08/10/2021 - 16h17
E se o amanhã não vier?
Neste artigo, Marcelo Madarász expõe as vulnerabilidades humanas afloradas pela pandemia
Por Marcelo Madarász*
Essa pergunta sobre o amanhã é trecho de uma linda canção americana, de Ronan Keating, e foi gravada por muitos artistas, entre eles Renato Russo. Como muitas outras reflexões vindas da arte, da literatura, da poesia, é uma reflexão profunda e muito adequada a alguns momentos de nossas vidas a exemplo da pandemia que embaralhou todas as nossas cartas. Muitas pessoas se viram frente a frente com seus medos mais enraizados ao terem que lidar com as reflexões acerca de suas próprias vidas e de suas pessoas amadas e também sobre a finitude da vida, ou pelo menos da vida como a maioria de nós a enxerga.
De um momento para outro, vulnerabilidades do ser humano passaram a fazer parte da pauta do dia. O medo da doença, o medo da morte, a angústia sobre o que cada um está fazendo com o seu tempo, se há equilíbrio na atenção dada à saúde, à família, aos interesses próprios, ao trabalho. E se hoje for o meu último dia?
Esse cenário trouxe luz a uma série de questões e alguns não conseguiram lidar muito bem com as inquietações e acabaram adoecendo – física e ou mentalmente, casamentos e relacionamentos de desfizeram, mas também outros vínculos se fortaleceram, novas gestações e muita gente acabou mergulhando, ainda que pela dor, num profundo e valioso processo de autoconhecimento e de reflexões a respeito do que está sendo feito nesta vida, propósito, legado, valorização da saúde, dos vínculos verdadeiros, daquilo para o qual cada um dá atenção.
Por vezes mobilizados pelo medo da perda, muitos vínculos foram reconfigurados na dimensão pessoal. Evidentemente, se nos aproximarmos da dimensão do trabalho, e mais especificamente das organizações, os impactos também se fizeram presentes. Muitas pessoas perderam seus empregos por conta da crise e de necessárias adequações de estruturas, mas muita gente acabou trocando de emprego, porque se deram conta que estavam infelizes em seus atuais trabalhos. De novo, percebemos o movimento de mudanças, crescimento, evolução acontecendo pelo amor ou pela dor. Há quem reflita sobre propósito de vida e se conecte a ele por um lindo movimento de sua essência e, portanto, da descoberta do que veio fazer nesta vida, e há quem seja tocado pela dor e movido por ela, desperte para o fato de que algo deve ser corrigido nesta rota.
Muitas empresas perceberam o limão que haviam recebido e de maneira espetacular fizeram a melhor limonada possível, com verdadeiras revoluções no seu modo de operar, e agora estão capacitadas para continuarem suas trajetórias com novas regras, rituais, procedimentos que acomodam de maneira muito inteligente as necessidades do negócio com os interesses, desejos e possibilidades de seus colaboradores, a exemplo da muitíssimo bem vinda adoção do trabalho remoto, para a felicidade de quem permanecerá nele ou nos modelos híbridos, outras empresas, infelizmente ainda encontram-se reféns de modelos mais tradicionais e , passado o susto que a pandemia trouxe, desejam ansiosamente voltar ao modelo passado.
Não há um” tamanho único” de procedimento que atenda a todos, mas o saudável caminho do meio sinaliza para a grande sacada que é ouvir seus colaboradores, mas numa escuta verdadeira, genuína, autêntica e interessada, sobre o que eles gostariam para si.
Na medida do possível, que cada organização encontre seu equilíbrio, mas que possam ter o verdadeiro engajamento, e não um conjunto de colaboradores que permanecem por não terem outra opção ou por terem medo do desemprego. Muito mais importante que o apego ao ontem ou aos temores do amanhã, que possamos viver a plenitude do hoje!
*Marcelo Madarász é diretor de RH para América Latina da Parker Hannifin
Foto de abertura: Marcos Suguio