05/06/2020 - 17h32
#Blackoutuesday tem sentido real para a sua marca empregadora ou é só mais uma ação de marketing?
Por Suzie Clavery*
Na manhã de terça-feira, dia 2 de junho de 2020, as redes sociais foram tomadas por imagens pretas em seus feeds de notícias. O movimento “Blackout Tuesday” ("terça-feira do apagão") teve como objetivo fazer um protesto virtual devido ao homicídio de George Floyd, homem negro, que foi asfixiado por um policial branco nos Estados Unidos. A hashtag ganhou mais força, principalmente no Brasil, e a causa de ser ampliada para o país foi a morte de João Pedro, menino negro assassinado por policiais no Rio de Janeiro, também nos últimos dias.
A campanha teve grande adesão de famosos, anônimos e, obviamente, empresas. Muitas marcas empregadoras fizeram uso do quadrado preto e usaram as hashtags #Blackoutuesday e #Blackouttuesday para fazer parte do movimento ou se posicionaram de alguma outra maneira, unindo esforços no combate ao racismo. Entre elas, estão: Apple, Netflix, Creditas, Microsoft, Nike, Adidas, Natura, SAP, UnitedHealth Group, Facebook e YouTube (as duas últimas também mudaram a cor de suas marcas temporariamente).
Em nota, o UnitedHealth Group disse: “A morte trágica de George Floyd em Mineápolis e as manifestações públicas mostram que ainda há muito trabalho para criar uma sociedade equitativa para todos(as). A fim de honrar sua memória e ajudar as comunidades de Mineápolis, nós criamos um fundo educacional para os filhos do sr. Floyd, doaremos US$ 5 milhões para ajudar as empresas na região de Mineápolis-St.Paul a se reconstruírem, dedicando horas dos nossos colaboradores para esses esforços e comprometimento. Também doaremos outros US$ 5 milhões para avançar nos esforços de equidade e inclusão.”
Empresas como estas já são reconhecidas por boas políticas e práticas de inclusão e diversidade, mas muitas outras empresas e marcas empregadoras pegaram carona na hashtag para auto promoção pessoal.
Sua empresa não precisar defender e levantar todas as bandeiras (embora algumas deveriam ser obrigatórias, por questões humanitárias, na minha opinião), mas precisa, antes de tudo, olhar para dentro e ter consciência de quais causas realmente importam para você e quais realmente refletem a sua realidade, dia a dia e luta.
Não tem nada pior para uma marca empregadora do que não ser verdadeira com seus candidatos e colaboradores. Máscaras caem e o dano dessas jogadas de marketing pontuais não são perdoados. Não adianta defender publicamente uma causa e ter seus colaboradores comentando nas redes sociais que “não é bem assim” no dia a dia. Marca empregadora é uma questão de reputação e reputação demora-se anos para construir, mas pode perder-se em segundos.
Posicionamento é fundamental e importante, mas atitudes valem mais do que palavras. Não poste só #Blackoutuesday uma vez na vida nas redes sociais, mas tenha atitudes internas que promovam a inclusão e a diversidade ao ponto de poder falar sobre isso com segurança, respaldo e reconhecimento público dos seus colaboradores, candidatos, clientes e todos os ecossistemas de interface com a sua marca.
Aproveito para deixar aqui algumas dicas de como sua empresa e seus profissionais podem fazer, verdadeiramente, parte da luta antirracista:
1- Estude: aprenda mais sobre discriminação racial, siga influenciadores do tema, especialistas do assunto e aprenda com quem vive na pele (literalmente) a discriminação. Compartilhe também esse conhecimento interna e externamente.
2- Ouça e amplie a voz, opinião e expressão negra: ouça as pessoas negras, só elas podem falar sobre a discriminação sobre elas. São as pessoas negras que tem a vivência para compartilhar, por isso, ouça, acolha, aprenda e ajude a buscar soluções conjuntas.
3- Se você é uma pessoa branca ou uma empresa majoritariamente composta por pessoas brancas, entenda o seu privilégio: mesmo com milhares de histórias de superação e desafios na sua vida branca, entenda que nenhum deles foi devido ou influenciado pela cor da sua pele. As pessoas negras têm desafios ou os desafios delas são ampliados pelo simples fato de serem negras. Por mais difícil que seja a sua vida branca, a cor da sua pele não é um peso adicional no caminho a trilhar.
4- Denuncie: seja você um profissional ou uma empresa, se vir ou souber de casos de racismo, dentro ou fora da sua empresa, em uma reunião ou nas redes sociais, é seu dever denunciar. Não compactue com piadas ou comentários racistas. Quem fica calado é cúmplice. #NãoSejaEssaEmpresa #NãoSejaEssaPessoa
5- Apoie e valorize as pessoas negras que você conhece: visibilidade importa. Torne as vidas negras visíveis e realmente importantes. Dê valor para além da cor da pele.
Pense nisso!
*Suzie Clavery é gerente de Employer Branding do UnitedHealth Group, cofundadora do Employer Branding Brasil e uma das primeiras profissionais a atuar com employer branding no país. Possui certificação internacional pela Employer Branding Academy
Foto: Aroma de Café Fotografia
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