Revista Gestão RH - Edição 169
14/10/2025 - 10h00 Colunas
14/10/2025 - 10h00 Colunas
Transformação cultural cultivando confiança absoluta
Por Mariana Adensohn
Há algum tempo, a transformação cultural deixou de ser uma estratégia superficial de gestão e se tornou uma exigência vital para que as empresas possam inovar, evoluir e se adaptar de forma rápida. Nesse cenário, a liderança desempenha um papel fundamental alinhando o propósito coletivo, e isso acontece através da confiança. Quando os líderes promovem um ambiente pautado na confiança absoluta, eles criam uma cultura em que a autonomia, a vulnerabilidade e os erros florescem, impulsionando a inovação e fortalecendo a resiliência.
Ao contrário da confiança superficial, que muitas vezes depende de controles e regras, a confiança absoluta é uma atitude de abertura entre líderes e equipes. Isso cria um ambiente onde as pessoas se sentem seguras para compartilhar suas opiniões, cometer erros e se desafiar, sem medo de serem julgadas ou penalizadas. Essa postura cria uma atmosfera de segurança real, na qual ideias novas surgem sem medo e a autonomia se fortalece.
Líderes que cultivam confiança absoluta conseguem acelerar a inovação, melhorar a colaboração e aumentar o engajamento para gerar resultados. Quando as pessoas se sentem realmente confiantes, deixam de gastar energia vigiando uns aos outros e buscando justificativas do porquê não “entregaram” ao invés de focar no que de fato precisam fazer.
A confiança verdadeira muda o jogo. As pessoas passam a se focar na resolução de problemas, em pensar estrategicamente e fazer melhores entregas. Um estudo da Harvard Business Review (HBR) mostra que equipes com altos níveis de confiança reportaram até 65% mais produtividade e 75% mais inovação do que equipes com baixa confiança. Além disso, a confiança ajuda a fortalecer a resiliência da organização em momentos difíceis, porque cria uma base sólida de apoio mútuo, no qual pessoas se sentem seguras para enfrentar desafios, inovar e superar obstáculos juntas (como um time).
Mas se tem algo que eu tenho certeza é que existem muitos momentos difíceis no processo de transformação cultural. Liderar essa mudança é para poucos, porque gerar confiança absoluta exige maturidade, experiência e desprendimento do ego. E quem está disposto a tudo isso? Pouca gente. Algumas pessoas não possuem autoconhecimento suficiente para saírem desse lugar e o autoconhecimento é essencial para que um líder possa desenvolver maturidade, empatia e a segurança emocional necessária para construir confiança verdadeira em sua equipe.
Então, por onde começa? Não tendo medo de demostrar vulnerabilidade. Isso é muito difícil e deve acontecer de forma autêntica, confirmando suas próprias limitações e erros. Na minha jornada, sempre que eu demostro vulnerabilidade, os meus erros e minha pouca experiência em algo, aproveito para reafirmar o quão complementar o time é, o quão importante é trazer pessoas que te complementem, que são melhores do que você em algo. E isso não apenas me fortalece como líder, mas fortalece quem está ao meu lado, se dedicando, e fortalece as conexões. Reconhecer isso é libertador, pois é impossível ter todas as “habilidades”, é impossível ter vivido tudo, até porque os ambientes são distintos e em cada lugar você age de forma diferente, nós somos situacionais, então, liberte-se.
Incentivar a cultura de transparência e reciprocidade também é um passo importante. Investir na autonomia dos times, dando espaço para experimentações e aprendizado, é um outro caminho que fortalece a confiança mútua e o sentimento de propriedade. Além disso, incentivar a reflexão e o compartilhamento de experiências, incluindo fracassos, solidifica uma cultura de crescimento conjunto baseada na honestidade (fora que as chances de errar de novo diminuem).
Por fim, valorizar as contribuições de cada um, sem julgamentos precipitados, reforça que todos são vistos e ouvidos de forma autêntica. Crie espaços onde as pessoas se sintam seguras para compartilhar inseguranças, ideias e dificuldades sem medo de represálias. Isso é essencial para transformações culturais.
Ao adotar essa abordagem de liderança baseada na confiança absoluta, as organizações passam a ser mais ágeis, humanas e inovadoras. Essa mudança cultural não acontece de forma abrupta; exige uma construção consciente e contínua, em que os líderes se tornam exemplos e facilitadores desse ambiente de desenvolvimento.
Transformar a cultura organizacional para além do controle e promover a confiança absoluta é uma das maneiras mais inteligentes de preparar as empresas para o futuro.
Liderar com vulnerabilidade e autonomia não apenas potencializa a inovação, mas também promove um ambiente mais humano, onde cada indivíduo se sente inspirado a contribuir com o melhor de si. É, de fato, a melhor transformação cultural que um executivo pode fazer. Afinal, quando a confiança é uma base, a inovação e a transformação fluem naturalmente.

Mariana Adensohn é diretora de Gente da Loungerie









