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20/05/2020 - 11h59

S2S – Screen to Screen - artigo de Mariana Adensohn, diretora de People na Z-Tech México

A executiva conta por que mudou de opinião sobre educação a distância

 

Por Mariana Adensohn*

 

Pagou a língua! Já ouviram essa expressão? É uma expressão usada quando alguém comete um erro e é forçado a reconhecê-lo. Por exemplo, quando se diz algo ou se sustenta uma opinião que é contradita pelos atos posteriormente. Eu estou nessa fase e o tema é EaD – Educaçao a Distância.

 

Com todas as mudanças (e muitas são positivas), o estudo a distância tornou-se a ferramenta de educação mais procurada hoje em dia, quer dizer, não existe outra opção. E por que eu paguei a minha língua? Porque eu, assim como muitos outros gestores, sempre torci o nariz para graduações online.

 

Na minha opinião, perder o contato físico, a interação em sala de aula não só com o professor, mas com os demais alunos, que frequentemente trazem experiências do dia a dia que transcende a rotina de todos, era o diferencial das “classes”. Fora o preconceito de que educação sem professor em cima, cobrando e motivando não existe e que estudo a distância não funciona por conta das “distrações” ao redor do aluno. Pois é, eu e mais uma galera estavamos enganados. Que bom!

 

A EaD existe há mais de um século no Brasil e ao redor do mundo. Funcionou e funciona para muitas pessoas e só começamos a valorizar essa ferramenta porque fomos forçados a mudar a rotina. O resto da história desse "porquê" vocês já sabem e estão cansados de ler.

 

Só pra desmistificar algumas coisas antes de falar sobre o S2S (sim, me inspirei no B2B/ B2C e todas as siglas que criam para deixar mais bonitinha e moderna alguma tendência), os professores não irão perder o emprego, os alunos não ficarão desmotivados, se você está entregue a algo (em qualquer âmbito da vida), não irá se distrair e não precisa mais ter o compromisso diário de atravessar a cidade com chuva para ir a uma aula (que preguiça).

 

S2S – Screen to Screen (ou tela por tela ,se você preferir) será sim a nova modalidade de aprendizagem no mundo. Não vai acabar com as salas de aula, vai ser a principal ferramenta de aprendizagem corporativa. Mas espera aí, que ainda não chegamos lá.

 

Segundo a Abed, Associação Brasileira de Ensino a Distância, no último censo, realizado no Brasil em 2018, mais de 9,7 milhões de pessoas estavam matriculadas em alguma formação a distância; cresceu 1,5 milhão de pessoas de 2017 para 2018. Imagina a crescente de março a maio de 2020.

 

Eu, curiosa, fui buscar alguns dados sobre o tema e ví diversas escolas e portais com banners incriveis postando em 2015 vantagens extremamente atuais sobre porque fazer EaD. Se liga:

 

  • A certificação é OBRIGATORIAMENTE (isso é lei) igual à de um curso presencial.
  • Você consegue administrar o tempo entre trabalho e estudo (coisa que na minha época de faculdade eu me recordo ter sido muito difícil).
  • Faça no seu rítmo (e por que eu não prestei atenção nisso?)
  • Uso de ferramentas tecnológicas (são altamente interativas. Se nós conversamos com a Luiza (que é um robô), vendedora virtual do Magazine Luiza (Magalu), por que não fazer o mesmo com um professor?)
  • O custo é menor.

 

Aonde eu estava que perdi isso? Muito provavelmente, eu estava cheia de preconceitos, sentada em alguma cadeira em um escritório por ai (até isso já não existe mais nos modelos antigos – mudou faz apenas três meses – que loucura!).

 

O que mudou? A nossa visão e, espero, as pessoas, porque andavam preconceituosas demais com diversos temas e seguindo padrões que já não existem mais. O que não mudou: as relações humanas.

 

Com o equilíbrio, cuidado com os exageros, olha o que aconteceu com a nossa vida.

 

Primeira onda: Lives!

Eu adorei a primeira semana! Escutei a voz de muitos, inclusive dos meus amigos. Me diverti com pessoas que não conhecia e jamais imaginei que tivessem tamanha sagacidade. Na segunda semana, deletei 237 pessoas.

 

Segunda onda: cursos online!

