar uma grande crise de marca, muitas vezes irreversível.

 

O employer branding torna-se fundamental para posicionar as empresas e mostrar seus diferenciais como empregadora, evitando assim a perda dos talentos para a concorrência ou para uma vida sem trabalho. Alguém já disse que “a beleza está nos detalhes”. Quando se trata dos novos contextos de trabalho, os detalhes são o que fazem a diferença entre continuar em uma empresa ou sair dela, seja para outro trabalho ou para um período sabático. Não basta mais um bom salário e bons benefícios, as pessoas querem (e precisam) de algo muito maior. O valor nesse novo e desafiador cenário está no intangível e nas emoções. As empresas que souberem realmente enxergar os talentos de maneira única e humanizada, saindo da rigidez de seus processos e operações, certamente estarão um passo à frente nessa via positiva de mão dupla - pessoa colaboradora e empresa - de um trabalho feliz.

 

 

*Suzie Clavery é cofundadora do Employer Branding Brasil e gerente sênior de Employer Branding & People Experience do UnitedHealth Group Brasil

 

 

Foto: Divulgação