15/06/2020 - 16h47
#trabalhedecasa ou escritório? Escolha confiar
Artigo exclusivo do presidente para América do Sul e Central da Puratos, Fabio Di Giammarco
Por Fabio Di Giammarco*
Quando ouço que uma das grandes lições pós-Covid-19 será a ampla adoção do home office como modelo de trabalho, confesso que fico um pouco perplexo. Parece que precisamos passar por uma pandemia global para perceber que nossos colaboradores não precisam estar fisicamente na empresa e sob vigilância para serem produtivos nas suas funções. Com a evolução das práticas corporativas, espero que nós, lideres, entendamos que não cabe mais dizer à maioria das pessoas em qual ambiente devem trabalhar.
E se ao invés disso decidirmos apenas confiar?
Sempre que começo trabalhar com um novo time (normalmente, executivos, bem pagos, em cargos de direção), compartilho com eles as "regras do jogo" da nossa rotina de trabalho. Trata-se de uma lista simples. Além dos objetivos a serem alcançados e indicadores de desempenho, a lista inclui meu ponto de vista em aspectos como confiança, líder servidor, ritmo de trabalho e comprometimento.
Nessa lista, faço questão de deixar claro também que não me importo nem um pouco (mesmo!) com o local e horário escolhido pelos membros da minha equipe para trabalhar. Meu foco está na qualidade do trabalho entregue, em conformidade com os valores da empresa, guiado pelo bom senso e por uma postura positiva, construtiva e colaborativa.
Em se tratando de local de trabalho, tento sempre virar exemplo. Declaradamente um nômade digital há anos, quando entrei na empresa em que estou hoje, decidi que não teria um espaço físico para chamar de escritório. Minhas atribuições envolvem gerenciar as atividades de 16 países e 11 fábricas, e sou capaz de desempenhar minhas funções de forma mais eficaz justamente por não estar preso a um único local físico de trabalho, podendo me aproximar de nossos colaboradores, clientes e consumidores com mais facilidade. Por isso, posso dizer que há anos trabalho de, basicamente, qualquer lugar.
As hashtags #workfromhome e #fiqueemcasa têm sido muito usadas ultimamente, mas que tal se incluíssemos também na lista as tags #trabalhenoavião (saudade!) ou, simplesmente, #trabalheemqualquerlugar?
Algumas empresas de destaque em suas áreas têm virado exemplos de confiança, tratando seus funcionários como adultos que são. A política de despesas da Netflix, por exemplo, se limita à: “Haja em nome dos melhores interesses da empresa”. Na General Motors, a regra para o dress code é simples e direta: “Vista-se de modo adequado”. Essas orientações são excelentes exemplos de boas práticas.
Conforme redefinimos as normas referentes aos locais de trabalho de nossos colaboradores após a pandemia da Covid-19, confio na capacidade dos líderes para manterem suas mentes abertas e agirem com inovação. Espero poder ver mais exemplos de, por exemplo, #trabalheandando, auxiliando no combate ao sedentarismo e incentivando um estilo de vida mais saudável, ou mais inciativas de #trabalheaoarlivre, estimulando nossos times a buscarem inspiração na natureza.
Acredito ser possível aumentar a autonomia e a satisfação de colaboradores na medida em que possuam flexibilidade para adaptar seus locais de trabalho às demandas específicas de suas funções. Com foco somente no trabalho.
Como dito recentemente por Adam Grant, pesquisador da Universidade da Pennsylvania, é tempo de repensar o modo como nos envolvemos com aqueles com quem trabalhamos. Confie em seu colaborador ou substitua-o é um bom mantra para esse momento. No entanto, antes de qualquer mudança no time, lembre-se de olhar no espelho e começar a mudança por você.
(A ideia para este artigo surgiu enquanto estava correndo – sozinho e mantendo o distanciamento social, diga-se de passagem)
*Fabio Di Giammarco é presidente para América do Sul e Central da Puratos
Imagem de abertura: Valentin Studio/Danilo Koshimizu