As principais universidades do mundo agiram. Foi um tal de liberação de cursos online e, o melhor, gratuitos, dando acesso a milhares de pessoas. Eu, como não sou boba, fiz vários.

Eu acordei!

 

Passei horas me capacitando. Cedinho, no horário de almoço, no meio do expediente - e tudo bem, porque estou em dia com minhas entregas e sou incentivada por minha liderança a me desenvolver -, à noite. À noite é mentira, à noite não, porque  me divirto fazendo outras coisas que gosto e que me disconectam do mundo – e todo mundo precisa do seu tempo, ainda mais agora, estando há mais de 60 dias em casa.

 

Tá, mas até aqui nenhuma novidade. A novidade é que EaD sem interação pode não funcionar. Olho no olho a troca entre individuos adapta as palavras. Saimos do “olho no olho” para “tela para tela”.

 

Terceira onda: Tela para Tela.

O conceito do EaD não muda. A mudança vem na interação. O que está fixo e individual para a ser coletivo através da criação de pequenos grupos interagindo simultaneamente, sem segregação de lingua, perfil executivo, etc. Acabou a aristocracia de conteúdo, está tudo liberado (e essa é a principal mudança).

 

As interações precisam acontecer SIM, as pessoas também descobriram que estar só, não poder compartilhar no mesmo instante é ruim, não te faz quebrar paradigmas e mudar de opinião (e isso é bom demais). Tinhamos a opção do olho no olho e agora temos tela para tela e. quanto mais tivermos a oportunidade de ouvir as pessoas e também trazer para os grupos os nossos pensamentos, essa interação de S2S se torna humanizada (e é isso o que as pessoas buscam depois de tudo isso que estamos vivendo) e incentiva a transformação individual através da aprendizagem e troca de experiência.

 

Mas a tela para tela não vai funcionar sem a empatia do budget. Pessoal, mudamos os valores (não estou falando de dinheiro e sim de preceitos morais), já estava na hora. Com todas as dificuldades vistas por aí, depois de a economia afundar e não ter prazo para se recuperar, tantas pessoas perdendo seus empregos e passando dificuldades, eu tenho visto SIM a empatia corporativa sendo escancarada junto com a compaixão e a solidariedade, e tem sido maravilhoso.

 

As empresas, assim como as pessoas, também precisam da empatia do budget, especialmente os líderes responsáveis pela alocação de recursos financeiros. Valores extraordinários precisam e merecem ser investidos nos colaboradores, pessoas que irão transformar e impulsionar as empresas para melhorar a economia, fazer o mundo voltar a girar e em velocidade. Por que eu falo isso? Tive três conversas recentes com alguns consultores, que ao me apresentarem suas propostas não vieram com aqueles valores lindos com quase seis zeros. Eu escutei dessas 3 e de outras pessoas com quem dividi essa história, que vamos adaptar as propostas as condições atuais e sem desvalorizar ou diminuir o trabalho, pelo contrario, o “parceiro” agora vai se consolidar e fazer parte das organizações como um colaborador – “gente da gente”. Quanto vale o seu dinheiro? Quanto você pode pagar? E assim todos se ajudam.

 

Essa empatia também une os colaboradores, que compreendem as mudanças nas organizações, também se adaptam a relidade e não deixam de fazer a roda girar. São essas as pessoas que também irão se consolidar, serão parte do futuro e valorizadas como merecem ser.

 

Resumindo, a economia vai entrelaçar a real necessidade das pessoas e das organizações. Tivemos três colapsos em poucos meses, que foram na economia, na saúde física e na saúde mental, e se nós passarmos a ser verdadeiros e a valorizar tudo o que estamos aprendendo com essas situações de colapso, quebraremos preconceitos e paradigmas, assim como eu com a EaD, e nos prontificarmos a conciência do todo. TODO MUNDO SAI GANHANDO: eu, você, as empresas e a economia, que impacta diretamente as três frentes que mencionei

 

Viva as mudanças!

 

*Mariana Adensohn é diretora de People na Z-Tech México, incubadora da AB InBev presente no Brasil, México e New York. Com passagens pelo iFood, Accenture e TAM Linhas Aéreas, a executiva acumula mais de 15 anos de experiência na área de gestão de RH.

 

Foto: Divulgação/Z-Tech